Pesquisa e políticas públicas podem desenvolver cerrado

A necessidade de unir esforços no estabelecimento de políticas públicas que garantam o desenvolvimento sustentável do...

14/06/2004 - 00:00
 

Pesquisa e políticas públicas podem desenvolver cerrado

A necessidade de unir esforços no estabelecimento de políticas públicas que garantam o desenvolvimento sustentável do cerrado foi defendida pelo deputado Wanderley Ávila (PPS), que representou o presidente da Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB), na abertura do Fórum Técnico "Cerrado Mineiro - Desafios e Perspectivas", nesta segunda-feira (14/6/04). "O cerrado é hoje a última fronteira agrícola do Estado", destacou o deputado, mencionando que, há 30 anos, a região era considerada pouco produtiva, sendo aproveitada para o extrativismo e para a agricultura familiar. Segundo Wanderley Ávila, as pesquisas contribuíram para que o potencial econômico do cerrado fosse descoberto. "O cerrado é um dos maiores patrimônios naturais de Minas Gerais, cobrindo cerca de 50% do Estado e quase 25% do território brasileiro", informou.

Segundo o deputado Ricardo Duarte (PT), a preocupação com o adiantado estado de devastação do cerrado, e com o pouco conhecimento científico que se tem desse bioma, motivaram a realização do fórum técnico. "O cerrado é hoje responsável por 25% da produção brasileira de cereais", informou o autor do requerimento solicitando o evento. "Mas isso teve um custo para o meio ambiente", lamentou. Segundo ele, os empresários não têm demonstrado muito interesse em recompor o cerrado com vegetação nativa. "Hoje a opção mais adotada tem sido o plantio de eucalipto, que cresce mais rápido. No entanto, esse método prejudica a biodiversidade", enfatizou.

Ricardo Duarte também defendeu ações efetivas de monitoramento e pesquisa que possam garantir a preservação do bioma. "Só a ciência agrega valor à biodiversidade", afirmou. Segundo ele, cada vez mais a indústria farmacêutica prioriza os recursos naturais, como plantas e toxinas, para servirem de matérias-primas na fabricação de medicamentos.

Pesquisa intensiva e assistência técnica garantem produtividade

O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Derli Prudente Santana, foi o primeiro expositor da manhã. Ele iniciou sua palestra dizendo que geralmente não se dá a devida importância ao Cerrado, que é o 2º maior bioma brasileiro. "Não se preocupa com cerrado como com a Amazônia ou a Mata Atlântica", reclamou. Na opinião dele, políticas governamentais adequadas, pesquisa intensiva e assistência técnica são decisivas para o desenvolvimento da região. Segundo Derli Prudente, esses fatores são capazes de reverter a tendência natural de baixa produtividade agrícola do cerrado, como vem acontecendo em várias partes do país. O cerrado é composto por regiões secas, com déficit hídrico em vários meses e solos pobres. Mas a topografia plana ou levemente ondulada favorece a mecanização agrícola.

O pesquisador da Embrapa também citou o melhoramento genético de milho, soja e braquiaria, como responsável pelo aumento de produtividade no cerrado mineiro. Na opinião dele, o caminho é continuar investindo na adaptação de espécies que podem ser altamente produtivas em solos ácidos. Segundo Derli, há, no Brasil, cerca de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser aproveitadas para plantio de grãos e pastos, sem ter que derrubar nenhuma árvore. Ele também ressaltou o aumento da produção de café: "até pouco tempo se pensava que era impossível produzir café no cerrado; hoje o café colhido ali ocupa cada vez mais espaço no cenário nacional, sendo considerado o de melhor qualidade do país".

Vários cerrados - As estratégias de sustentabilidade para se produzir no cerrado ocuparam boa parte da exposição de Derli Prudente. Na opinião dele, ainda são desafios o uso indiscriminado da água, o assoreamento de rios e nascentes e a própria monocultura, aplicada em várias regiões. Para o pesquisador, é preciso levar em consideração que a região do cerrado mineiro não é homogênea e que as diferenças se refletem na produtividade econômica e na própria sustentabilidade do ambiente. "Na verdade, existem vários cerrados; os desafios são diferentes e as soluções para os problemas também", disse. Segundo Derli Prudente, para o bom aproveitamento do cerrado é preciso "pensar global e agir o mais localmente possível".

O pesquisador propôs que se invista em iniciativas como o Clube de Amigos da Terra (CAT), já instalado em algumas cidades mineiras, que vêm desenvolvendo alternativas de plantio direto, cobertura de solo e rotação de culturas, técnicas capazes de preservar e até mesmo enriquecer o solo ácido. Na opinião de Derli Prudente, é preciso valorizar os conhecimentos regionais, investindo também no produtor rural como "guardião dos recursos naturais'.

 

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