Comissão Especial busca esclarecimentos sobre cultivo de
eucalipto
A Comissão Especial da Silvicultura ouviu, nesta
quinta-feira (27/5/04), explicações de dois técnicos, que traçaram
um panorama geral do setor de base florestal mineiro em
contraposição ao cenário mundial. O professor de engenharia
florestal da Universidade Federal de Viçosa, José de Castro Silva,
lembrou que em nenhum país o eucalipto tem produtividade tão
elevada, em m³ por hectare, como no Brasil, que, infelizmente,
segundo ele, ocupa apenas o 14º lugar em exportações de madeira no
mercado mundial. Em Minas Gerais, ele citou experiências bem
sucedidas de cultivo consorciado com soja, arroz e capim braquiara,
no noroeste de Minas. O secretário executivo da Associação Mineira
da Silvicultura (AMS), José Batuíra de Assis, defendeu a proposta de
se elevar para 1% do território nacional a área plantada de
eucalipto.
José de Castro Silva comparou valor das exportações
de produtos automotivos e alimentícios com a soja com os valores
exportados em produtos florestais, para mostrar o quanto a atividade
traz divisas para o País. Segundo ele, o setor gera mais de dois
milhões de empregos diretos no Brasil e poderia gerar muito mais,
com o aumento da área plantada. Já o representante da Pastoral da
Terra, Luciano di Santi, mostrou sua preocupação com o que ele
chamou de "desenvolvimento insustentável" por que passa o Brasil.
Ele citou o caso do Norte de Minas e do Jequitinhonha, onde centenas
de córregos e ribeirões estariam secando a cada ano, após a chegada
da monocultura do eucalipto.
O deputado Padre João (PT) também demonstrou sua
preocupação com o equilíbrio do ecossistema nas regiões onde há
grandes plantios de eucalipto. Na opinião dele, o próprio conceito
de "floresta" deve ser revisto. Padre João falou aos participantes
sobre a responsabilidade do parlamentar nessa discussão: "não
podemos entrar em guerras de setores", disse. A Comissão Especial da
Silvicultura iniciou seus trabalhos no último dia 17 de maio. O
deputado Leonardo Quintão (PMDB) esclareceu aos participantes que
nos próximos dias todos os aspectos envolvidos na cultura do
eucalipto serão analisados. "Nosso objetivo é esclarecer dúvidas,
propor mudanças e dar sugestões para políticas públicas de
desenvolvimento sustentável do agronegócio", disse o deputado, que é
vice-presidente da comissão.
Pastoral da Terra alerta para prejuízos
humanos
O representante da Comissão Pastoral da Terra,
Luciano di Santi, pediu aos deputados que estejam atentos para os
prejuízos que a monocultura pode trazer para o ser humano. "Não
trago números nem tabelas, mas trago impressões das pessoas que
convivem com o eucalipto, que não são nada boas". Ele cobrou a
presença dos trabalhadores rurais nos debates sobre a silvicultura.
"A discussão não pode ficar só entre acadêmicos. Precisamos ouvir a
sabedoria prática do povo, que vem do convívio com a natureza",
alertou. Na avaliação de José de Castro Silva, o eucalipto carrega
estigmas injustamente, uma vez que culturas como da laranja e do
algodão podem ser muito mais prejudiciais ao solo do que a de
eucalipto.
Ecossistema - O engenheiro
Rodrigo Mata Machado, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG,
lembrou que o balanço hídrico e de nutrientes retirados do solo pelo
eucalipto também deve ser levado em consideração nos estudos sobre a
silvicultura. "Falar sobre o balanço hídrico é mais importante do
que citar apenas a quantidade de água retirada do solo", disse.
Rodrigo Mata Machado ressaltou, ainda, a necessidade de reformular a
certificação florestal, inclusive com a fiscalização das
certificadoras. Segundo ele, essa seria uma forma de garantir o
manejo adequado das culturas, com respeito ao meio ambiente.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Leonardo Quintão (PMDB), que a presidiu;
Doutor Viana (PFL), Padre João (PT) e Célio Moreira (PL).
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