Ação da PM contra engenheiro tem versões diferentes, em
comissão
Na reunião desta quarta-feira (28/4/04) da Comissão
de Direitos Humanos, para debater a violência nos jogos do Mineirão,
um engenheiro, que denunciou ter sofrido violência por parte da
Polícia Militar, e comandantes do policiamento no estádio
apresentaram versões diferentes para o fato. O engenheiro Geraldo
Magela Dolabela relatou que, na final entre Atlético e Cruzeiro, dia
11 de abril, ele e seus dois filhos foram algemados e presos no
estádio, a seu ver, sem motivos. Já os comandantes do policiamento
interno do Mineirão e do Batalhão de Eventos da PM, capitão Fábio
Lima e tenente coronel Evandro Teófilo Elias, disseram que o filho
de Dolabela foi preso por desacatar policiais.
Na audiência, que pretendia também tratar dos
procedimentos de segurança adotados pela PMMG em jogos, o engenheiro
disse que reagiu como qualquer pai. Dolabela, declarou que, ao ver
que seus filhos estavam sendo agredidos por policiais, protestou,
mas sem usar violência, e mesmo assim foi algemado e preso junto com
os dois. Ele disse que, antes disso, havia se identificado como
vice-presidente do Consep da 17ª Companhia da PM, engenheiro e
conselheiro do Atlético, mas o tenente Guilherme teria dito que isso
não valia nada.
Ameaça - Ainda segundo
Dolabela, seu filho mais velho, Tiago, teria sido ameaçado pelo
soldado Elias na cela com as seguintes palavras: "fica quieto, senão
leva tiro na cabeça!" O engenheiro disse que só conseguiu ser
libertado junto com os filhos quando ligou para a comandante do 34º
Batalhão, que o conhecia e solicitou a soltura. Concluindo, o
denunciante disse que a Polícia precisava de reciclagem de seus
quadros que deveriam agir com energia, mas sem violência.
Policial afirma ter sido desacatado
Contrariando essa versão, o capitão Lima disse que,
na verdade, foi vítima de desacato por parte do filho do engenheiro.
Ele disse que os dois jovens estavam tentando furar um cordão de
isolamento da Polícia e discutiam com um tenente. Fábio Lima
declarou que, ao tentar acalmar os ânimos, Tiago teria
desrespeitado-o, provocando a prisão por desacato à autoridade. Como
o rapaz ainda tentou reagir, segundo o capitão, foi necessário o uso
da força física para prendê-lo, junto com o irmão e o pai. Pela
atitude de Dolabela, Fábio Lima considerou o engenheiro "um
anti-parceiro no Consep".
O comandante do Batalhão de Eventos da PM, tenente
coronel Evandro Elias, rebateu as críticas do engenheiro, afirmando
que a Polícia faz cursos constantes de direitos humanos e
policiamento de eventos. Disse também que cada jogo demanda um
planejamento prévio de três semanas e que a violência interna e
externa no estádio foi reduzida em 70% nos últimos 15 anos.
Lamentando o fato, o diretor-geral da Ademg,
Fernando Sasso, reclamou que a entidade não recebe da PM relatórios
das ocorrências no Mineirão, só relatos orais. Segundo ele, no jogo
do dia 11, com cerca de 38 mil pagantes, trabalharam 1.348
policiais, sendo 743 na área interna do Mineirão. O ouvidor da
Polícia do Estado, José Francisco da Silva, informou que a Ouvidoria
já havia solicitado a apuração da ocorrência policial pela
Corregedoria.
Como providência para o caso, o deputado Durval
Ângelo (PT), presidente da comissão, aprovou um requerimento seu e
dos deputados Biel Rocha (PT) e Fábio Avelar (PTB), autor do pedido
pela reunião. Os três solicitam o envio das notas taquigráficas da
audiência e da documentação entregue por Geraldo Dolabela, à
Promotoria de Justiça dos Direitos Humanos do Ministério Público.
Fábio Avelar discordou do capitão quando disse que o engenheiro não
seria parceiro da PM. Segundo Avelar, Dolabela, sendo ou não membro
do Consep, tinha o direito de se expressar e o comandante deveria
aceitar as críticas.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente da comissão;
Biel Rocha (PT), Fábio Avelar (PTB), Domingos Sávio (PSDB), Dilzon
Melo (PTB) e Jô Morais (PCdoB) . Além dos citados na matéria,
participaram também o presidente do Consep da 17ª Companhia, Modesto
Marçal, e o procurador de Justiça, Júlio Gutierrez.
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