Deputados buscam em Pirapora propostas para fórum
técnico
Em busca de propostas que possam contribuir para o
Fórum Técnico "Cerrado Mineiro - desafios e perspectivas", que será
realizado nos dias 14 e 15 de junho na Assembléia Legislativa, os
deputados Ricardo Duarte (PT) e Wanderley Ávila (PPS), se reuniram
na sexta-feira (4/6/04) com professores, estudantes, pesquisadores e
representantes de ONGs que participavam do II Encontro Regional dos
Povos do Cerrado, em Pirapora. Os deputados pretendem acrescentar as
sugestões extraídas do encontro, organizado pela Unimontes,
Universidade Federal de Uberlândia, prefeitura de Pirapora e pelo
Centro para Conservação da Natureza, às propostas elaboradas durante
o encontro regional para o fórum técnico, ocorrida no dia 21 de
maio, em Uberlândia.
Para o deputado Wanderley Ávila, a discussão
precisa partir do cerrado. "O povo do cerrado é que tem que falar da
sua realidade. Eles já despertaram para a necessidade da
preservação". O deputado Ricardo Duarte, autor do requerimento para
a realização do fórum técnico sobre o cerrado, pediu às entidades
que mobilizassem os participantes do encontro de Pirapora para
redigirem uma carta dos povos do cerrado para ser apresentada
durante o Fórum Técnico sobre o cerrado mineiro. "Acreditamos que
este fórum produzirá subsídios necessários à adoção de políticas
governamentais e ações legislativas voltadas para a preservação e o
manejo racional de recursos existentes no cerrado, além do aumento
do conhecimento científico sobre o ecossistema", afirmou.
A importância de reunir as entidades, os
pesquisadores do cerrado e a comunidade foi destacada, durante a
reunião, pela coordenadora do campus da Unimontes em Pirapora e do
Encontro dos Povos do Cerrado, Andréa Narciso. "É preciso que cada
um assuma sua responsabilidade na preservação do cerrado",
destacou.
Conferência aborda potencial turístico do cerrado
A exploração inadequada dos recursos naturais desde
os tempos do Brasil colônia foi apontada pelo deputado Ricardo
Duarte como a causa principal da destruição da vegetação, da
extinção de espécies nativas e do empobrecimento da biodiversidade.
Ele participou da conferência sobre aspectos geo-ambientais e
potencialidades turísticas do bioma do cerrado, na manhã da
sexta-feira, que fazia parte da programação do encontro dos povos do
cerrado. O deputado destacou que o cerrado, que até os anos 70 era
visto como uma área de reduzido potencial agropecuário, é hoje
responsável por 25% da produção de cereais no Brasil.
Os professores Adolf Herinch Horn, doutor do
Instituto de Geociências da UFMG, e Hermano Baggio Filho, da
Unimontes-Pirapora, defenderam a necessidade de se conhecer a
geologia do cerrado. "As rochas, o solo, o relevo e as águas
subterrâneas precisam ser levados em consideração nas discussões
sobre o cerrado", destacou Baggio. Segundo ele, faltam dados para
assentar melhor o homem do cerrado. Argumento semelhante foi
defendido pelo professor Adolf, que acredita que é necessário
conhecer a estrutura geológica da região para entender toda a
diversidade do bioma.
Turismo - O professor do
Instituto de Geociências da UFMG, Bernardo Gontijo, disse que o
turismo no cerrado não pode ser encarado apenas como atividade
econômica. Para ele, a palavra ecoturismo foi banalizada. "Não há
preocupação com a sustentabilidade. O cerrado tem um enorme
potencial turístico pela diversidade de sua fauna e flora, mas a
atitude do turista também precisa mudar, para que haja respeito com
o meio ambiente", afirmou. Ele acredita ainda que o turismo no
cerrado é subaproveitado porque os roteiros brasileiros são muito
voltados para o mar.
Na fase de debates, Marily da Cunha Bezerra, da
Casa da Cultura do Sertão, de Morro da Garça, apresentou o Circuito
Turístico Guimarães Rosa, regulamentado pela Secretaria de Estado de
Turismo em fevereiro deste ano. Fazem parte do circuito os
municípios de Araçaí, Cordisburgo, Curvelo, Morro da Garça, Corinto,
Lassance e Três Marias/Andrequissé. "O objetivo é oferecer roteiros
de viagens para os lugares onde se passa a obra de Guimarães Rosa, o
porta-voz do cerrado", explicou. Os roteiros incluem ainda as festas
religiosas e populares, e o artesanato das pequenas localidades do
sertão, sempre na visão do escritor.
Para o ex-professor e pesquisador do cerrado, Ivo
das Chagas, as águas são o maior potencial do cerrado. "Sem água não
há turismo", afirmou. Ele defendeu a implantação de um programa
nacional e mineiro para a preservação das veredas e ações de
proteção sobretudo às nascentes, além de medidas de incentivo ao
turismo científico.
Impacto social da ocupação do cerrado é tema de
palestra
O professor do Departamento de Geografia da
Faculdade de Filosofia da USP, doutor Ariovaldo Umbelino de
Oliveira, palestrante de quinta-feira (3), afirmou que a soberania
alimentar do Brasil está ameaçada com o agronegócio. Segundo ele,
desde 1990 o produção de alimentos básicos - arroz, feijão, milho e
mandioca - não aumentou. "A lógica do agronegócio tem sido
individual, e não social. A vantagem econômica da exportação é só
aparente, porque o Brasil terá que importar produtos básicos para
alimentar a população. A soberania alimentar está sendo
desestabilizada", alertou.
De acordo com o professor, que participou da equipe
que elaborou o 2º Plano Nacional de Reforma Agrária, no governo
Lula, existe um mito de que as grandes propriedades produzem mais.
Ele citou o exemplo do café. Segundo ele, 75% da produção vêm das
pequenas unidades - até 2 mil hectares. "O agronegócio é mantido
pelas pequenas e médias propriedades. No Brasil existem 120 milhões
de hectares de terras improdutivas nas grandes propriedades",
afirmou.
O assessor do governo de Minas para Assuntos
Indígenas, Aílton Krenak, manifestou sua preocupação com as
conseqüências da ocupação desordenada do cerrado para a medicina. "O
que as pessoas procuram hoje nos supermercados, os antigos
encontravam no cerrado, onde existem vários microambientes",
comparou. Na opinião de Krenak, precisam ser estabelecidas condições
para o uso adequado do cerrado e para a ocupação ordenada do
bioma.
Os efeitos da ocupação humana, que modificou a
paisagem do cerrado, foram destacados pelo deputado Wanderley Ávila,
que representou o presidente da Assembléia, deputado Mauri Torres
(PSDB), na abertura do evento, realizada numa tenda na margem do Rio
São Francisco. Lendo mensagem do presidente, ele mencionou a
preocupação com a preservação dos mananciais e da biodiversidade, já
tão ameaçada na região, e convidou os participantes do Encontro dos
Povos do Cerrado para o Fórum Técnico da Assembléia. O evento tem o
objetivo de buscar políticas públicas que garantam o desenvolvimento
sustentável do cerrado.
|