Autoridades esclarecem leilões de carros apreendidos

O chefe do Detran, delegado José Antônio de Moraes, e o procurador Maurício Leopoldino da Fonseca, da Advocacia Geral...

29/04/2004 - 00:00
 

Autoridades esclarecem leilões de carros apreendidos

O chefe do Detran, delegado José Antônio de Moraes, e o procurador Maurício Leopoldino da Fonseca, da Advocacia Geral do Estado prestaram esclarecimentos à Comissão Especial dos Depósitos de Veículos Apreendidos. Eles trataram da superlotação dos pátios da empresa Logiguarda, que guarda quase sete mil carros apreendidos em Belo Horizonte, numa experiência de terceirização iniciada há dois anos e meio. A reunião, que teve a participação dos diretores dessa empresa, aconteceu na manhã desta quinta-feira (29/4/2004), na Assembléia.

Moraes, do Detran, disse que os leilões são disciplinados pelo artigo 328 do Código Brasileiro de Trânsito, e que há lei federal estipulando a destinação dos recursos apurados nos leilões. Acrescentou que os valores de reboque e diárias praticados pela empresa Logiguarda são diferentes dos contidos na tabela D do Estado. "Desta maneira fica difícil fazer os editais para os leilões e dar seqüência a eles", disse o delegado.

O deputado Irani Barbosa (PL), que participou da vistoria aos pátios atulhados de veículos na última segunda-feira, criticou a negligência do Estado em realizar os leilões previstos na legislação, e recolocou seu receio de que o valor dos veículos leiloados não seja suficiente para cobrir as dívidas e que a diferença tenha que ser coberta pelo Estado, caso a empresa recorra à Justiça. "Essa situação está criando um problemão para a empresa, ou vai criar um problemão para o Estado", afirmou o parlamentar. Para Barbosa, após 90 dias da apreensão, o veículo passa a ser propriedade do Estado, que teria que assumir o passivo das multas, impostos, taxa de reboque e diárias.

Estado tem o direito de receber primeiro

O procurador Maurício Leopoldino da Fonseca disse que estudou o contrato, e que não existe esse risco. Segundo ele, a lei estipula que o valor apurado com o leilão do veículo apreendido seja utilizado em primeiro lugar para quitar impostos, multas e taxas devidas ao Estado. Em segundo lugar, as diárias e taxa de reboque da Logiguarda. Em terceiro, se houver saldo, a lei manda devolver ao proprietário do veículo.

Fonseca respondeu ainda ao deputado Irani Barbosa que o veículo não se torna propriedade do Estado após 90 dias. A propriedade continua sendo do dono, na interpretação do jurista. Mas ele ressalvou que pode haver divergências de interpretação, e que elas devem ser arbitradas pelo Judiciário, sem prejuízo para os esforços do governo e do Legislativo no sentido de aperfeiçoar a legislação.

Moraes, do Detran, deu inúmeros exemplos de carros que seriam pouco mais que sucatas, e que devem altas somas em impostos atrasados, multas, taxas e diárias. Um deles alcançaria menos de R$ 2 mil num leilão, mas que estava devendo R$ 9.152,00, a maior parte em diárias acumuladas ao longo do tempo, ao preço de R$ 28,00 o dia. Moraes descreveu outra dificuldade: "Para leiloá-lo, é preciso tirar do pátio da Logiguarda. Só se tira um carro de lá com alvará. Para o alvará, é preciso quitar as despesas. Daí a dificuldade em fazer o leilão".

No entanto, Moraes revelou que os leilões são feitos no interior, onde os carros ficam em pátios das delegacias de polícia, terrenos da Prefeitura ou na via pública. O procurador Fonseca informou que, se não houver saldo para cobrir as diárias, o prejuízo é da empresa, e acrescentou que a terceirização desses serviços foi feita para dar segurança aos veículos sob guarda do Estado.

Deputados querem soluções para os leilões e o cumprimento dos contratos

O presidente da Comissão Especial dos Depósitos de Veículos Apreendidos, deputado Mauro Lobo (PSB), interrogou detalhadamente os empresários sobre o desempenho financeiro do contrato, e as autoridades sobre os embaraços dos leilões e estranhou que um deles seja a cobrança de taxas pela tabela D. Para Lobo, só o Estado pode cobrar taxas. O nome correto para a cobrança da empresa deve ser tarifa, de acordo com o deputado.

O deputado Antônio Júlio lamentou a ausência de representante da Secretaria da Fazenda - o que considerou "desrespeito ao empresariado" - e acusou o Estado de não cumprir editais nem contratos. "É por isso que o empresariado foge de Minas. Esta situação coloca em dúvida a capacidade do Estado de terceirizar serviços, e em risco o sucesso da proposta de parcerias público-privadas", alertou o deputado. Também o deputado Adalclever Lopes (PMDB) falou em defesa do cumprimento dos contratos e manifestou apreensão quando ao sucesso das PPP.

Precatórios - O empresário Miguel Campos Santos afirmou taxativamente que a Logiguarda não tem intenção de cobrar do Estado valores que excedam os arrecadados nos leilões. Ele informou que há veículos de alto preço cujo leilão pagaria a dívida de impostos e multas ao Estado, as diárias e o reboque à empresa, e ainda haveria saldo para devolver aos proprietários. "Não queremos encher nosso escritório de precatórios. Queremos dignidade para trabalhar conforme nosso contrato. Queremos colaborar para chegarmos a uma solução, porque somos vítimas de uma situação que não criamos", desabafou.

Vários deputados apresentaram sugestões. Durval Ângelo, do PT, acredita que o que falta é vontade política para fazer os leilões, e sugeriu que os carros em boas condições sejam adaptados para servir à Polícia ou à Saúde Pública, pois há várias cidades em Minas sem viatura ou ambulância. Irani Barbosa sugere que os veículos tenham sua placa cortada e sejam devolvidos aos donos, para evitar "a criação de um passivo gigantesco" para o Estado. Antônio Júlio quer que seja encontrada uma solução para trás e traçado um caminho mais claro para o futuro, e que a experiência pioneira de Belo Horizonte sirva para as terceirizações a serem feitas nas outras cidades de Minas.

Requerimentos - Vários requerimentos foram aprovados na reunião, dando um rumo para as investigações. Antônio Júlio quer que o Detran, a AGE e a Logiguarda apresentem, em 15 dias, sugestões para a realização dos leilões. Quer também um inventário estatístico dos veículos apreendidos, contendo quantidade, motivo da apreensão, ano de fabricação, tempo no depósito, débito total em diárias. Irani Barbosa pediu parecer da AGE sobre a responsabilidade que pode ser atribuída ao Estado. Mauro Lobo quer conhecer o edital que originou a licitação vencida pela Logiguarda, e a íntegra do contrato de concessão.

Presenças - Deputados Mauro Lobo (PSB), presidente; Irani Barbosa (PL), vice-presidente; Antônio Júlio (PMDB), relator; Gilberto Abramo (PMDB), Adalclever Lopes (PMDB), Durval Ângelo (PT), Doutor Viana (PFL), Weliton Prado (PT). Além do empresário citado, compareceu também o diretor operacional da Logiguarda, Domingos Sálvio Teixeira.

 

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