Audiência debate problemas do Judiciário mineiro

O Poder Judiciário de Minas Gerais enfrenta problemas crônicos de falta de estrutura e apenas a metade dos processos ...

25/05/2004 - 00:01
 

Audiência debate problemas do Judiciário mineiro

O Poder Judiciário de Minas Gerais enfrenta problemas crônicos de falta de estrutura e apenas a metade dos processos que chegam à Justiça são resolvidos. Há dez anos, o percentual de processos resolvidos era de 75%. A informação é do desembargador Tibagy Salles de Oliveira, que participou, nesta terça-feira (25/5/04), de audiência pública da Comissão de Administração Pública da Assembléia Legislativa, que debateu a falta de provimento do cargo de magistrado em comarcas mineiras e alguns dos problemas que dificultam melhor prestação dos serviços jurisdicionais no Estado. A reunião foi realizada a requerimento dos deputados Domingos Sávio (PSDB), presidente da comissão, e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB).

De acordo com o desembargador, em Minas Gerais há, hoje, 107 cargos vagos de juiz. No último concurso realizado pelo Tribunal de Justiça, dos 2.411 candidatos a juiz inscritos, apenas 253 passaram à segunda etapa das provas, sendo que só 66 foram aprovados. Nas 316 comarcas existentes no Estado, 107 cargos estão vagos, faltando instalar, ainda, dezenas de comarcas e varas previstas na legislação. Haverá novo concurso para a magistratura e o edital já está sendo elaborado e deverá ser publicado ainda neste primeiro semestre de 2004. Na reunião, Tibagy Salles criticou o excesso de rigor nos concursos para juiz.

Defensoria Pública carece de recursos

No âmbito da Defensoria Pública, os problemas são ainda maiores. Segundo o presidente da Associação dos Defensores Públicos de Minas Gerais, Glauco David de Oliveira Souza, a falta de condições adequadas para o desempenho das funções e a defasagem salarial têm desestimulado a categoria. Em todo o Estado, o número de defensores diminuiu de 720, em 1998, para 425 em 2004, deixando a maioria das comarcas desprovidas de defensores públicos. O número de atendimentos feitos pela Defensoria caiu de 2 milhões, em 2000, para 800 mil, em 2003.

Glauco David fez duras críticas à política de nomeação de advogados dativos em lugar do fortalecimento da Defensoria Pública. "A nomeação de dativos não segue a lei, prejudica o acesso dos cidadãos carentes à Justiça e inviabiliza o melhor funcionamento do Judiciário", diagnosticou. Ao insistir na defesa da autonomia orçamentária do Poder Judiciário e de investimentos na estrutura da Defensoria, Glauco David reiterou que a prática já demonstrou que o recurso ao advogado dativo, em detrimento da opção pelo servidor efetivo, é uma fórmula esgotada, que acaba sendo mais onerosa para o Estado e menos eficiente para a sociedade.

O presidente da Associação dos Defensores alertou para a possibilidade de paralisação da categoria caso o Poder Executivo não dê resposta satisfatória às reivindicações apresentadas ao governo há mais de dois meses, e disse esperar contar com a solidariedade do Poder Legislativo com os pleitos dos defensores. "Não queremos um simulacro de Justiça, mas o cumprimento do que está estabelecido na Constituição, o efetivo direito de defesa que têm os cidadãos", finalizou.

Sobrecarga de trabalho dos juízes

Também presente à audiência pública, o presidente da Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), juiz Carlos Augusto de Barros Levenhagen, denunciou a sobrecarga de trabalho dos juízes. Enquanto em Minas Gerais há aproximadamente um juiz para 23 mil habitantes, a relação considerada razoável é de um juiz para 5 mil habitantes. Ele afirmou que a sobrecarga chega a tal nível que uma pesquisa feita pela entidade revelou que 60% dos juízes de Belo Horizonte são obrigados a fazerem uso de tranqüilizantes para conseguirem dormir.

Carlos Levenhagen disse, ainda, que a reforma do Judiciário, em discussão no Congresso Nacional, por si só não conseguirá solucionar os problemas da Justiça e será inócua para agilizar os processos. Para ele, são necessários novos códigos processuais, uma vez que o Código de Processo Penal vigente é de 1940 e o Código de Processo Civil, de 1970. Na opinião do magistrado, a nomeação de assessores para auxiliarem os juízes foi uma medida acertada e que facilitou os trabalhos, sobretudo na Justiça de Primeira Instância, aumentando a produção dos juízes em cerca de 50%. Ele defendeu, também, a realização regular de concursos para juízes, considerando ideal haver dois concursos por ano.

Os deputados presentes manifestaram preocupação com as deficiências do Poder Judiciário, e se prontificaram a ajudar a encontrar formas de dotar o Poder de melhores condições para o desempenho de suas funções. Dalmo Ribeiro Silva lembrou que a existência de apenas 756 juízes de Primeira Instância, para apreciação de mais de dois milhões de processos, é uma relação "absolutamente impraticável", e também concordou que o aprimoramento do Poder Judiciário não se dará apenas nos termos da reforma em curso no Congresso Nacional.

Requerimento - Ao final da reunião, os deputados aprovaram requerimento do deputado Dalmo Ribeiro Silva propondo a realização de audiência pública com a presença do secretário de Estado de Planejamento e Gestão, Antônio Anastasia, para debater a situação orçamentária do Poder Judiciário e da Defensoria Pública.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Domingos Sávio (PSDB), presidente da comissão, Paulo Piau (PP) e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e a deputada Jô Moraes (PCdoB).

 

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