Financiamento de hospitais de ensino precisa ser mudado

O modelo global misto de alocação de recursos pelo Governo Federal para os hospitais de ensino foi considerado pelos ...

27/04/2004 - 00:00
 

Financiamento de hospitais de ensino precisa ser mudado

O modelo global misto de alocação de recursos pelo Governo Federal para os hospitais de ensino foi considerado pelos participantes da reunião da Comissão de Saúde da Assembléia de Minas nesta terça-feira (27/4/04), em Uberaba, a melhor solução para a crise enfrentada por essas instituições. A proposta, apresentada pela representante do ministro da Saúde, Humberto Costa, Karla Larica Wanderley, prevê que, pelos atendimentos de pequena e média complexidade, os hospitais receberiam um valor fixo, independentemente de terem sido realizados ou não. Os procedimentos de alta complexidade, como transplantes e cirurgias cardíacas, não sofreriam alteração, permanecendo o financiamento de acordo com o número de atendimentos realizados.

Para o subsecretário de Estado de Políticas e Ações de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, José Maria Borges, a medida seria válida para resolver o problema de endividamento dos hospitais-escola, já que os procedimentos de alta complexidade, segundo ele, são relativamente bem remunerados. Ele insistiu que a grande dificuldade dos hospitais não é apenas a falta de recursos, mas também sua má gestão.

A audiência em Uberaba foi solicitada pelo deputado Fahim Sawan (PSDB) para discutir alternativas para o Hospital da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM) que tem uma dívida de mais de R$ 15 milhões, atribuída à defasagem da tabela do SUS para os serviços prestados. A discussão acabou sendo ampliada diante da constatação de que essa é a realidade da maior parte dos hospitais universitários do País, segundo informações trazidas pela técnica do Ministério da Saúde, Karla Wanderley, que afirmou que o ápice da crise foi vivido em 2003.

Situação crítica - O deputado Fahim Sawan abriu a reunião falando da necessidade de uma solução definitiva para o Hospital da FMTM, que é o único a realizar atendimentos de média e alta complexidade na região que abrange Uberaba e outros 26 municípios. Segundo o ele, o hospital opera hoje, em alguns casos, com apenas um décimo de sua capacidade. Em 2003, os prontos-socorros adulto e pediátrico sofreram uma redução de quase 70 mil atendimentos. De janeiro a julho de 2002, o Hospital da FMTM atendeu a 48.194 pacientes. No mesmo período de 2003 foram feitos 7.714. As cirurgias de urgência também foram reduzidas de 424 em janeiro de 2002 para 163 em janeiro de 2003. Em 2002 foram realizados dez transplantes de rins, enquanto apenas um foi feito em 2003.

Impacto nos postos de saúde

O secretário municipal de Saúde de Uberaba, Délcio Scandiuzzi, ressaltou que a crise do Hospital da FMTM tem refletido na rede municipal de saúde, porque os usuários acabam procurando os postos por não conseguirem o atendimento no hospital. "O hospital de ensino é insubstituível", afirmou. O prefeito de Uberaba, Marcos Montes Cordeiro, lembrou o trabalho preventivo feito pelos agentes do Programa de Saúde da Família, que diminui a demanda por atendimentos nos hospitais e postos de saúde.

Criação de comissão vista como avanço

Karla Wanderley apontou como avanço para os hospitais universitários a criação da Comissão Interinstitucional de Hospitais de Ensino, por meio da Portaria Interministerial 562, de 15 de maio de 2003. A comissão tem o objetivo de avaliar e diagnosticar a atual situação dos hospitais universitários e de ensino no Brasil, visando reorientar e formular a política nacional para o setor. A portaria, segundo ela, demonstra a preocupação e o empenho dos Ministérios da Saúde, da Educação e do Planejamento, Orçamento e Gestão em relação ao sucateamento dos hospitais-escola.

Luiz Flávio de Souza Moreira, que representou o ministro da Educação, Tarso Genro durante a audiência, apresentou medidas do Governo Federal que classificou como ações concretas em favor dos hospitais de ensino - a nomeação de 11 mil concursados em 2003, dos quais 354 para o Hospital da FMTM, e o aumento de R$ 30 milhões para R$ 50 milhões nos repasses de recursos dos ministérios da Educação e da Saúde, cada um, para esses hospitais.

Gastos com contratação de pessoal não teriam sido repostos

O diretor em exercício da FMTM, Wandir Mauro Angotti Carrara, afirmou que nos últimos nove anos, o hospital de ensino gastou R$ 62 milhões com contratos de pessoal, que não teriam sido repostos pelo Ministério da Educação. Ele disse ainda depositar grande esperança na proposta do Governo Federal de alocação global de recursos.

O superintendente do hospital de ensino de Uberaba, Hélio Moraes, denunciou a diferenciação no tratamento dado aos hospitais de ensino paulistas e aos mineiros. Segundo ele, o financiamento interministerial representou para a FMTM um acréscimo de 32% na receita, enquanto para os hospitais universitários paulistas esse índice chegaria a 200%. A Faculdade do Triângulo Mineiro é, de acordo com dados apresentados por Hélio Moraes, o sexto maior devedor entre os hospitais de ensino, vivendo hoje uma situação de desabastecimento da farmácia e almoxarifado, com equipamentos precários e suspensão de procedimentos. "Nossa expectativa é que o financiamento global seja implantado o quanto antes", enfatizou.

Emenda 29 - O deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) apresentou um contraponto dizendo que fala-se muito em financiamento pelo Governo Federal, mas que muitos Estados não aplicam o mínimo constitucional previsto pela Emenda 29. Ele defendeu a transparência na prestação de contas pelos hospitais de ensino. "A população precisa saber onde estão sendo aplicados os recursos, por que os hospitais estão endividados", defendeu. Para o deputado Neider Moreira (PPS) a lógica da política econômica precisa ser mudada, e os recursos investidos no desenvolvimento do País. "No Brasil se prioriza o pagamento da dívida externa em detrimento do investimento em setores prioritários, com educação e saúde", concluiu. O presidente da Comissão de Saúde, deputado Ricardo Duarte (PT), acredita que o Sistema Único de Saúde ainda é o melhor modelo de saúde pública que se pode ter no Brasil. Ele defendeu ainda que o debate com os segmentos envolvidos e com a população servem para aprimorar o sistema.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente; Fahim Sawan (PSDB), vice; Neider Moreira (PPS); e Adelmo Carneiro Leão (PT). Além das autoridades citadas na matéria, participaram ainda o diretor do Hospital da Universidade Federal de Uberlândia, Alair Benedito de Almeida; o diretor da Diretoria de Ações Descentralizadas de Uberaba, Carlos Antônio Alves Farah; secretários municipais de saúde, vereadores, agentes de saúde e estudantes de toda a região, que lotaram o auditório da FMTM.

 

 

 

 

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