Especialistas discutem modelo ideal para a silvicultura

O modelo de cultivo de florestas plantadas (silvicultura) no Estado e no País foi o tema central das palestras realiz...

24/05/2004 - 00:00
 

Especialistas discutem modelo ideal para a silvicultura

O modelo de cultivo de florestas plantadas (silvicultura) no Estado e no País foi o tema central das palestras realizadas na manhã desta segunda-feira (24/5/04) no Ciclo de Debates "O Eucalipto", ocorrido no Plenário da Assembléia Legislativa de Minas. O evento é uma iniciativa da deputada Maria José Haueisen e do deputado Rogério Correia, ambos do PT.

Para o primeiro dos debatedores, o professor de Planejamento Econômico do Unicentro Newton Paiva e de Pensamento Econômico e Política Internacional da UNA, Múcio Tosta Gonçalves, ninguém deve ser inocente a ponto de imaginar que a escolha de um modelo de cultivo não tenha como referência a produção de vantagens competitivas para as empresas. Isso implica concentração da produção nas mãos de poucas companhias e a maior produtividade possível, o que significa ainda menos trabalhadores e salários mais baixos. A plantação de eucalipto, e não de outras árvores, é uma decisão tomada com esse objetivo, afirmou.

O professor mostrou que a tecnologia tem trazido cada vez mais um aumento na produtividade no setor florestal e, ao mesmo tempo, um decréscimo no número de empregos, "o que é coerente com o modelo escolhido". O que é incoerente, disse ele, é o discurso das empresas. Por um lado, afirmou, elas acham que o Estado intervém demais no setor, via cobrança de impostos e inúmeras regras. Porém, ao gerar desemprego, essas mesmas empresas se afastam de sua responsabilidade sobre o mercado de trabalho e pedem a intervenção do Estado nessa questão. "Se é esse o modelo que queremos, precisamos saber quais políticas públicas controlam as empresas, de forma que essas companhias contribuam para o desenvolvimento social e econômico do Estado", disse o professor.

Outro modelo - Múcio Gonçalves disse que um outro modelo é possível, que é exatamente o que leva em conta a produção "desconcentrada", ou seja, feita por muitos pequenos produtores. "Até que ponto podemos dizer que a concentração da produção é capaz de produzir mais empregos e distribuir mais renda do que os pequenos empreendimentos?", questionou.

"O melhor modelo é aquele discutido com a população", defendeu o diretor do Instituto Brasileiro de Educação, Integração e Desenvolvimento Social (Ibeides), Lourival Araújo Andrade. Ele lembrou que a discussão deve envolver também a soja, a cana-de-açúcar e todas as outras culturas, pois, na sua opinião, os modelos de desenvolvimento atuais não atendem às demandas de geração de emprego e renda para os trabalhadores. "Cem milhões de brasileiros não desfrutam desse modelo de desenvolvimento adotado no País", afirmou.

Mercado está em expansão

O professor Sebastião Renato Valverde, da Universidade Federal de Viçosa, apresentou diversos números sobre o setor para mostrar que o mercado da silvicultura está em crescimento. Ele mostrou que este é o segundo item mais importante na balança comercial brasileira, gerando 2 milhões de empregos e uma arrecadação anual de impostos da ordem de R$ 2 bilhões. "É um setor-chave para a economia", defendeu.

O professor confirmou que o País tem obtido cada vez mais ganho de produtividade, mesmo sem o aumento da área plantada, que, segundo ele, está estimada hoje em 5 milhões de hectares. Valverde citou ainda que a competitividade brasileira nesse setor está aumentando, principalmente devido às vantagens do carvão vegetal sobre o carvão mineral na produção de aço e ferro-gusa, entre elas o fato de ser menos poluente e não submeter trabalhadores a condições de alto risco, como ocorre nas minas de carvão mineral da Rússia, por exemplo.

Quanto aos aspectos ambientais, Valverde citou diversas vantagens da silvicultura, como a contribuição para a melhoria da qualidade do ar, o controle do efeito erosivo dos ventos e a redução dos níveis de poluição aérea.

Já o professor Joésio Deoclécio Pierin Siqueira, da Universidade Federal do Paraná, colocou a questão econômica acima dos fatores sociais e ambientais na definição de um modelo sustentável de exploração das florestas plantadas. Ele atacou o que chamou de "sanha arrecadatória" do governo federal e criticou ainda as pessoas que são contra a presença dos grandes grupos econômicos no setor. "Há espaço para todos", garantiu.

Pressões - Durante a fase de participação da platéia, diversos produtores rurais e representantes de entidades ligadas à terra opinaram sobre o tema. O produtor Luiz Sérgio Furlan disse que em Minas Gerais é possível plantar eucalipto sem prejuízo ao meio ambiente. José Batuíra Assis, da Associação Mineira de Silvicultura, afirmou que não existe capital estrangeiro financiando a produção. O produtor rural Ângelo Torran quis saber a taxa de retorno da atividade. Joésio Siqueira informou que essa taxa é de 19%, o que pode ser considerado um "ótimo negócio". Ao comentário de Batuíra Assis, ele afirmou que países como Alemanha e Holanda exercem pressão política contra o produto brasileiro porque não podem competir com ele.

 

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