Conferência Estadual debate políticas públicas para mulheres
A subsecretária de Monitoramento de Programas e
Ações Temáticas da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
do governo federal, Suely de Oliveira, disse que os temas debatidos
na I Conferência Estadual de Políticas para as Mulheres vão
possibilitar a reflexão sobre as desigualdades e dificuldades
sofridas pelas mulheres brasileiras, auxiliando a formulação de
políticas públicas e o envolvimento de vários segmentos sociais.
Suely de Oliveira participou da abertura do evento, nesta
segunda-feira (7/6/04), no Plenário da Assembléia Legislativa. O
encontro é a etapa estadual da Conferência Nacional que se realiza
em Brasília, em julho.
A Conferência foi aberta pelo presidente da
Assembléia, deputado Mauri Torres (PSDB). Os objetivos da
Conferência Estadual, realização conjunta do Legislativo de Minas,
da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedese) e do Conselho
Estadual da Mulher, são formular diretrizes das políticas para as
mulheres, discutir prioridades para os próximos anos e eleger
delegadas para o encontro nacional. À tarde, sete grupos de
trabalhos debatem temas diversos relacionados à temática da mulher.
A plenária final será realizada na manhã da terça-feira (8).
Além das deputadas Ana Maria Resende (PSDB),
coordenadora dos debates, Jô Moraes (PCdoB), Marília Campos, Maria
Tereza Lara e Maria José Haueisen, todas do PT, participaram da
abertura diversas representantes de entidades que lutam pelos
direitos das mulheres. Quase 600 delegadas eleitas em conferências
municipais para representar os municípios também integram as
atividades. No discurso de abertura do presidente Mauri Torres, lido
pela deputada Ana Maria Resende, ele ressaltou que o evento faz
parte de uma mobilização nacional, que tem por objetivo lutar por
direitos iguais entre homens e mulheres. "As exposições, os debates
e as propostas aqui apresentadas têm significado ainda maior pelo
fato de 2004 ter sido instituído, por Lei Federal, o ano da mulher
no Brasil", leu a parlamentar.
As desigualdades recorrentes em vários campos
também foram citadas: "Apesar do expressivo aumento da participação
feminina no mercado de trabalho, o valor médio dos salários no
Estado não chega a 70% do pago aos homens. No plano político, elas
estão longe de alcançar a cota de 30% assegurada por lei, além da
discriminação em áreas como educação e saúde", completou.
Subsecretário ressalta direitos humanos
O subsecretário de Direitos Humanos da Secretaria
de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes (Sedese), João
Batista de Oliveira, afirmou que os direitos das mulheres estão
atrelados aos direitos humanos. "Acredito, piamente, que as questões
das mulheres só poderão ser realmente enfrentadas com
responsabilidade, por meio da visão dos direitos humanos como um
instrumental da justiça social, que só se efetiva quando concebido
como uma rede de direitos marcados pela universalidade e
indivisibilidade", afirmou. João Batista elogiou a participação das
mulheres no Estado: "Quando olho para este plenário e vejo tantas
mulheres reunidas em torno da temática desta conferência, vejo que é
imenso o poder de mobilização. Este é o caminho para a discussão da
realidade brasileira e o caminho para a proposição de políticas
públicas positivas para as mulheres brasileiras". O secretário
interino da Sedese, Paulo Breguncci, comentou sobre a necessidade da
participação das mulheres em todos espaços, mas sem
discriminações.
Também a presidente do Conselho Estadual da Mulher,
Luziana Lanna, destacou a realização da Conferência Estadual como
instrumento de encaminhamento das propostas e políticas criadas para
a melhoria da vida das mulheres. "Em um país onde mais de 50% das
famílias de baixa renda são sustentadas por mulheres, temos de
buscar igualdade de tratamento", salientou Luziana Lanna.
Expositoras ressaltam papel de grupos sociais
A primeira expositora da I Conferência Estadual de
Políticas para as Mulheres, a cientista política e professora de
História da Univale, Margarida Vieira, defendeu a implementação e
fiscalização das políticas públicas voltadas para gênero, aliadas a
mudanças básicas na política econômica do País, como forma de
promover um desenvolvimento igualitário entre homens e mulheres. "No
mundo inteiro, os avanços nessa área resultam de lutas históricas",
destacou, lembrando também a importante atuação política de grupos
sociais, como associações de bairro, nesse sentido. Segundo ela, as
principais dificuldades da participação feminina são focadas na
relação da mulher com o poder, devido ao modelo patriarcal que ainda
vigora, e com o trabalho, marcado por discriminação, dupla jornada e
menor remuneração, principalmente para negras e pardas.
Já Jacqueline Pitanguy, coordenadora da ONG Cépia
(Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação), apresentou um
histórico sobre a trajetória de conquistas das políticas de gênero
no Brasil e no mundo. Segundo Pitanguy, a caminhada do movimento
feminista no Brasil começou em 1975, ainda em plena ditadura
militar, quando a ONU decretou o Ano Internacional da Mulher e um
grande encontro realizado no Rio de Janeiro promoveu os primeiros
debates sobre o assunto.
Na década de 80, continuou a expositora, as
políticas de gênero foram se institucionalizando, em função também
do grande impacto que se deu com a transformação do conceito de
direitos humanos. "A Constituição de 88 foi um grande marco
normativo igualitário para homens e mulheres, em assuntos como união
conjugal, trabalho e violência interfamiliar", enfatizou. Já na
década de 90, na opinião de Jacqueline Pitanguy, a principal
característica da luta pelos direitos das mulheres foi a
internacionalização das agendas públicas nesse sentido. Exemplos
disso seriam conferências mundiais que promoveram grandes e
ampliadas discussões.
Ao final de sua exposição, Jacqueline Pitanguy
ressaltou a importância dos movimentos de mulheres, como ONGs,
grupos profissionais e sindicalistas, entre diversos outros, como
atores essenciais para conquistas na área de políticas públicas de
gênero. E propôs, ainda, uma reflexão sobre a situação de negras e
indígenas nas ações públicas destinadas às mulheres.
Já a representante da Marcha Mundial de Mulheres no
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Analu Faria, lembrou que a
reconstrução da identidade feminina em pé de igualdade com os homens
depende do enfrentamento de conflitos vividos por elas próprias e da
ruptura de conceitos arraigados, como o de que a mulher tem que
viver em função do outro. Ela enumerou três pontos importantes para
a elaboração de políticas de gênero que espera sejam aprovados na
plenária final da conferência e levados a discussão em Brasília.
Esses pontos são a necessidade de se garantir a
autonomia financeira das mulheres, com acesso ao mercado de trabalho
e igualdade salarial com os homens, a autonomia sobre o corpo, com a
melhoria dos programas públicos de saúde da mulher e combate à
violência doméstica, e alterações na divisão sexual do trabalho. "O
Estado sempre atuou como se as mulheres estivessem em casa e os
homens no trabalho. Nunca houve prioridade para a criação de creches
e escolas em período integral. É como se sempre houvesse uma mulher
em casa esperando a criança depois de quatro horas de aula",
criticou.
Sete grupos temáticos discutiram políticas para a
mulher
À tarde, as delegadas municipais se dividiram em
sete grupos de trabalho para discutir temas específicos, em reuniões
realizadas em quatro espaços da Assembléia, nos auditórios da
Sedese, do Banco Central e da Escola do Legislativo. Centenas de
sugestões trazidas das etapas municipais foram divididas pelos temas
e discutidas dentro de dinâmicas estabelecidas pelo próprio
grupo.
No Grupo 7, sobre a participação social e política
da mulher, o debate foi reforçado pela presença de duas
significativas lideranças femininas: a ex-deputada federal Maria
Elvira e a prefeita de Araçuaí, Maria do Carmo "Cacá" Ferreira.
Havia uma proposta de ampliar de 30% para 50% a participação
feminina nas chapas partidárias para as eleições municipais. Maria
Elvira relatou as lutas para aprovar os 30% no Congresso, e informou
que os partidos têm dificuldades para completar a cota de 30% de
mulheres. Cacá Ferreira posicionou-se contra o sistema de cotas.
Para ela, o importante é trabalhar pela igualdade entre os sexos sem
estabelecer percentagens.
No Grupo 1, reunido no auditório do Banco Central,
o tema era Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. A mais
polêmica das 122 propostas da lista era a legalização do aborto,
proposta aprovada pela maioria das delegadas e que será levada à
Plenária final na manhã desta terça-feira.
O Grupo 3 discutiu a mulher e a questão
étnico-racial, com apenas 28 propostas na pauta. As delegadas
aprovaram rapidamente uma série de sugestões para o desenvolvimento
de políticas que assegurem o acesso da população negra a cursos
profissionalizantes, ao sistema educacional e a instalação de fóruns
de integração racial nas escolas e comunidades. Uma denúncia nova
tomou forma nessa reunião: a falta de capacitação dos médicos do
Sistema Único de Saúde para diagnosticar doenças que acometem
principalmente a população negra, entre elas a anemia
falciforme.
Delegacias de mulheres em cada município
O Grupo 4 cuidou dos temas relacionados à mulher no
espaço agrário, agrícola e ambiental. A tese é a de discriminação da
mulher na titularidade agrária, que ainda seria considerada espaço
masculino, embora a legislação não discrimine. A presença da mulher
no campo é mais permanente que a do homem, que sai freqüentemente
para trabalhar fora. O Grupo 2, da Violência contra a Mulher,
reuniu-se no Teatro da Assembléia. Além das denúncias de maus-tratos
já levadas a fóruns semelhantes, foi trazido o relato das más
condições em que mulheres encarceradas dão à luz em plena cela,
deitadas no chão frio e sem a mínima dignidade que a maternidade
exige. Foi aprovada uma proposta de instalação de delegacias das
mulheres em todos os municípios mineiros, sob críticas daquelas que
consideram inviável o pleito. O grupo derrotou a proposta de que
tais delegacias fossem chefiadas por mulheres, sob o argumento de
que a questão de gênero deve ser de entendimento geral, e não apenas
das mulheres.
O Grupo 5 discutiu 78 propostas sobre a educação do
ponto de vista feminino: não sexista, formando para a cidadania,
protegendo a cultura e estimulando o esporte. Este grupo se reuniu
no auditório da Escola do Legislativo. O Grupo 6, reunido na
Secretaria de Desenvolvimento Social, cuidou dos temas ligados à
geração de emprego e renda para mulheres, formação para o mercado,
empreendedorismo feminino, acesso ao crédito e trabalho
doméstico.
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