Deputados comprovam que cadeia de Caratinga não tem recuperação

As soluções para a situação carcerária de Caratinga são duas: a adoção do método Apac para os presos que se compromet...

06/05/2004 - 00:00
 

Deputados comprovam que cadeia de Caratinga não tem recuperação

As soluções para a situação carcerária de Caratinga são duas: a adoção do método Apac para os presos que se comprometerem com o projeto de recuperação, e a construção de um presídio fora dos limites da cidade, num terreno de 50 hectares oferecido pela Prefeitura. Essas alternativas foram apresentadas pelo deputado Mauro Lobo (PSB), durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos realizada nesta quinta-feira (6/5/2004) na Câmara Municipal de Caratinga.

Diante dos questionamentos dos vereadores e jornalistas sobre a origem dos recursos para a construção de um novo estabelecimento penal, o presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo (PT) esclareceu que podem vir da Taxa de Segurança Pública e do Fundo Penitenciário. O deputado Adalclever Lopes (PMDB) propôs que o novo presídio fosse construído através do programa de parcerias público-privadas, sob o argumento de que a custódia dos presos custaria ao Estado a metade dos atuais R$ 1.800,00 mensais que custa cada preso. O deputado Roberto Ramos (PL), exortou a sociedade de Caratinga a assumir as responsabilidades pela recuperação dos presos pelo método Apac, e não pensar que tudo é obrigação do prefeito ou do governador.

Antes da audiência, os quatro deputados vistoriaram a cadeia pública, um prédio construído em 1930, em péssimas condições, onde se amontoam 230 presos num espaço concebido para 44. As paredes da cadeia e o teto estão chamuscados e enegrecidos pelo resultado da última rebelião, em 29 de março, quando os presos atearam fogo aos colchões, como protesto pela má qualidade da comida. Nos últimos oito meses, ocorreram cinco rebeliões naquela instalação, obrigando as autoridades a fazerem transferências para cadeias de cidades próximas.

16 mulheres trancadas numa cela

Durante a vistoria, os deputados dialogaram com os presos e anotaram muitos nomes dos que alegam já ter cumprido a pena, para solicitar sua liberação. Apuraram também casos de doenças graves, como tuberculose e Aids, cujos portadores convivem no mesmo espaço com presos sadios. Numa única cela, estão "enjauladas" 16 mulheres, com direito a banho de sol apenas uma vez por semana.

Os vereadores e lideranças de Caratinga compareceram em massa à audiência pública. Também o juiz titular da Vara Criminal, José Clemente Piedade de Almeida e o promotor de Justiça Samuel Saraiva Cavalcante, o prefeito Ernane Campos Porto e o delegado regional de Polícia, Sílvio Pagy Corrêa, bem como o comandante da 74ª Cia. Especial da PMMG, Capitão Wanderson Stenner Alves. O método desenvolvido pela Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) de Itaúna foi explicado pelo deputado Durval Ângelo. Segundo ele, o método está baseado em princípios cristãos de humanização do preso, com quatro etapas: recuperar o homem, promover a Justiça, assistir as vítimas e proteger a sociedade. Além de Durval Ângelo, também o deputado Roberto Ramos é entusiasta do método Apac.

Presídio pode ir para longe

Em Caratinga, o modelo de Itaúna tem como defensor o vereador Sebastião Alves Batista, que também preside a Comissão de Direitos Humanos da OAB. O vereador explicou que 80% dos presos de Caratinga são da região e estão cumprindo pena por pequenos furtos e crimes ligados a drogas. "Ou seja, o problema é regional e a sociedade pode assumir seu papel na recuperação. Aí deve ser colocada nossa ênfase. O presídio pode ir para longe", afirmou. Houve, contudo, consenso entre as autoridades de que é preciso ter as duas coisas.

O modelo Apac exige participação da sociedade com voluntariado e doações, sensibilidade da magistratura e adesão do preso, que passa a se chamar "recuperando". Os índices de recuperação da Apac são grandes, e os de fuga são mínimos. O deputado Mauro Lobo demonstrou também que o sistema é mais vantajoso para o Estado: "Enquanto um preso comum custa cerca de R$ 1.800,00 mensalmente para o Estado, o recuperando da Apac custa apenas R$ 350,00".

Mas também é preciso haver cadeia para os presos que não aceitarem a metodologia da Apac. O delegado Sílvio Corrêa revelou que há 440 mandados de prisão para cumprir em sua jurisdição, dentre os 70 mil emitidos no Estado. O prefeito Ernane Campos Porto disse que os moradores vivem assustados com as sucessivas rebeliões, e ofereceu um terreno de 50 hectares a dois quilômetros da cidade, para o Estado construir um presídio. "Basta que o projeto passe pela Câmara", afirmou.

Mutirão processual em julho

O promotor Samuel Cavalcante, que assumiu o posto na Vara Criminal há apenas três dias, disse que encontrou uma situação "caótica e estarrecedora", com mais de 1.200 processos com carga. Cavalcante reivindicou uma vara de execução penal em Caratinga e anunciou que pretende realizar em julho um mutirão para atualizar o serviço. Seus pedidos foram encampados pelo deputado Mauro Lobo, na forma de requerimentos ao Presidente do Tribunal de Justiça e ao Diretor da Faculdade Integrada de Caratinga, para a cessão de alunos de Direito, que ajudariam no trabalho.

Outros quatro requerimentos foram aprovados durante a audiência, um pedindo providências da Secretaria de Defesa Social para solucionar o problema da qualidade da alimentação dos presos, e dois pedindo à Corregedoria da PM para apurar denúncias de tortura por parte de quatro policiais militares. Em outro requerimento, Durval Ângelo propõe marcar também uma visita das comissões de Direitos Humanos e Segurança Pública ao secretário da Defesa Social para levar a proposta da sociedade de Caratinga em relação à questão prisional do município.

Presenças - Participaram da audiência os Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice-presidente; Mauro Lobo (PSB) e Adalclever Lopes (PMDB). Ernane Campos Porto, prefeito de Caratinga; José do Carmo Fontes, presidente da Câmara Municipal; José Clemente Piedade de Almeida, juiz titular da Vara Criminal da Comarca de Caratinga; Samuel Saraiva Cavalcante, promotor de Justiça; Sílvio Henrique Pagy Corrêa, delegado regional e Capitão Wanderson Stenner Alves, comandante da 74ª Cia PMMG.

 

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