300 mil pessoas vão ficar sem atendimento bancário em suas
cidades
Depois de fechar 25 agências pioneiras do antigo
Bemge em pequenas cidades do interior do Estado, o banco Itaú ainda
pretende fechar outras 43 unidades de atendimento, deixando 300 mil
pessoas sem acesso a serviços bancários em suas cidades. O alerta
foi feito pelo presidente do Sindicato dos Bancários de Belo
Horizonte e Região, Fernando Ferraz Neiva, que participou de reunião
conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Orçamentária e
de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa
nesta terça-feira (11/5/04). A reunião foi solicitada pelos
deputados Mauro Lobo (PSB), Antônio Júlio (PMDB), Chico Simões (PT)
e Paulo Cesar (PFL).
A decisão de fechar essas agências revolta os
moradores e preocupa os prefeitos das cidades afetadas. Segundo o
consultor da Associação Mineira de Municípios (AMM), Tadeu José de
Mendonça, em muitas pequenas cidades essas agências são a única
opção para pagamentos de tributos e recebimento de salários,
aposentadorias e pensões. Ele reclamou também que a decisão de
encerrar as atividades dessas unidades foi unilateral, sem levar em
conta os apelos dos prefeitos. Segundo Tadeu, algumas prefeituras
inclusive arcavam com as despesas de manutenção das agências, como
limpeza, aluguel de imóveis e até transporte de valores.
O Sindicato dos Bancários se preocupa ainda com as
demissões decorrentes da redução da rede Bemge. Segundo o presidente
do sindicato, cerca de 180 bancários vão perder seus empregos com o
encerramento das agências pioneiras. Desde 1998, ano da aquisição do
banco pelo Itaú, 8 mil postos de trabalho foram cortados, ainda de
acordo com o sindicato. Fernando Neiva criticou também o argumento
do banco de que as agências que estão sendo fechadas são
deficitárias. Só a agência de São Roque de Minas, segundo ele, é
responsável pelo pagamento de 560 aposentados e 263 servidores
municipais. "O banco não tem prejuízo, não há argumentos para
justificar o fechamento dessas agências", condenou. No ano passado,
o lucro do Itaú foi de R$ 3,152 bilhões, segundo o sindicato.
Contrato de prestação de serviços é
criticado
O contrato firmado entre o Itaú e o governo do
Estado para a prestação de serviços bancários também foi duramente
criticado pelos participantes da reunião. De acordo com o deputado
Ermano Batista (PSDB), que presidiu a reunião, o primeiro contrato
foi firmado em 1998, quando o Bemge ainda era estatal. Previa o
pagamento dos servidores e fornecedores do Estado pelo Bemge e a
movimentação de toda a arrecadação com impostos estaduais pelo
banco. "Como o banco era estatal, esse contrato dispensava
licitação", disse o deputado. Em 2002, esse contrato foi renovado,
podendo ser prorrogado até 2010, sem nova licitação. "Essa renovação
feriu a legislação em vigor, já que foi feita sem licitação",
explicou Ermano Batista. Pela renovação do contrato, segundo o
parlamentar, o Itaú pagou ao Estado R$ 150 milhões, emprestou outros
R$ 85 milhões e ainda cedeu o prédio onde funcionou a sede do Bemge,
na Praça Sete.
Uma das cláusulas desse contrato diz que o
fechamento das agências pioneiras só pode ser feito após negociação
com a Secretaria de Estado da Fazenda (SEF), de modo que os
municípios que só contam com os serviços do Bemge não fiquem
prejudicados. O Itaú teria que comunicar o Estado da decisão com 90
dias de antecedência, conforme o contrato. O deputado Chico Simões
(PT) fez questão de lembrar essas duas cláusulas e ainda emendou:
"R$ 3 bilhões é um lucro estupendo, e o Estado de Minas Gerais teve
participação importante na obtenção desse lucro". Segundo o
parlamentar, no ano passado o Estado pagou ao Itaú R$ 3,6 milhões
pela prestação de serviços. Somente a arrecadação do Estado,
movimentada pelo Itaú, foi de R$ 10,8 bilhões em 2003, de acordo com
Chico Simões.
Itaú justifica fechamento de agências
O ouvidor do Itaú, Aldous Albuquerque, esteve
presente à reunião, mas se limitou a ler um documento elaborado pela
diretoria regional do banco. No relatório, o Itaú alega que a
manutenção das agências pioneiras se tornou inviável por causa da
baixa aceitação dos cheques do Bemge e da obsolescência dos
equipamentos das unidades que ainda ostentam a bandeira do antigo
banco estatal. O Itaú alega também que as agências inviáveis estão
sendo "incorporadas" pelas unidades do Itaú mais próximas, e os
clientes serão beneficiados com a oferta de serviços de maior
qualidade.
Ainda de acordo com a justificativa apresentada
pelo Itaú, a decisão de fechar essas agências foi tomada após uma
avaliação criteriosa, de modo a minimizar o impacto da mudança. O
Itaú alega também que procura dar toda a assistência possível aos
clientes da remanescente rede Bemge e se dispõe a analisar eventuais
"casos de exceção". Segundo o banco, todas as prefeituras foram
comunicadas com antecedência e todas as decisões relativas ao
fechamento das agências está amparada no contrato de prestação de
serviços com o Estado. O representante do Itaú garantiu que todas as
reivindicações apresentadas pelos prefeitos das cidades afetadas
pelo fechamento das agências serão encaminhadas ao presidente do
banco.
O representante da SEF, Antônio Eduardo dos Santos,
garantiu que todas as cláusulas do contrato estão "rigorosamente em
dia". Segundo ele, o contrato prevê a possibilidade de o Estado
arcar com os custos de manutenção das agências pioneiras, mas isso
não é possível no momento, por causa das dificuldades financeiras
enfrentadas atualmente. O secretário adjunto de Estado de Assuntos
Municipais, Aristides Vieira, no entanto, garantiu que o governador
Aécio Neves está preocupado com o fechamento das agências e dará o
apoio necessário às ações a serem desenvolvidas para reverter os
prejuízos causados pela decisão.
Deputados criticam fechamento de agências
O fechamento das agências pioneiras foi duramente
criticado por todos os deputados presentes. O deputado Paulo Cesar
não concorda com a decisão e conclamou os prefeitos das cidades
prejudicadas a fazerem vigília como forma de pressionar pela
reabertura das agências. O deputado Mauro Lobo lembrou a importância
dos bancos para qualquer cidadão e também reclamou do fechamento das
agências. O deputado Carlos Pimenta (PDT) também protestou: "Me
sinto traído porque fui favorável à privatização do Bemge".
O deputado Doutor Viana (PFL) também lembrou que a
aquisição do Bemge foi importante para os sucessivos lucros recordes
do Itaú. O deputado Domingos Sávio (PSDB) alertou que os moradores
das cidades cujas agências fecharam vão ficar marginalizados. O
deputado Célio Moreira (PL) disse que alguns correntistas terão que
andar mais de 100 quilômetros para chegarem até suas agências. O
deputado André Quintão (PT) apelou para a sensibilidade social que o
Itaú diz ter. "Será que uma parcela do lucro do Itaú não pode evitar
o fechamento das pequenas agências?", questionou.
A AMM propôs a criação de um canal de negociação
entre o Itaú, as prefeituras e o governo do Estado, com participação
da Assembléia, para evitar o fechamento das agências. A idéia
recebeu o apoio de todos os deputados presentes e foi transformada
num requerimento de autoria coletiva. Também foi aprovado um
requerimento do deputado Chico Simões para a realização de audiência
pública com representantes da SEF, da Advocacia Geral do Estado e do
Itaú para discutir a renovação do contrato de prestação de serviços
pelo banco. Outro requerimento do mesmo deputado pede à SEF
explicações sobre a negociação para o fechamento das agências
pioneiras conforme prevê o contrato.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Ermano Batista (PSDB), que a presidiu;
Carlos Pimenta (PDT), Wanderley Ávila (PPS), Fávio Avelar (PTB),
João Bittar (PL), Cecília Ferramenta (PT), Adalclever Lopes (PMDB),
Célio Moreira (PL), Antônio Júlio (PMDB), Mauro Lobo (PSB), Dalmo
Ribeiro Silva (PSDB), Chico Simões (PT), Doutor Viana (PFL), José
Henrique (PMDB), Sebastião Helvécio (PDT), André Quintão (PT) e
Domingos Sávio (PSDB). Também estiveram presentes o representante da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Carlos Muzzi, e o assessor
jurídico do Procon Estadual, Ricardo Augusto Amorim.
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