Juiz aponta falhas do Judiciário e defende reforma desse Poder

No Brasil não faltam juízes, os salários da magistratura são bons, o orçamento é suficiente, os prédios, a assessoria...

09/06/2004 - 00:00
 

Juiz aponta falhas do Judiciário e defende reforma desse Poder

No Brasil não faltam juízes, os salários da magistratura são bons, o orçamento é suficiente, os prédios, a assessoria e a tecnologia são adequados. A verdadeira causa da morosidade da Justiça e do excesso de trabalho no Judiciário pode ser resumida na estrutura arcaica e na recorribilidade excessiva. Esta é a tese defendida pelo professor Antônio Álvares da Silva, doutor em Direito e juiz do Tribunal Regional do Trabalho, que lançou seu livro "Reforma do Judiciário: uma Justiça para o Século XXI" na noite de terça-feira (8/6/2004), no Teatro da Assembléia.

Antônio Álvares da Silva foi convidado para debater o tema em reunião extraordinária da Comissão de Direitos Humanos, por seu presidente, o deputado Durval Ângelo (PT), que prefaciou a obra. Ao apresentar o conferencista, Durval Ângelo disse que o livro surgiu praticamente de uma provocação que teria feito ao autor numa reunião há quatro anos. "Discutíamos a crise do Judiciário brasileiro e os 77 artigos da Constituição que tratam dos direitos e garantias individuais. Sugeri ao professor que escrevesse uma obra que pudesse ser lida não apenas pelos operadores do Direito, mas por todas as pessoas comprometidas com a construção de uma sociedade melhor".

Para uma platéia constituída em sua maioria por juízes e operadores do Direito, Antônio Álvares expôs suas idéias e pediu que fossem avaliadas sem corporativismo. Inicialmente, revelou que os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal teriam que julgar, cada um deles, 39 ações por dia. "Teriam que ser atletas intelectuais, e por isso vivem sobrecarregados. No mesmo período, a Supreme Court dos Estados Unidos julgou apenas 70 a 80 acórdãos", informou. Também o Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal Superior do Trabalho estariam igualmente sobrecarregados.

Juízes dos EUA julgam sete vezes mais que brasileiros

Álvares disse que a Justiça de primeiro grau recebe 12,2 milhões de processos por ano. Cerca de 1,7 milhão sobem ao segundo grau, e 500 mil vão aos tribunais superiores, "que perdem tempo em arbitrar até briga de cachorro". Para ele, a Justiça de 1º grau é a infantaria do Judiciário, e deveria ter o poder ampliado para resolver praticamente todas as questões de fato.

"O Brasil tem 17 mil juízes, na proporção de 1/10 mil habitantes, o que é razoável, se comparado aos Estados Unidos, que tem 1/6.500. Acontece que os juízes americanos julgam sete vezes mais ações que os brasileiros, devido ao seu pragmatismo e sua agilidade. Os salários no Brasil também são dignos: R$ 17,3 mil para um Ministro do STF e R$ 15,6 para um desembargador estadual. O verdadeiro problema está no sistema, que precisa mudar", defendeu o professor.

Para aliviar a sobrecarga do Judiciário, ele propõe que na base haja órgãos de informação e conciliação onde as pessoas possam buscar informação básica capaz de evitar que entrem desnecessariamente em Juízo. Depois, juizados especiais cíveis, federais e trabalhistas julgariam as causas, com câmaras recursais compostas por juízes veteranos. Para desestimular os recursos indevidos à instância superior, haveria multa automática para quem perdesse. Os tribunais superiores seriam extintos e substituídos por uma Corte Constitucional, que só trataria das grandes causas.

Entre outras críticas, Álvares reclama dos "odiosos conflitos de competência" e das longas sentenças que refletem sobre o Direito. "Lugar de reflexão é na faculdade. O Judiciário é lugar de decisão", definiu. Também se posicionou a favor das súmulas de efeito vinculante, mas só para a corte suprema, e a favor do controle administrativo do Judiciário. "Se houvesse algum cidadão questionando a obra do TRT de São Paulo, provavelmente o juiz Lalau não teria conseguido desviar tanto dinheiro. O que não podemos admitir é o controle da pessoa do juiz", defendeu.

Ao final da conferência, Álvares da Silva ouviu palavras de incentivo de importantes magistrados presentes, como Carlos Levenhagen, Reinaldo Ximenes, Doorgal de Andrada e Arnaldo Esteves Lima.

Presença - Participou da reunião o deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão.

 

 

 

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