Contrato entre Estado e Banco Itaú pode ser objeto de CPI

A instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a renovação do contrato de prestação de s...

03/06/2004 - 00:02
 

Contrato entre Estado e Banco Itaú pode ser objeto de CPI

A instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a renovação do contrato de prestação de serviços ao Estado de Minas Gerais pelo Banco Itaú foi proposta nesta quinta-feira (3/6/04) por diversos deputados, após o Itaú insistir que as 58 agências pioneiras do antigo Bemge vão mesmo fechar, casos as prefeituras não arquem com gastos que variam de R$ 7 mil a R$ 15 mil, referentes ao custeio das agências. O assunto foi discutido pelas comissões de Fiscalização Financeira e Orçamentária e de Assuntos Municipais e Regionalização. A reunião, que durou quase cinco horas, contou com a presença de prefeitos e vereadores das pequenas cidades que correm o risco de ficar sem opção de atendimento bancário.

O deputado Ermano Batista (PSDB) condenou a renovação do contrato firmado entre o Itaú e o Estado em 2002, que permitiu ao banco continuar fazendo o pagamento de fornecedores e servidores estaduais e movimentando toda a arrecadação com impostos de Minas Gerais até 2010. "Esse contrato foi renovado com um ano de antecedência sem nenhuma explicação e sem licitação, que não poderia ter sido dispensada. A CPI vai poder apurar a responsabilidade do Estado nesse contrato, que nos parece demasiadamente suspeito", afirmou o deputado.

Todos os parlamentares presentes se manifestaram a favor da CPI e o deputado Chico Simões (PT) garantiu que já tem o número necessário de assinaturas para a criação da comissão. Chico Simões defendeu também o fim do convênio entre o Estado e o Itaú, já que, segundo ele, não há nenhuma cláusula que prevê o pagamento de multa em caso de rescisão do contrato. A idéia foi transformada num requerimento, assinado por todos os deputados presentes, que pede à assessoria da Assembléia realização de estudos sobre a viabilidade de um Projeto de Resolução que cancele o contrato.

Para Itaú, agências são inviáveis

O ouvidor do Itaú, Aldous Albuquerque Galletti, compareceu novamente à Assembléia e repetiu mais uma vez que a decisão já está tomada: a manutenção da remanescente rede Bemge é absolutamente inviável, por causa dos equipamentos obsoletos e da rejeição aos cheques com a marca do antigo banco estatal. O banco alega que essas unidades são deficitárias, por isso, não será possível transformá-las em agências Itaú, como vai ocorrer com outra centena de pontos de atendimento que ainda ostentam a bandeira Bemge.

O banco diz que, após a reunião realizada na Assembléia no último dia 11 para discutir o mesmo assunto, abriu negociação com os prefeitos para a celebração de convênios que viabilizem a manutenção das agências. Esse tipo de entendimento, de acordo com o ouvidor do Itaú, está previsto no contrato firmado com o Estado. "Isso existe desde quando o Bemge era um banco estadual. Pelos convênios, os municípios sempre assumiram parte dos custos para manutenção das agências", diz.

O Itaú alega também que, em 40 dos 58 municípios afetados pelo fechamento de agências, existem outras opções de atendimento bancário, como o banco postal dos correios, correspondentes bancários em casas lotéricas ou cooperativas de crédito. Nas 18 cidades que ficariam sem nenhuma opção de serviço bancário, o Itaú se dispõe a renegociar os valores a serem assumidos pelas prefeituras para a preservação das agências do Bemge. No caso dos demais municípios, o banco diz que está "reavaliando parâmetros" e pode até se comprometer a abrir cinco agências Itaú, decisão que será comunicada até a próxima segunda-feira (7).

Para prefeitos, agências dão lucro

Os argumentos do Itaú não convencem os prefeitos das cidades que vão ficar sem banco. Todos estão indignados e contestam o argumento de que as agências são deficitárias. Levantamento feito pela Associação Mineira de Municípios (AMM) junto ao Banco Central estima em R$ 189 milhões a receita total do conjunto das 58 agências que correm o risco de desaparecer. Só com a folha de pagamento das prefeituras, essas agências movimentariam R$ 92 milhões, segundo a AMM. "Se não geram lucro, essas agências, em seu conjunto, não dão prejuízo", disse o secretário executivo da AMM, Tadeu José de Mendonça.

O prefeito de São Roque de Minas lembrou que uma das cláusulas do contrato de prestação de serviços pelo Itaú determina que a extinção das agências pioneiras só pode ser feita após entendimento entre as partes (Estado, município e Itaú). "Mas o grupo de trabalho para estabelecer regras para o fechamento nunca foi constituído", criticou. De acordo com o prefeito, o Tribunal de Contas do Estado já se posicionou contra a aplicação de verbas municipais na manutenção das agências do Bemge.

O representante da Secretaria de Estado da Fazenda (SEF), Eduardo Antônio Codo, disse que o governo estadual pediu ao Itaú que interrompesse o processo de fechamento das agências. Em resposta, o banco teria garantido que iria adiar essa decisão e poderia até reabrir as unidades já fechadas. A SEF alega que tem interesse em dar assistência aos municípios para buscar alternativas que evitem a extinção da rede pioneira. Mas descartou ajuda financeira às prefeituras para viabilizar os convênios, por causa das dificuldades que o Estado vem enfrentando para reduzir seu déficit orçamentário.

Deputados propõem boicote ao Itaú

Os deputados abraçaram a causa dos prefeitos e fizeram duras críticas ao Itaú. Até a idéia de boicote ao banco, proposta inicialmente pelo deputado Paulo Cesar (PFL), ganhou corpo e foi defendida por quase todos os parlamentares presentes à reunião. "Vou encerrar minha conta no Itaú o mais cedo possível e só vou reabrir depois que o banco demonstrar que não é o monstro asqueroso que demonstra ser", disse o deputado Ermano Batista. A idéia foi transformada num requerimento de autoria coletiva que pede à presidência da Assembléia que suspenda o relacionamento da Casa com o Itaú até que seja encontrada uma solução para o impasse.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) narrou o caso extremo de um assassinato em decorrência do fechamento da agência do Bemge de Francisco Dumont, no Norte de Minas. Segundo ele, um empresário estava voltando da vizinha cidade de Bocaiúva com um malote de dinheiro para o pagamento de seus funcionários quando foi assaltado e morto. Os deputados Chico Simões e Sebastião Helvécio (PDT) criticaram a atuação da SEF nas negociações. A defesa da CPI foi feita também pelos deputados Doutor Viana (PFL), Fábio Avelar (PTB), José Henrique (PMDB) e Domingos Sávio (PSDB).

Foi aprovado ainda um requerimento, assinado por todos os deputados presentes, que pede a formação de uma comissão de prefeitos e deputados para cobrar do governador Aécio Neves uma solução para o problema. Os deputados também aprovaram outros dois requerimentos coletivos que pedem o envio das notas taquigráficas da reunião à presidência do Itaú e o envio de cartas aos prefeitos mineiros para que eles se manifestem contra o fechamento das agências do Bemge.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Ermano Batista (PSDB), que a presidiu; Chico Simões (PT), Doutor Viana (PFL), José Henrique (PMDB), Sebastião Helvécio (PDT), Paulo Cesar (PFL), Gustavo Valadares (PFL), Fábio Avelar (PTB), Domingos Sávio (PSDB) e Carlos Pimenta (PDT). Também estiveram presentes o presidente da Federação dos Municípios de Minas Gerais, José Fernandes Aparecido; o procurador do Estado Érico Andrade e o representante do Banco Central, César Natalino de Assis.

 

 

 

 

 

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