Comissão ouve novas denúncias de tortura policial em Abaeté

Afogamento, queimaduras com cigarros, tapas na cara e até palmatória seriam os métodos utilizados pelo detetive de Po...

20/05/2004 - 00:02
 

Comissão ouve novas denúncias de tortura policial em Abaeté

Afogamento, queimaduras com cigarros, tapas na cara e até palmatória seriam os métodos utilizados pelo detetive de Polícia Civil Robisson Vilaça para obter confissões de presos em Abaeté. Novas denúncias contra o policial foram ouvidas pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, que se reuniu naquela cidade, na Câmara municipal, na manhã desta quinta-feira (20/5/04), a pedido do deputado Durval Ângelo (PT). No último dia 22, a comissão ouviu três supostas vítimas de tortura do detetive que tiveram de ser incluídas no programa de proteção a testemunhas.

Jairo Gilberto Lucas, preso por furto há quatro anos e cumprindo pena hoje em Pará de Minas, diz ter sido torturado por Robisson Vilaça em 1999. O rapaz teria sido espancado com um taco de beisebol para confessar ser o responsável pelo sumiço de um revólver na delegacia de Abaeté. Jairo reclama que até hoje sente dores nos rins por causa disso. Na mesma ocasião, teria sido espancado o então menor de idade Cássio Renato Braz Delfino, para que confessasse o mesmo crime. Jairo diz que fez um exame de corpo de delito que teria comprovado a agressão e chegou a registrar queixa na polícia. Mas, segundo ele, os detetives o teriam procurado e oferecido R$ 50 para que voltasse atrás. "Aí eu retirei a queixa, pois estava sob pressão e com medo", diz o detento.

Outro preso, Marco Antônio de Oliveira, que hoje cumpre pena por estelionato, teria sido outra vítima de Robisson Vilaça. Preso em 1997 na zona rural da vizinha cidade de Paineiras por ter roubado uma bicicleta, Marco Antônio acusa o detetive e outros quatro policiais militares lotados em Paineiras de espancamento com cassetetes e chutes na delegacia da cidade. O preso reclama que a agressão deixou como seqüelas complicações renais e um problema no baço.

Outra testemunha ouvida foi o trabalhador rural Éder Marques da Silva, que alega ter sido agredido por Robisson Vilaça e outros detetives várias vezes. "Sempre que sumia alguma coisa na cidade, eles nos levavam para a Ponte do Marmelada. Lá, eles perguntavam coisas que a gente não sabia responder", conta. Os métodos utilizados para torturar Éder e outros adolescentes seriam afogamento, queimaduras com cigarros, golpes de palmatória e tapas. O jovem também acusa o sargento Dilson, da Polícia Militar, de tê-lo agredido assim que ele foi preso por tentativa de furto de uma caminhonete em 1999, quando teria levado chutes na barriga e beliscões.

População defende o detetive

Mesmo com todas essas acusações, a população de Abaeté defende o detetive Robisson Vilaça, que foi transferido para Morada Nova de Minas após o escândalo envolvendo seu nome. "Os senhores estão cristianizando os bandidos", acusou a aposentada Maria de Lurdes Greco, cunhada de Helena Greco, um dos ícones da defesa dos direitos humanos no Brasil. "Nós, como fiscais da execução penal, não acreditamos na existência de tortura na cadeia de Abaeté", disse o presidente do Conselho da Comunidade, Renato Moreira Campos. Opiniões semelhantes foram manifestadas pelos vereadores e demais cidadãos presentes à reunião. O delegado regional de Bom Despacho, Lindon Batista, disse que a transferência para Morada Nova de Minas foi um pedido do próprio Robisson, que não foi afastado de suas funções de detetive.

Os deputados reagiram às críticas ao trabalho da comissão. "Não estamos aqui para julgar. Estamos aqui para apurar e ninguém vai nos privar do exercício do nosso trabalho", disse o deputado Roberto Ramos (PL). O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), garantiu que os depoimentos são seguros e que as investigações sobre o caso vão continuar. "Vimos claramente que há uma simpatia da população pelo policial, que seria eficiente, mesmo usando métodos violentos, mas o detetive ainda vai ser ouvido pela comissão em Belo Horizonte", afirmou.

Promotora rebate acusações - A promotora Matilde Fazendeiro Patente, que atuou em Abaeté, enviou uma carta à comissão negando as acusações feitas pelo deputado Durval Ângelo em entrevista à imprensa e publicada pelo Assembléia Informa no dia 23 de abril. O promotor Paulo Henrique Senra Barbosa, que a substituiu em Abaeté, garantiu que o Ministério Público não será omisso nas investigações. Durval Ângelo disse que ela terá o direito de rebater as acusações em uma reunião da comissão.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT) e Roberto Ramos (PL). Também estiveram presentes o presidente da Câmara Municipal de Abaeté, Ivanir Deladier da Costa e o assessor do prefeito Antônio Carlos França, Armando Greco Filho.

 

 

 

 

 

 

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715