Direitos Humanos ouve denúncias em Montes Claros

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa ouviu, nesta quarta-feira (9/6/04), denúncias de trabalhador...

09/06/2004 - 00:02
 

Direitos Humanos ouve denúncias em Montes Claros

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa ouviu, nesta quarta-feira (9/6/04), denúncias de trabalhadores rurais acampados em fazendas no Norte de Minas que estariam sendo ameaçados por jagunços armados pelos proprietários rurais da região e até por policiais a serviço dos latifundiários. A reunião foi realizada na Câmara Municipal de Montes Claros, que ficou lotada de trabalhadores sem terra. Os integrantes dos movimentos de luta pela terra receberam os deputados com palavras de ordem reivindicando agilidade na reforma agrária. O autor do requerimento para a realização da reunião foi o deputado Durval Ângelo (PT), a partir de uma denúncia de tortura sofrida pelo trabalhador rural Eliezer Mendes Lima.

Presente à reunião, Eliezer relatou que, no dia 17 de abril, levava em sua moto um passageiro rumo ao povoado de Tapira, quando foi abordado por um homem em traje civil que lhe pediu a documentação da moto. Eliezer pediu ao homem que se identificasse e ele então o teria agredido. O homem teria lhe dito que era policial militar, o levou para o destacamento da PM em Coração de Jesus e depois para a delegacia da cidade, onde teria sido espancado com um saco plástico amarrado à cabeça. "Nessa hora eu tive medo de morrer", contou. Eliezer diz que hoje sente-se constrangido ao passear pelas ruas do povoado de São Joaquim. "Agora eu sou conhecido como o rapaz que foi preso", diz. Depois desse episódio, Eliezer aderiu ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, um dos inúmeros movimentos de luta pela reforma agrária que proliferam na região.

ONG e CPT sofrem ameaças

Às ocupações de terra, muitos fazendeiros da região têm reagido com ameaças intimidadoras. Na última segunda-feira (7), militantes da ONG Fian e da Comissão Pastoral da Terra foram recebidos a bala na fazenda Canoas, quando tentavam fotografar os jagunços armados que guardam a entrada da propriedade. "Um dos homens armados chamou um outro, alto e bem vestido, que veio em nossa direção e disparou duas vezes contra o carro", conta a belga Priscila Clays, integrante da ONG. Os cinco passageiros nem chegaram a descer do carro para fazer as fotos, que não permitem identificar com precisão quem foi o autor dos disparos. Ninguém ficou ferido, mas o incidente foi registrado na polícia e levado a autoridades federais. A Fian é uma ONG internacional que está visitando o Brasil para verificar violações aos direitos humanos. O relatório da visita a Minas Gerais, Pernambuco e Pará será levado à Organização das Nações Unidas.

Em entrevista à imprensa local, o dono da fazenda, Ataliba Proença, nega a agressão e diz que os estrangeiros confundiram o barulho feito por dois rojões soltos quando eles pararam em frente à fazenda. No ano passado, durante uma visita da Comissão de Direitos Humanos a Montes Claros, o Ministério Público flagrou a existência de jagunços armados na fazenda Canoas e na vizinha Sanharó, de propriedade de Alceu Proença, irmão de Ataliba, para intimidar os acampados do MST na região. Um mandado de busca e apreensão de armas foi expedido, mas a Polícia Militar levou 40 dias para cumpri-lo. "Essa situação conflituosa não é vista pelas autoridades de Montes Claros", criticou o promotor Afonso Henrique de Miranda Teixeira, da Promotoria de Conflitos Agrários, que acusa a PM de ser conivente com os fazendeiros.

Envolvimento de policiais

Policiais militares estariam servindo inclusive como emissários de ameaças a lideranças dos acampamentos da região. O presidente da Associação dos Trabalhadores do Acampamento Pé da Serra, em Japonvar, Augusto Ferreira Fraga, mostrou uma carta com ameaças de morte assinada pelo fazendeiro Diógenes Martins Pereira. "A primeira invasão será combatida a bala. Tomo os cuidados devidos. Quem mata bandido não é criminoso", diz o documento, com assinatura e firma reconhecida, que teria sido entregue por um policial identificado apenas por "Soares".

O deputado Durval Ângelo (PT) criticou a conivência das polícia Civil, Militar e Federal com os fazendeiros da região e condenou a vigilância das fazendas por jagunços armados. O deputado Biel Rocha (PT) propôs uma audiência com o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, para cobrar providências. A idéia foi transformada num requerimento de sua autoria. Foram aprovados ainda outros três requerimentos de autoria coletiva, pedindo às corregedorias das polícias Civil e Militar o afastamento dos policiais envolvidos nas irregularidades relatadas; solicitando uma audiência com o ministro da Justiça, o presidente do Incra e o procurador-geral da República para discutir o assunto; e elaborando uma manifestação de apoio à Fian.

Requerimentos aprovados

Foram aprovados ainda outros dois requerimentos:

* Do deputado Durval Ângelo, pedindo a realização de audiências públicas em todas as regionais de Belo Horizonte para discutir a importância da implantação do método Apac;

* Do deputado Roberto Ramos (PL), para discutir os problemas de segurança enfrentados pela população de Manga, cidade que não tem juiz, delegado de polícia nem promotor.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; e Biel Rocha (PT). Também estiveram presentes o presidente do Iter, Luiz Chaves, e a ouvidora regional do Incra, Moema de Fátima Sales Rocha, além do promotor de Montes Claros, Felipe Gonçalves.

À tarde, a comissão vai fazer uma reunião secreta para apurar denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes em Montes Claros.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715