Deputados criticam taxas de cartório para cédulas rurais

A decisão da entidade que congrega os cartórios de aumentar de R$ 17,52 para R$ 60,00 a taxa de registro de títulos d...

11/05/2004 - 00:00
 

Deputados criticam taxas de cartório para cédulas rurais

A decisão da entidade que congrega os cartórios de aumentar de R$ 17,52 para R$ 60,00 a taxa de registro de títulos de financiamentos rurais provocou protestos dos produtores rurais e ações na Justiça, por iniciativa da Faemg. O assunto foi trazido ao conhecimento dos deputados, durante os trabalhos da Comissão Especial da Cafeicultura Mineira por produtores do Sul de Minas, e motivou a audiência pública da Comissão de Administração Pública nesta terça-feira (11/5/04).

O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que pediu a reunião, fez um histórico do problema e levantou dúvidas sobre a existência de amparo para a decisão dos cartórios na legislação que rege o assunto. Em seguida, Marcos Abreu, assessor jurídico da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), detalhou os procedimentos exigidos dos produtores que tomam empréstimos bancários, entre eles o de inscrever as cédulas de financiamento nos cartórios de registro de imóveis. Abreu criticou a dupla cobrança dos cartórios, quando o banco exige também garantia hipotecária para o empréstimo. Expôs também que a legislação federal estabelece o preço de R$ 17,52 para a inscrição, e que a legislação estadual prevê emolumentos que vão de R$ 109 a mais de R$ 2 mil. "A meu juízo, é a legislação federal que deve prevalecer", afirmou.

Elias Jorge Zenum, presidente da Associação dos Sindicatos dos Produtores Rurais do Sul de Minas, relatou abusos nas cobranças de emolumentos sobre os financiamentos para plantio de batatas no município de Campestre, que chegaram a R$ 850,00 para um produtor e inviabilizaram sua atividade. Zenum denunciou ainda que o desconto é feito na conta pelo próprio banco em favor do cartório na liberação do financiamento.

Bancos penhoram colheita e exigem hipoteca

"O grande vilão é o banco", afirmou Francisco José Rezende dos Santos, que compareceu à audiência na posição de produtor rural, membro da Faemg e presidente da Associação dos Serventuários de Justiça de Minas Gerais (Serjus), a entidade que congrega os cartórios. Santos argumentou que os bancos, em busca de dupla garantia, penhoram a colheita e ainda exigem hipoteca da fazenda. E se for exigida garantia de várias pequenas glebas, a taxa tem que ser cobrada sobre cada uma.

"Os titulares dos cartórios têm que observar a lei para cobrar emolumentos, caso contrário terão que tirar do próprio bolso para recolher a taxa de fiscalização", justificou Francisco Santos, revelando aos deputados que essa taxa criada pelo Tribunal de Justiça vai até 100% do valor do emolumento. Embora admita que os cartórios se sujeitarão a qualquer valor que seja arbitrado pela Corregedoria de Justiça, disse que a luta é para que o valor máximo seja de 25% do salário mínimo. "Os tabeliães se rebelaram contra o congelamento da taxa nos R$ 17,62 e resolveram atualizá-la aos níveis em que estava em 1997", informou.

O presidente da Comissão, Domingos Sávio (PSDB), questionou imediatamente a atitude dos cartórios: "Os serventuários não podem mexer na tabela por mero acordo entre eles. Isso é afronta à legislação. Que procurem as instâncias superiores", recomendou o deputado. "Cabe a nós procurar estabelecer, na legislação estadual, os limites para essas cobranças, e devemos discutir uma legislação específica para as hipotecas", acrescentou.

Sindicato ganhou liminar e sentença

Dalmo Ribeiro Silva considerou "corretas" as colocações de Francisco Rezende, "mas não nos convencem. A legislação não dá cobertura jurídica para essas cobranças", opinou. Estimulados por Ribeiro Silva, diversos líderes rurais relataram aos deputados casos específicos ocorridos em suas regiões. José Carlos Alessandro Bueno, de Varginha, disse que seu sindicato entrou na Justiça contra o cartório, ganhou liminar e sentença, mas que mesmo assim teve que garantir o direito com mandado de segurança. Outros produtores elogiaram a busca de consenso através do diálogo, e Elias Zenum, de Campestre, declarou-se surpreso com a receptividade dos deputados a seus problemas.

No encerramento, Domingos Sávio propôs convite ao presidente do Tribunal de Justiça, Márcio Antônio Correia Marins, para expor o ponto de vista do Judiciário na questão e para que se pronuncie também sobre a cobrança cumulativa de registros de hipoteca. Domingos Sávio também anunciou que vai apresentar requerimento dirigido ao presidente do TJ, pedindo que notifique os cartórios de registro de imóveis para que respeitem a legislação federal e pratiquem o preço de R$ 17,52 para registro das cédulas rurais.

Presenças - Deputados Domingos Sávio (PSDB), presidente, e Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), e a deputada Jô Moraes (PCdoB).

 

 

 

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