Debate sobre plano de carreira dura mais de quatro horas

A reunião extraordinária da Comissão de Administração Pública, na manhã desta quarta-feira (12/5/04), convocada para ...

12/05/2004 - 00:00
 

Debate sobre plano de carreira dura mais de quatro horas

A reunião extraordinária da Comissão de Administração Pública, na manhã desta quarta-feira (12/5/04), convocada para que o relator do Projeto de Lei 1.294/03, Paulo Piau (PP), colhesse subsídios para elaboração de seu parecer durou mais de quatro horas. O projeto, de autoria do Executivo, que traz o plano de carreira dos profissionais da educação, foi mais uma vez questionado por sindicalistas e professores, que lotaram o auditório. O não envio ao Legislativo das tabelas de vencimentos continua sendo o ponto mais criticado. Em alguns momentos, as opiniões se dividem entre as entidades sindicais que reúnem os profissionais do setor, mas todos lamentam a falta das tabelas. A representante da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), Jomara Alves da Silva, justificou a atitude do governo: "o déficit orçamentário do Estado tinha que ser levado em consideração. Não tínhamos como prever a política remuneratória antes da aprovação do plano".

Geraldo Antônio Henrique, diretor do Sindipúblicos, afirmou que a maioria das propostas apresentadas pelos servidores ao governo, na época de elaboração dos planos de carreira, não foram levadas em consideração. O diretor do Sind-Ute, Antônio Carlos Hilário, disse que o plano em discussão não avança na valorização dos servidores da educação. Ele acusa o governo de, na confecção do projeto, ter levado em consideração apenas as necessidades de "fluxo de caixa". Segundo Hilário, o interstício de cinco anos para o servidor ter direito à promoção deixa claro que o Executivo está usando o plano de carreira para regularizar o caixa, postergando ao máximo qualquer tipo de gasto com salário dos funcionários.

Direito de greve - O diretor do Sind-Ute garantiu que a greve continuará sendo um instrumento de luta da categoria, "apesar das retaliações impostas pelo governo". O uso do direito de greve, no entanto, divide opiniões. A presidente da Associação dos Professores Públicos de Minas Gerais (APPMG), Joana D'arc Gontijo, assim como vários dos professores presentes à reunião, acredita que a greve deve ser evitada, pois penaliza demais os alunos. Não obstante às possíveis imperfeições no projeto, o presidente da Federação das Associações de Pais de alunos, Mário de Assis, ressaltou a importância do envio do plano de carreira já no primeiro ano do governo Aécio Neves. "A ausência do plano, em anos anteriores, já foi responsável por muitas greves na rede pública, o que ninguém mais quer", enfatizou.

Avaliação de desempenho gera dúvidas

O secretário adjunto de Educação, João Antônio Filocre, rebateu as críticas dos servidores em relação a outro ponto polêmico do projeto, que é a avaliação de desempenho. Os servidores querem que, caso o governo não realize as avaliações no tempo devido, que os trabalhadores sejam automaticamente considerados aptos à promoção ou progressão. O secretário adjunto garantiu que as avaliações começarão a ser feitas em 1º de julho e que não há motivos para apreensão.

Sobre a promoção por escolaridade adicional (servidor que tiver concluído curso além do exigido em seu nível), não contemplada no atual plano, João Antônio Filocre disse que um decreto posterior regulamentará a questão. Tanto o secretário adjunto quanto a representante da Seplag garantiram que essa promoção poderá reduzir o intervalo de cinco anos entre uma promoção e outra. "Assim como o intervalo pode ser maior, se o servidor não tiver a escolaridade exigida para o cargo", alertou Jomara Alves da Silva.

Projeto pode ser melhorado com apresentação de emendas

O deputado Rogério Correia (PT) afirmou que o maior problema do Projeto de Lei 1.294/03 poderá ser sanado através de emenda já apresentada em Plenário, que determina um prazo de 30 dias a partir da publicação da lei, para que o governador envie as tabelas com a política remuneratória. "O ideal seria que as tabelas tivessem chegado junto com o projeto, mas se não foi possível, pelo menos que o governo tenha um prazo para isso". Segundo ele, o bloco PT/PCdoB já tem cerca de 30 outras emendas que deverão ser apresentadas ao projeto, nos próximos dias. O deputado ressaltou que um acordo entre os parlamentares da oposição e da base de apoio ao governo vai garantir agilidade na apreciação do projeto, que deverá ir para a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária ainda nesta quinta-feira (13).

O deputado Paulo Piau, autor do requerimento para a realização da audiência, disse que o plano de carreira proposto pelo ex-governador Itamar Franco, enviado à Assembléia em 2002, foi considerado tecnicamente ineficiente, uma vez que misturava o plano de carreira com o estatuto dos servidores, por isso não chegou a ser aprovado. O parlamentar chamou a atenção para o fato de que o plano proposto pelo governador Aécio Neves, quando chegou à Assembléia, apresentava o mesmo problema. Contudo, segundo o parlamentar, o estatuto, contido no Projeto de Lei Complementar (PLC) 52/2004, está sendo ajustado para não atrapalhar a tramitação do plano de carreira.

Modelo econômico é criticado

A deputada Jô Moraes (PCdoB) pediu aos servidores da educação que procurem unificar as ações na busca de uma política remuneratória mais justa. "A luta continua, vai muito além do plano de carreira". Na opinião da deputada, os professores não podem continuar "pagando a conta" pelos déficits orçamentários do governo. "Existem setores que ganharam nos últimos anos, que agora eles dêem sua parcela de sacrifício", ressaltou. O deputado Laudelino Augusto (PT) reforçou a posição da deputada, criticando o que ele chamou de "lógica neoliberal" do governo estadual, onde o gasto com educação é visto como despesa e não como investimento. O deputado Chico Simões (PT) também criticou o modelo econômico adotado em Minas, onde, segundo ele, o servidor é desprestigiado, como parte da estratégia de esvaziar as funções do Estado.

Já o deputado Domingos Sávio (PSDB), presidente da Comissão de Administração Pública, concordou com os argumentos apresentados pela Seplag. "Não se pode pensar a questão salarial do servidor público sem levar em conta o caixa público. Salário se paga com fluxo de caixa", alertou. O presidente admitiu que o assunto é complexo e que é difícil agradar a todos os envolvidos, mas pediu cooperação dos sindicalistas para que a apreciação do projeto possa ser feita o mais rápido possível.

Presenças - Participaram da reunião da manhã os deputados Domingos Sávio (PSDB), presidente; Paulo Piau (PP), vice; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); Rogério Correia (PT), Laudelino Augusto (PT), Carlos Pimenta (PDT); Chico Simões (PT); e as deputadas Jô Moraes (PCdoB), Ana Maria Resende (PSDB) e Maria José Haueisen (PT).

 

 

 

 

 

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