Deputados defendem fórum para discutir patologias crônicas

A necessidade de se realizar um fórum para debater doenças de alta e média complexidades e de adotar políticas públic...

17/06/2004 - 00:00
 

Deputados defendem fórum para discutir patologias crônicas

A necessidade de se realizar um fórum para debater doenças de alta e média complexidades e de adotar políticas públicas para o setor foram pontos concordantes entre os convidados e deputados que compareceram à reunião desta quinta-feira (17/6/04) da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa. O encontro foi marcado a pedido do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) para debater especificamente a situação do atendimento aos portadores de esclerose múltipla, mas os participantes apontaram a necessidade de se adotar um protocolo mínimo de atendimento para as doenças crônicas, e não apenas para a esclerose múltipla, para racionalizar o sistema.

"Os problemas no atendimento aos portadores de esclerose múltipla não são específicos e acontecem com pacientes de um rol de doenças. Por isso é necessário organizar um fórum para essa discussão", disse o superintendente de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Benedito Scaranci Fernandes. Ele defendeu ainda a necessidade de se discutir, no fórum, a assistência médica aos portadores dessas doenças, apesar de afirmar que "a legislação é clara no sentido de que a competência pela assistência é dos municípios".

A coordenadora de Atenção a Adultos da Secretaria Municipal de Saúde, Maria Cecília Rajão, também defendeu a necessidade do fórum e assumiu o compromisso de participar da discussão sobre esclerose múltipla e outras "patologias mutilantes". O médico neurologista Marcos Moreira também entendeu a preocupação de todos de adotar um protocolo mínimo para as doenças crônicas e o deputado Neider Moreira (PPS), um dos parlamentares que sugeriram essa discussão, destacou que todos concordaram com esse fórum. "Com a criação dos protocolos mínimos vai ser possível aumentar o poder de fiscalização e cobrança do poder público e uma maior atuação da sociedade civil", afirmou o deputado.

A realização desse fórum será uma luta da Comissão de Saúde, segundo seu presidente, deputado Ricardo Duarte (PT). Ele explicou que tentou realizar um encontro para discutir os medicamentos para doenças de alta complexidade. "Não conseguimos marcar esse fórum em tempo hábil, mas vamos ampliar a discussão e marcar um para tratar do protocolo mínimo para doenças crônicas", informou.

Centros de referência não têm apoio federal

Um dos centros de referência do tratamento da esclerose múltipla, que funciona sem o apoio oficial do Ministério da Saúde, é o Centro de Investigação em Esclerose Múltipla de Minas Gerais (Ciem) da UFMG. O médico neurologista coordenador do Ciem, Marco Aurélio Lana, lembrou que não existe nenhum centro oficial do governo federal simplesmente porque o Ministério da Saúde não faz o credenciamento. Ele defendeu que centros como Ciem não podem continuar na marginalidade, sem receber suporte financeiro para trabalhar.

A existência desses centros de assistência é fundamental porque o tratamento da esclerose múltipla não se resume apenas aos medicamentos. Segundo os médicos neurologistas Marco Aurélio Lana e Marcos Moreira, o restante do tratamento é feito com serviços como neuropsicologia, fisioterapia, fonoaudiologia e hidroginástica. A esclerose múltipla é uma doença do sistema nervoso central, lentamente progressiva, que se caracteriza pela perda da substância mielina, que envolve os nervos no crânio e medula espinhal, dando lugar a sintomas e sinais neurológicos variados e múltiplos.

O médico do Ciem, Vítor Haasi, apontou os principais problemas recorrentes no tratamento dos portadores da doença. "O Ciem preocupa-se primordialmente com o programa de reabilitação dos pacientes, mas há barreiras que impedem esse tratamento, como falta de uma legislação específica para os portadores da doença e o transporte dos portadores, que necessitam quase diariamente de ir ao centro", afirmou o médico.

Outro problema apontado por Haasi foi a municipalização da saúde. "Há muitos conflitos e burocracia para encaminharmos pacientes para exames complexos. O tratamento e o paciente ficam prejudicados", comentou o médico. Segundo a coordenadora de Atenção a Adultos da Secretaria Municipal de Saúde, Maria Cecília Rajão, o Programa de Saúde da Família (PSF) pode dar o suporte básico aos portadores de esclerose múltipla. "O programa trabalha com médicos, enfermeiros e psicólogos, que podem ajudar na reabilitação dos pacientes. Mas é importante a parceria com centros especializados, para atendermos de forma eficaz os portadores da doença", afirmou a coordenadora.

Política de atendimento de patologias crônicas

Alguns participantes da reunião defenderam ainda a adoção de políticas públicas para tratar doenças crônicas como a esclerose múltipla. Para a diretora do Centro de Reabilitação da Fhemig, Maria Aparecida Rodrigues, seria necessária a adoção de políticas públicas para integrar o conhecimento e otimizar os recursos financeiros. "Dessa forma teríamos melhores resultados", opinou. O diretor do Sind-Saúde, Paulo Roberto Venâncio de Carvalho, também defendeu a necessidade da criação de políticas específicas para o tratamento dos portadores da doença: "Mais que fornecer medicamentos, é necessário o acompanhamento médico. Os poderes públicos têm de assumir responsabilidades e regular o tratamento dos pacientes".

O deputado Neider Moreira foi outra voz favorável a uma política nacional de atendimento dessas patologias. "Temos a obrigação de zelar pela qualidade de vida da população", disse o deputado. A representante da Associação de Apoio aos Portadores de Esclerose Múltipla, Raquel Carvalho Leite, fez um apelo para que sejam unidas forças para adotar políticas públicas.

Nesse sentido, o deputado Adelmo Carneiro Leão, solicitou que seja realizada nova reunião da comissão para discutir o financiamento da saúde no Estado e como estão sendo destinados os recursos públicos municipais e federais. O deputado Ricardo Duarte lembrou que a escassez de financiamento se deve em parte à insensibilidade do governo estadual e citou a disparidade de realidades. Segundo ele, o orçamento do Estado de Minas Gerais no setor de saúde - R$ 840 milhões - é o mesmo que o Hospital das Clínicas da USP.

Presenças - Compareceram à reunião o deputado Ricardo Duarte (PT), presidente; e os deputados Neider Moreira (PPS), Adelmo Carneiro Leão (PT), Célio Moreira (PL) e Carlos Pimenta (PDT).

 

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