Carga tributária dificulta produção de cachaça artesanal

Uma indústria que emprega mais de 400 mil pessoas no País e movimenta R$ 1,5 bilhão em toda a cadeia produtiva, mas q...

19/05/2004 - 00:02
 

Carga tributária dificulta produção de cachaça artesanal

Uma indústria que emprega mais de 400 mil pessoas no País e movimenta R$ 1,5 bilhão em toda a cadeia produtiva, mas que tem tido sua atividade dificultada e, em alguns casos, inviabilizada pela alta carga tributária. Essas foram as principais conclusões apontadas pelos participantes da reunião conjunta das comissões de Turismo, Indústria e Comércio e de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia, que debateu nesta quarta-feira (19/5/04) a reintegração dos produtores de cachaça artesanal de Minas ao Sistema Integrado de Planejamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e de Pequeno Porte (Simples).

A reunião foi solicitada pelos deputados Biel Rocha (PT) e Gil Pereira (PP). Biel Rocha destacou a importância da produção da cachaça em Minas para a estruturação da economia rural. Já o deputado Gil Pereira informou que a caipirinha já é o segundo drink mais consumido na Alemanha. Eles concordam que é preciso encontrar caminhos para desonerar o processo produtivo da bebida. As empresas de bebidas alcóolicas, que enquadravam-se no Simples, criado pela Lei 9.317/96, ficaram impedidas de inscrever-se nesse sistema a partir de 1º de janeiro de 2001. A exclusão foi efetuada pela alteração do artigo 14 da Medida Provisória 1.990-29, de 2000, atual medida Provisória 2.189-49, de 2001 que, por ter sido editada antes da Emenda Constitucional 32/2001, continua com força de lei em tramitação.

As reivindicações da Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade (Ampaq), foram apresentadas pelo presidente da entidade, Luiz Cláudio Cury. Segundo ele, com a exclusão do Simples os produtores tiveram um impacto direto de mais de 22% em seus custos e a tentativa que a Ampaq vinha fazendo de tentar conter a clandestinidade na fabricação da cachaça fracassou. "Desde que fomos excluídos do Simples, poucas foram as empresas que procuraram as autoridades para legalizar o seu negócio", lamentou.

Ele acrescentou que com a reclassificação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o produto, os produtores foram taxados em média em 400%. "O que nos parece é que há um lobby muito forte dos fabricantes de cachaça industrial. Hoje eles pagam em torno de R$ 0,35 de IPI e nós, os produtores artesanais, R$ 1,50 em média", afirmou. Os produtores alegam que para a taxação do IPI não são levados em consideração critérios de qualidade do produto.

Sindicato leva reivindicações à Receita Federal

O coordenador executivo do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas), Cristiano Lamêgo, informou que, dos 500 milhões de litros de cachaça produzidos no Brasil, 200 milhões vêm de Minas Gerais. Ele apresentou ainda o descontentamento do sindicato com a elevada carga tributária sobre a cachaça artesanal de alambique. Segundo ele, o Sindbebidas encaminhou um documento à Receita Federal, com as reivindicações do setor de reenquadramento no Simples. Em contrapartida, o sindicato se propôs a honrar alguns compromissos, estabelecidos pelo próprio Sindbebidas, como o de tirar, por ano, 15% dos produtores do Estado da informalidade, de se adequar às normas ambientais vigentes e de adotar melhores práticas de produção. Além disso, o sindicato se compromete a gerar 10 mil empregos diretos e indiretos por ano, ajudando a fixar o homem no campo.

Armadilha - De acordo com o documento, as entidades estaduais de produtores incentivaram os pequenos produtores informais a regularizar seus negócios, de base familiar e, pouco tempo depois, o governo excluiu a categoria do Simples. "Eles foram conduzidos a uma verdadeira armadilha. Os pequenos produtores foram obrigados a se portarem como grandes empresários, não dispondo de recursos necessários para isso, ficando sujeitos à falência ou a informalidade", afirma o sindicato.

O subsecretário de Indústria e Comércio, Eduardo Lery, informou que o secretário Wilson Brumer enviou, em 21 de janeiro deste ano, correspondência ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, pedindo o reenquadramento das cachaçarias no Simples. Segundo Lery, o ministério teria demonstrado um posicionamento favorável ao pleito, faltando o governo estadual conseguir o mesmo apoio do Ministério da Fazenda.

Nesse sentido, o deputado Gil Pereira (PP) apresentou um requerimento, que será colocado em votação na próxima reunião da comissão, pedindo que seja agendada uma audiência dos senadores e deputados federais e estaduais mineiros e do vice-presidente da República, José Alencar, em Brasília, com o secretário da Receita Federal, Jorge Antônio Deher Rachid. Os deputados pretendem, com isso, reverter a exclusão das cachaçarias do Simples.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) destacou que a lei que cria o Pró-Cachaça, de 1992, precisa ser reavaliada e aperfeiçoada. "Em 12 anos, muita coisa aconteceu", justificou. Ele apresentou um requerimento pedindo que toda a legislação pertinente ao assunto seja enviada às entidades ligadas aos produtores de cachaça para que possam oferecer sua contribuição para a atualização da lei. Para a deputada Ana Maria Resende (PSDB) a cachaça adquiriu status no exterior, mas precisa ser mais valorizada dentro do País, através de políticas de incentivo. "Sem incentivos, a bebida pode perder sua qualidade", destacou. O deputado Paulo Piau (PP) também concorda que é preciso valorizar a amplitude da cachaça para o agronegócio. Já o deputado Paulo Cesar (PFL), que presidiu a reunião, informou que a cachaça "Salinas" receberá um prêmio de qualidade da Revista "Mercado Comum". Ele manifestou seu desejo de que muitas outras marcas tenham sua qualidade reconhecida.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Paulo Cesar (PFL), que a presidiu; Biel Rocha (PT), Gil Pereira (PP), Luiz Humberto Carneiro (PSDB), Paulo Piau (PP), Carlos Pimenta (PDT) e a deputada Ana Maria Resende (PSDB). Além dos convidados, participaram da reunião o assessor e representante do senador Eduardo Azeredo, Landulfo Dornas; o chefe de gabinete e representante do deputado federal Júlio Delgado, Leonardo Tobias Nogueira; o superintendente de Abastecimento da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e representante do secretário, Odelmo Leão Carneiro, Marcos Garcia Jansen; e o assessor de relações sindicais da Fiemg, Vítor Vieira.

 

 

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