Faculdade alega aumento de custos para reajuste da mensalidade

O aumento nos custos de manutenção foi a razão alegada pelo membro do Conselho Diretor da Fundação Educacional Lucas ...

23/06/2004 - 00:00
 

Faculdade alega aumento de custos para reajuste da mensalidade

O aumento nos custos de manutenção foi a razão alegada pelo membro do Conselho Diretor da Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), Sérgio Bruno Zech Coelho, para justificar o reajuste de 57% aplicado ao valor das mensalidades do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Ele participou da audiência pública promovida pela Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembléia Legislativa que debateu o assunto nesta quarta-feira (23/6/04), a requerimento do deputado Weliton Prado (PT). O deputado afirmou, na abertura da reunião, que o que impressiona não é só o valor R$ 2.003,00 proposto pela faculdade, mas a maneira como o reajuste foi aplicado: sem negociação.

De acordo com o coordenador do Procon Assembléia, Marcelo Barbosa, em hipótese alguma um órgão de defesa do consumidor poderá aceitar um reajuste desse porte para cobrir rombos nas contas ou aumento nos gastos de uma instituição. "Isso não justifica o reajuste", sustentou. Marcelo Barbosa afirmou ainda que falta regulamentação para o setor e defendeu a necessidade de uma agência reguladora do ensino para acompanhar as planilhas de custos apresentadas por essas entidades.

Sérgio Coelho afirmou que, quando assumiu sua vaga no Conselho Diretor da Feluma, em março de 2003, solicitou uma auditoria externa, que foi realizada por uma empresa internacional. A Feluma é a entidade mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas, que, segundo ele, não tem fins lucrativos. O conselheiro afirmou que o relatório contábil de 2002 apontava lucros que ele duvidava que fossem reais. O relatório da auditoria revelou a existência de uma dívida junto a bancos e fornecedores e um déficit de patrimônio líquido de R$ 16 milhões. No último ano, o prejuízo da Feluma, de acordo com dados apresentados por Sérgio Coelho, teria sido de R$ 6,8 milhões.

O conselheiro informou, ainda, que o Hospital Universitário São José chegou a ser fechado, mas foi reaberto com ajuda da Prefeitura de Belo Horizonte. Sérgio Coelho alegou que as mensalidades da Faculdade de Ciências Médicas estavam defasadas e que, até o ano passado, ela era a faculdade mais barata do Estado, com mensalidades de R$ 1.278.

Pais de alunos querem reajuste justo

O representante dos pais de alunos da Faculdade de Ciências Médicas, Milton da Cunha Safe, afirmou que os pais não querem fugir da responsabilidade do pagamento, mas querem um reajuste justo. "Não existe índice de correção que chegue a 57%", protestou. Para ele, o valor máximo deveria ser R$ 1.700. Ele disse que os pais fazem estimativas de seus gastos com os estudos dos filhos e que um reajuste dessa proporção supera qualquer previsão. Milton Safe acrescentou que, em 2002, quando ele esperava um aumento de 10% no valor das mensalidades, que passariam, segundo seus cálculos, para cerca de R$ 1.450, foi surpreendido com uma redução de 2%, recebendo a boleta com o valor de R$ 1.280. Ele procurou a direção da faculdade, que explicou que a chegada de novos alunos transferidos para a faculdade possibilitou a redução.

No final de 2003, outra surpresa: as mensalidades foram reajustadas de R$ 1.280 para R$ 2.003. Segundo o representante dos pais de alunos, a faculdade aceitou negociar o valor, reduzindo-o em 5%, o que não atendeu ao interesse dos pais. O presidente do Diretório Acadêmico "Lucas Machado" (DALM), Tiago Jeremias dos Anjos, acrescentou que, ao mesmo que o reajuste foi anunciado, os alunos ficaram sabendo que teriam que pagar a matrícula para 2004 em dezembro de 2003, e não em janeiro, como nos anos anteriores. Diante disso, eles entraram na Justiça contra a Faculdade, pedindo o adiamento do prazo de matrícula. A ação foi perdida e 104 alunos não teriam o direito de se matricularem naquele ano, por terem perdido o prazo de matrícula.

Prazo para matrícula foi estendido

De acordo com o presidente da Feluma, Lucas Viana Machado, a decisão da Justiça Federal de impedir a matrícula dos alunos que perderam o prazo foi "chocante". "Pedi então para que o prazo fosse estendido e esses alunos não perdessem o direito de terminar o curso, já que muitos já estavam no último ano", informou. Ele afirmou também que, diante disso, pediu que os alunos assinassem um termo como garantia de que não entrariam com outra ação na Justiça contra o valor das mensalidades. Para garantir a matrícula dos colegas, os alunos assinaram o documento, mas entraram com ação cautelar propondo o valor de R$ 1.450. A juíza acatou o pedido determinando ainda o depósito em juízo de R$ 553.

Excesso de professores - Para o presidente do DALM, Tiago dos Anjos, o enxugamento do quadro docente seria uma das medidas mais urgentes para diminuir os custos da Faculdade. Segundo ele, são 400 professores para um universo de pouco mais de 800 alunos. Segundo o estudante, a Faculdade também mantém convênios com centros de pesquisa e hospitais no interior, que não são utilizados pelos alunos. O diretor da Faculdade, Ludércio Rocha, afirmou que o levantamento técnico das cargas horárias dos professores está sendo feito, mas que o corte de pessoal é um processo demorado, que esbarra em questões trabalhistas.

O diretor Administrativo e Financeiro da Feluma, Fernando Ladeira Aragão, informou que a Faculdade pretende aumentar a receita aumentando o número de vagas e aprimorando os cursos de pós-graduação que já são oferecidos. "O número de alunos é pequeno perto dos serviços oferecidos", afirmou. Ele explicou que a escola mantém alunos em treinamento na zona rural e em ambulatórios.

A presidente da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte, deputada Lúcia Pacífico (PTB), lamentou a ausência de representante do Ministério Público, para onde foi encaminhado o relatório da auditoria feita na escola. "O Código de Defesa do Consumidor preza pela harmonia das relações de consumo, por isso esta comissão é o local adequado para esse debate", defendeu. Segundo ela, é importante ouvir os dois lados. O deputado Weliton Prado afirmou que o objetivo da audiência é buscar um acordo e, por isso, apresentou quatro propostas.

Propostas - Prado sugeriu que a Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte designe um membro para buscar um termo de acordo que ponha fim à ação judicial e, ainda, solicite ao Procon Assembléia estudo técnico sobre o reajuste nas mensalidades. O deputado pediu ainda que fosse enviado ofício ao Ministério Público pedindo que seja instaurado inquérito administrativo para apurar se houve alguma irregularidade cometida pela direção da Feluma ou da Faculdade. Além disso, Weliton Prado propôs que seja enviado requerimento à Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça para que a Feluma apresente comprovação documental para o reajuste. As propostas serão formalizadas em requerimentos e postas em votação em outra reunião da comissão.

Requerimentos aprovados - A comissão aprovou dois requerimentos da deputada Lúcia Pacífico. O primeiro solicita a realização de reunião conjunta das Comissões de Defesa do Consumidor e do Contribuinte e de Meio Ambiente e Recursos Naturais para debater a preservação da área de manancial do Cercadinho. O outro solicita à administração da Assembléia a impressão de 5 mil exemplares do Manual do Consumidor para o Procon Assembléia.

Presenças - Participaram da reunião as deputadas Lúcia Pacífico (PTB), presidente; Vanessa Lucas (vice); e os deputados Antônio Júlio (PMDB); Weliton Prado (PT); Marcelo Gonçalves (PDT); e Adalclever Lopes (PMDB).

 

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