CPI vai pedir a quebra de sigilo de cooperativa de Espera Feliz

A CPI do Café vai pedir a quebra do sigilo bancário e telefônico da Cooperativa Agrícola dos Pequenos Produtores Rura...

18/06/2004 - 00:06
 

CPI vai pedir a quebra de sigilo de cooperativa de Espera Feliz

A CPI do Café vai pedir a quebra do sigilo bancário e telefônico da Cooperativa Agrícola dos Pequenos Produtores Rurais do Vale do Paraíso (Coavap), nos últimos cinco anos anteriores ao fechamento da entidade. Requerimento com esse teor, do deputado Adalclever Lopes (PMDB), relator auxiliar da CPI, foi aprovado na reunião desta sexta-feira (18/6/04), realizada pela comissão em Espera Feliz, na Zona da Mata. Outro requerimento desse parlamentar solicita o envio de ofício à Receita Federal pedindo o levantamento da evolução patrimonial do ex-presidente da cooperativa, sua esposa e filhos, do atual presidente e sua esposa, bem como do ex-contador.

Adalclever Lopes requer também ao Ministério Público, Polícia Civil e SEF, a indicação de membros para fazer inspeção e auditoria física e contábil nos armazéns que a CPI solicitar. Outro requerimento, do deputado Rogério Correia (PT), relator da CPI, solicita que o Ministério da Agricultura e o Banco do Brasil informem se concederam linha de crédito de financiamento à Coavap; e, caso contrário, o motivo de ter sido negada. Foram aprovados ainda requerimentos de outros deputados, para convocar novos envolvidos no caso da cooperativa de Espera Feliz. Nesse município, onde a CPI realizou sua segunda audiência no interior, houve desvio de 216 mil sacas de café da Coavap.

Inquéritos - Cinco inquéritos policiais instaurados para investigar denúncias sobre a Coavap já foram concluídos pela Polícia Civil, que indiciou vários membros da diretoria por crime de apropriação indébita, segundo informou o delegado Waullio Mattos Oliveira. O café armazenado na Coavap era trocado por palha, enquanto a cooperativa mantinha a boa-fé dos produtores divulgando resultados positivos. A Coavap tem sede em Espera Feliz e mantém galpões e escritórios em vários municípios vizinhos em Minas Gerais e até no Espírito Santo. Em novembro do ano passado, a diretoria da cooperativa entrou em liquidação extrajudicial, o que suspendeu as ações de execução e de depósito que estavam sendo movidas pelos produtores lesados.

Recentemente, os inquéritos policiais tiveram pedido de diligência por parte do Ministério Público. De acordo com o promotor de Justiça de Espera Feliz, Edgar Augusto Alves dos Santos, foi necessário atrasar a conclusão dos inquéritos porque, para ele, o enquadramento deve ser de crime de estelionato, já que os envolvidos podem ter obtido vantagem nas transações, e mesmo formação de quadrilha. O promotor pediu que fossem anexadas às investigações cópias de contratos das vítimas com a cooperativa, para checar a relação jurídica efetiva entre eles; de atas de assembléias; e de auditorias feitas na Coavap, que indicariam balanço positivo.

Novas providências para ajudar apurações

Outras providências importantes, para o promotor, seriam a realização de uma perícia contábil na cooperativa, a quebra do sigilo bancário dos envolvidos e uma busca pelos cartórios de imóveis para verificar possíveis propriedades adquiridas. "Os produtores eram iludidos, porque a diretoria tinha uma fachada de boa gestão", afirmou, sem descartar a possibilidade de a liquidação da empresa ter sido usada de modo oportunista. "A repercussão social desse caso é enorme. A cooperativa era o referencial da cidade; hoje, é a vergonha", definiu o representante do MP. Os inquéritos policiais foram reunidos para que tramitassem com mais agilidade.

Os deputados Rogério Correia, relator da CPI, e Durval Ângelo, ambos do PT, apresentaram ao promotor cópias de documentos, como entrevistas de enaltecimento da situação financeira da cooperativa; publicações que tratam de certidão negativa de débito, quando já haveria dívida da cooperativa na Fazenda Estadual; e, ainda, uma auditoria feita por uma empresa de consultoria que já constatava dívidas de R$ 20 milhões.

O promotor foi questionado sobre um possível uso eleitoral da cooperativa, que teria sido feito pelo prefeito de Espera Feliz, Tarcísio Maria de Lacerda. "Não temos qualquer prova disso, mas é fator a ser considerado porque o período eleitoral coincide com a decadência da cooperativa", salientou. Edgar Alves dos Santos relatou ainda denúncias de que membros da Coavap teriam contraído empréstimos no Banco do Brasil com aval da cooperativa.

Prefeito nega uso político

O prefeito de Espera Feliz, Tarcísio Maria de Lacerda, que foi fundador da Coavap e a dirigiu até 1997, afirmou que está totalmente afastado da cooperativa e não tinha conhecimento da dimensão da crise. "Até 1997, eu era responsável por fechar o estoque físico com a contabilidade e não havia qualquer problema", disse. Tarcísio de Lacerda negou qualquer denúncia de uso eleitoral da Coavap, enquanto era membro ou após ter saído. Também afirmou que, na diretoria dele, não foi contraído financiamento federal próprio ara cooperativas em dívidas porque a situação na época era estável.

O deputado Rogério Correia questionou se é verídico o fato de uma cooperativa, pertencente ao deputado federal Carlos Melles (PFL-MG), poder usar a estrutura da Coavap para comercializar café dos produtores da região. O prefeito respondeu que foi dele, juntamente com os liqüidantes da cooperativa, a iniciativa de procurar o parlamentar federal para ajudar os produtores, e que as negociações estão em estudo.

Vitolina Soares Barcelos Costa, contadora da cooperativa desde setembro de 2002, mês em que o déficit foi constatado pelos produtores que ali estocavam seus produtos, afirmou que toda a circulação de mercadorias era feita com nota fiscal. Ela diz desconhecer como foram desviadas as 216 mil sacas e confirmou que a cooperativa tomava emprestado do produtor o dinheiro da venda do café. Vitolina reconheceu que a realidade contábil é diferente do que de fato constava do armazém, mas afirmou não saber explicar o motivo, pois trabalharia apenas com escrituração fiscal naquela época. Os deputados disseram que irão convocar o responsável pela contabilidade da Coavap para reunião na Assembléia.

Dificuldades - O diretor financeiro da cooperativa, Dejacinto Valentin, disse que a Coavap já enfrentava dificuldades financeiras há cerca de cinco anos, apesar de essas informações não serem divulgadas nas assembléias com os associados.  "Em 2001, as dificuldades passaram a ser incontroláveis. A cooperativa viveu crise muito forte, pagou muitos juros a bancos e cooperados", afirmou, ao ser questionado sobre o porquê de ser mantida a fachada de lucro. Segundo ele, o desvio na cooperativa seria de cerca de 40 mil sacas. Outros membros da antiga diretoria e conselho da Coavap prestaram depoimento à CPI, que prossegue as investigações na próxima quinta-feira (24).

Presenças - Participaram da reunião os deputados Sebastião Navarro Vieira (PFL), presidente; Rogério Correia (PT), relator; Adalclever Lopes (PMDB), relator auxiliar, a quem foi passada a relatoria do caso de Espera Feliz; Durval Ângelo (PT) e Fábio Avelar (PTB). A reunião foi acompanhada ainda pelo procurador de Justiça André Ubaldino e pelo técnico da Fazenda Estadual Cássio Graysson Martins Novaes.

 

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