Acidentes e doenças de trabalho são discutidos em reunião conjunta

As comissões de Saúde e do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa realizaram nesta quint...

06/05/2004 - 00:01
 

Acidentes e doenças de trabalho são discutidos em reunião conjunta

As comissões de Saúde e do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa realizaram nesta quinta-feira (6/5/04) audiência pública conjunta para discutir acidentes de trabalho e doenças profissionais. Participaram da reunião, solicitada por requerimento da deputada Jô Moraes (PCdoB): compondo a mesa, além de deputados, representantes da Secretaria de Estado da Saúde, Ministério do Trabalho, Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG) e Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetaemg); e fazendo uso da palavra na fase de debates, diversas entidades representativas dos trabalhadores.

"Minas é o Estado com o segundo maior índice de acidentes de trabalho no País", criticou a diretora regional da Fundacentro, Marta de Freitas. Após lamentar a morte de um trabalhador a cada duas horas, ela afirmou que para essa situação acabar, só com medidas de segurança e controle nas empresas. "Temos política para idosos e outros grupos, mas não temos para a saúde do trabalhador", declarou, sugerindo que a Assembléia atue na criação dessa política estadual. Marta lembrou ainda que o 28 de abril foi transformado pela Organização Internacional do Trabalho em Dia Internacional de Segurança e Saúde no Trabalho. Mesmo reconhecendo o esforço dos órgãos das três esferas nessa área, ela lamentou que o Brasil continua sendo o campeão mundial de acidentes de trabalho.

O procurador do Ministério Público do Trabalho, Antônio Carlos Oliveira Pereira, reclamou que o trabalhador acidentado no Brasil recebe valores baixos de indenização das empresas, e esse custo é repassado para a sociedade. E para agravar a situação, o governo federal não está buscando a reparação pelas empresas que provocaram acidentes de trabalho, acrescentou Pereira. Ele disse também que o problema não é de leis, mas de seu cumprimento, exemplificando com a Lei Estadual 12.971, de 1998, que obriga a instalação de dispositivos de segurança nos bancos. A lei obriga também os bancos a fornecerem coletes aos vigilantes e terem vidros à prova de bala. De acordo com o promotor, o MP já ingressou com ações civis públicas contra os bancos para que cumpram a lei, mas até hoje, não obteve sucesso. "O sentimento que fica é de impunidade", reclamou.

Ministério busca orientar, não só multar empresas

O titular da Delegacia Regional do Trabalho em Minas, Carlos Calazans, disse que atualmente a postura do Ministério é a de orientar as empresas, e não simplesmente aplicar multas. Um dos trabalhos nesse sentido estaria sendo feito junto às construtoras: "Fizemos uma maquete de um prédio de 15 andares para mostrar como construir com segurança". Para mostrar a complexidade da questão trabalhista, ele citou um fato na última quarta-feira (5), quando a Justiça liberou o funcionamento de 53 prensas em uma indústria. Segundo Calazans, a DRT tinha interditado as máquinas por serem antigas e obsoletas, e já haviam provocado diversos acidentes com os operadores.

A coordenadora de Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado da Saúde, Kátia Gonçalves, divulgou a Rede Nacional de Atenção Integral à Saude do Trabalhador (Renast). Segundo ela, já foram instalados sete centros em cidades-pólo do Estado e nesta quinta-feira seria inaugurado o oitavo, em Uberlândia. Kátia considerou a Renast um grande avanço para os trabalhadores mineiros e do Brasil.

Sindicalistas questionam peritos do INSS

Representantes dos bancários, metalúrgicos e de trabalhadores em indústrias de artefatos de borracha questionaram laudos feitos por peritos do INSS. Eles afirmaram que a perícia do instituto tem considerado como comuns doenças que são claramente profissionais. Foram relatados casos de peritos que atuam tanto no INSS quanto em empresas, o que levaria a uma atuação não isenta.

Luciana Duarte, do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte, acrescentou que um terço dos bancários está com Lesão por Esforços Repetitivos (LER). E informou também que, quando o INSS não estabelece nexo da doença com o trabalho, prejudica o trabalhador, que não consegue ter sucesso na ação contra a empresa. Gilberto André, do Sindicato dos Metalúrgicos de BH e Contagem, protestou contra a morte de mais um trabalhador nesta quarta-feira, esmagado por uma prensa numa indústria em Contagem. Ele questionou a atuação dos peritos que encaminhariam trabalhadores acidentados a Centros de Reabilitação Profissional do INSS. "Esses centros de reabilitação não existem!", disparou André, concluindo que o trabalhador, por isso, acaba demitido.

INSS - Representando a Superintendência do INSS em Minas, Ângela Maria Davi respondeu aos trabalhadores. Ela considerou inadmissível um médico trabalhar para uma empresa e fazer perícia, registrando que profissionais com essa dupla atuação seriam demitidos. Ângela afirmou também que a grande reivindicação dos servidores do INSS era a profissionalização da perícia na previdência. O fato de muitos peritos serem terceirizados contribuiria, na avaliação dela, para os problemas relatados.

A diretora informou que o MP já teria feito um Termo de Ajustamento de Conduta com o INSS, que se comprometeu a fazer concurso para peritos, eliminando a terceirização do cargo. Ângela reconheceu a deficiência dos Centros de Reabilitação Profissional, afirmando que o INSS não tinha reabilitadores suficientes: "Os quadros de reabilitadores tem que ser recompostos".

Deputados avaliam questão e fazem propostas

O deputado Fahim Sawan (PSDB) colocou a Comissão e a Frente Parlamentar de Saúde da Assembléia, das quais é membro, à disposição para encaminhar soluções quanto a acidentes de trabalho e saúde do trabalhador. Sobre a dupla atuação dos médicos, ele disse que era uma questão ética e que o Conselho Regional de Medicina deveria ser acionado para investigar os casos. Ao responder à questão de um representante dos mineiros da Morro Velho, Fahim informou que a força-tarefa de auxílio às vítimas da silicose da mina já estava sendo criada pelo governo do Estado. A proposta surgiu numa audiência pública da Assembléia que discutiu esse assunto, em março.

O deputado Doutor Viana (PFL) disse que era dever dos deputados trazer essas discussões para a Assembléia, criar leis visando solucioná-las e fiscalizar sua execução. Mas Viana assumiu que eles estavam falhando na fiscalização: "Temos leis que garantem a saúde e a segurança; precisamos fazer com que sejam cumpridas", conclamou o deputado. A deputada Jô Moraes contrapôs a modernização tecnológica ao retrocesso nas condições de trabalho, que, segundo ela, só têm piorado. Concordando com Doutor Viana sobre o arcabouço legal, ela apresentou uma solução diferente: "O que falta é um pacto institucional de peso para a fiscalização e o controle no trabalho", concluiu.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente da Comissão de Saúde; Fahim Sawan, vice; Neider Moreira (PPS), Doutor Viana (PFL) e Jô Moraes (PCdoB). Além dos convidados citados, participaram também o coordenador do Coletivo de Saúde da CUT, Guilherme Ribeiro Câmara, e o presidente da Fetaemg, Vilson Luiz da Silva.

 

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