Construção de hidrelétrica pode prejudicar turismo no Vale do Aço

Cerca de 350 pessoas, entre estudantes, ambientalistas, políticos e moradores, lotaram o auditório da Unileste, em Co...

11/05/2004 - 00:01
 

Construção de hidrelétrica pode prejudicar turismo no Vale do Aço

Cerca de 350 pessoas, entre estudantes, ambientalistas, políticos e moradores, lotaram o auditório da Unileste, em Coronel Fabriciano, Vale do Aço, nesta terça-feira (11/5/04), em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa. A reunião debateu a construção de uma pequena central hidrelétrica (PCH) em Cachoeirão, zona rural da cidade, cuja licença, expedida pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) em novembro de 2003, está sendo questionada na Justiça pelo Ministério Público. O projeto e a construção da hidrelétrica estão a cargo da Centrais Elétricas da Mantiqueira, empresa com sede no Rio de Janeiro.

"No laudo pericial da Feam, os técnicos constataram que o empreendimento provocaria supressão de espécies em extinção, de espécies ainda não-catalogadas e de sítios arqueológicos. Depois, contraditoriamente, concluíram a favor da obra", acusou o promotor local, Herman Lott. "Tenho convicção de que houve intervenção do poder econômico nessa liberação", prosseguiu. Ainda segundo o promotor, um laudo técnico feito posteriormente pelo Ministério Público concluiu que a PCH em Cachoeirão seria altamente impactante, com prejuízos irreversíveis para o meio ambiente e para o potencial turístico da região.

Empregos - De acordo com o promotor Herman Lott, outro problema é o baixo número de empregos gerados na construção de pequenas centrais elétricas. "Esse problema é bastante conhecido. As usinas são construídas em um espaço de tempo relativamente curto e, até entrar em operação, geram alguns empregos. Depois, o número de vagas não passa de três", afirmou. O número reduzido de empregos gerados também foi mencionado pelo gerente do escritório regional do Ibama, João Alves Franco. Ele lembrou que, mesmo com a autorização dos órgãos estaduais, a liberação da obra deve ter a anuência do órgão federal.

"Essa região está preservada há 40 anos", lembrou o coordenador do Movimento SOS Cachoeirão, Benedito Pacífico da Rocha, que levou a denúncia ao Ministério Público. O bispo emérito da Diocese de Itabira e de Coronel Fabriciano, Dom Lélis Lara, também manifestou-se contrário à construção da usina.

Empresa afirma que obra foi solicitada pela Eletrobras

O gerente de Meio Ambiente da Centrais Elétricas Mantiqueira, Filadelfo Ferreira de Souza Filho, discordou das críticas feitas à empresa e ao empreendimento que deve ser construído na área do Cachoeirão. "Não temos nenhum capital estrangeiro. Temos uma concessão pública para explorar a geração de energia por meio de usinas de até 30 megawatts, conforme recomendado pelo Protocolo de Kioto", defendeu. Segundo o gerente da empresa, duas leis federais recentes incentivam a construção desse tipo de empreendimento, além de a construção da própria PCH Cachoeirão ter sido determinada pela Eletrobras, execução para a qual a empresa se ofereceu. "Estamos construindo a usina em nome do governo federal", afirmou.

De acordo com Filadelfo Filho, todas as etapas do projeto estão seguindo as determinações da lei e dos órgãos de fiscalização. "São quatro anos e meio de estudos técnicos, julgados exaustivamente pela Feam, que infelizmente não está aqui representada para comprovar", disse. A Feam foi convidada para a reunião mas não enviou representante.

Ainda segundo Filadelfo Filho, vários representantes da comunidade e do poder público de Fabriciano estiveram na Feam para se inteirar sobre o andamento dos estudos de impacto ambiental. "A empresa está interessada em desenvolver um projeto ecologicamente sustentável e socialmente justo. Não queremos a comunidade contra nós", disse, acrescentando que a empresa divulgou diversas reuniões públicas convocando debates sobre o assunto. Segundo ele, além de cumprir os atos legais, a empresa firmou compromissos com a comunidade visando ao incentivo ao turismo.

"Como prefeito na época, não houve convite para nenhuma reunião", disse o deputado Chico Simões (PT). Outros participantes que usaram a palavra durante a reunião também ressaltaram que esses encontros não foram realizados.

Deputados pedem esclarecimentos

"O problema de Cachoeirão parece-me parecido com o da Mina de Capão Xavier, em Belo Horizonte, em que o poder econômico está se sobressaindo até sobre a Justiça do Estado", alertou o deputado Leonardo Quintão (PMDB). O parlamentar informou que vai proceder estudos para verificar se a área do Cachoeirão pode ser considerada manancial especial. Já Chico Simões ressaltou a necessidade de chamar a população à discussão sobre o assunto, para se buscar a melhor solução. "A obrigação da Assembléia Legislativa é não só fazer leis e fiscalizar, como também ouvir a sociedade em seus diversos segmentos, sem idéias pré-concebidas", afirmou. A realização de debates entre a sociedade, a empresa e o poder público da região também foi salientada pelo deputado Doutor Ronaldo (PDT), que presidiu a reunião.

Requerimentos - Quatro requerimentos, todos do deputado Chico Simões (PT), foram aprovados durante a reunião. Um deles solicita ao presidente da Copam a realização de audiência para ouvir a população de Coronel Fabriciano sobre a instalação da PCH. Outro solicita ao prefeito de Coronel Fabriciano que retarde, nos limites legais, o fornecimento de documentos e autorizações que objetivem concretizar a instalação da PCH, até que seja julgado o mérito da ação civil pública proposta pela Promotoria local.

Os outros dois requerimentos são no sentido de pedir ao Copam a suspensão da licença concedida à empresa Centrais Elétricas da Mantiqueira para a construção da PCH, até que sejam aprofundados os estudos sobre as conseqüências do empreendimento, constantes do relatório da Feam; e informar ao Iphan sobre a possibilidade de perda de sítio arqueológico na região do Cachoeirão, constante do mesmo relatório.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Doutor Ronaldo (PDT), vice-presidente, Leonardo Quintão (PMDB) e Chico Simões (PT).

 

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