Deputados querem campanha nacional pela recuperação das
rodovias
Com endosso do deputado federal Eliseu Resende e da
bancada do PFL, a Comissão de Transporte, Comunicação e Obras
Públicas pretende iniciar uma campanha nacional pela recuperação das
rodovias, exigindo do Governo Federal a efetiva aplicação dos
recursos da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).
Requerimento do deputado Célio Moreira foi aprovado na reunião da
manhã desta terça-feira (27/4/04), propondo uma reunião com os
presidentes das comissões similares de todas as assembléias
legislativas, da Câmara dos Deputados, e representantes do DNIT e da
CNT.
Principal personalidade presente à reunião, Eliseu
Resende, presidente estadual do PFL, relatou os esforços que liderou
durante décadas, como ministro dos Transportes e diretor-geral do
DNER, para dar uma infra-estrutura decente ao Sistema Rodoviário
Nacional, primeiro com os recursos do Imposto Único sobre
Combustíveis e Lubrificantes, depois com a Taxa Rodoviária Única.
"Eram tributos vinculados à expansão e conservação da malha
rodoviária, e chegavam a formar um fundo equivalente a 1,5% do PIB,
algo em torno de R$ 22 bilhões em valores atuais. Hoje os recursos
não chegam a 0,2% do PIB", lamentou Resende.
Após a promulgação da Constituição de 88, com a
transformação da Taxa Rodoviária em IPVA, sem vinculação com o
sistema viário, começou a deterioração das rodovias, segundo Eliseu
Resende. "As estradas ficaram órfãs, sem conservação e sem novos
investimentos. Para se ter uma idéia, durante a minha gestão no
DNER, pavimentamos 31 mil km de rodovias", informou ele.
Cide deve arrecadar R$ 10 bilhões por ano
O ex-ministro disse que continuou perseguindo o
sonho de ter uma fonte de financiamento específica para as rodovias,
e trabalhou politicamente pela criação da Cide, segundo ele, uma
idéia inovadora de intervenção tributária no mercado de
combustíveis, que deve arrecadar R$ 10 bilhões este ano. A Cide
começou a ser cobrada há dois anos, mas os recursos nunca foram
repassados como previsto, tornando-se mais uma decepção. "Neste ano,
apenas 3% dos recursos foram repassados, e só vemos operações
tapa-buraco", lamentou Resende.
Dois deputados manifestaram pronta solidariedade ao
ex-ministro. "O governo está jogando fora o patrimônio rodoviário
construído com esforço pelo país. Lamento que o governo federal
tenha se apropriado da idéia do ministro Eliseu e a transformado em
mais um aumento da carga tributária", disse Sebastião Navarro Vieira
(PFL). Elmiro Nascimento, do mesmo partido, também foi solidário e
denunciou as condições da BR-354, que liga Patos de Minas à BR-262.
"É um buraco só", desabafou o deputado. "Seu estado encarece os
custos da produção e muitas vidas estão se perdendo. O que podemos
fazer é entrar na Justiça e bloquear as estradas", acrescentou.
Outra estrada intensamente criticada pelos
deputados foi a BR-135, que liga Belo Horizonte a Montes Claros. Gil
Pereira (PP) traçou um quadro dramático da situação, e chegou a
sugerir que a Assembléia recorra ao Ministério Público para
assegurar a transferência dos recursos da Cide. A situação da BR-135
foi confirmada por outro usuário, o deputado Doutor Viana (PFL).
Viana disse que era preciso passar por Cordisburgo e por 40 km de
terra para chegar a Curvelo, mas anunciou que a operação tapa-buraco
começa imediatamente e será concluída até o final de maio.
Acidentes de trânsito matam mais do que as
guerras
O diretor-geral do DER, Renato César Nascimento,
fez um raciocínio segundo o qual o dinheiro sonegado às rodovias
acaba saindo dos cofres públicos na forma de atendimento às vítimas
do trânsito. "Em um ano, contamos 50 mil mortos no trânsito, número
maior do que o de soldados norte-americanos mortos na Guerra do
Vietnã", afirmou. O vice-diretor, José Élcio Montese, colocou a
questão do peso excessivo dos caminhões, que destrói as estradas.
"As balanças estão desativadas, mas já encontramos caminhões com 27
toneladas de excesso. Isso é um descalabro contra a engenharia
rodoviária", denunciou.
Garantia pétrea - José
Alberto Pereira Ribeiro, presidente da Associação Nacional de
Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor), esclareceu que o que está em
gestação no setor de transportes não é um "apagão" dos transportes,
mas um "apagão" da logística dos transportes. "Não podemos continuar
com essa política de pires na mão, de troca de favores entre Estados
e União", disse ele. "O setor perdeu R$ 12 bilhões nestes três anos
e não pode mais continuar sujeito à caneta de plantão do ministro da
Fazenda ou do FMI", continuou. Ribeiro criticou também as parcerias
públicos-privadas que estão sendo propostas: "Nenhum empresário vai
investir sem a garantia pétrea de que os contratos serão honrados",
garantiu.
A quebra de contratos também foi mencionada por
Jamil Habib Curi, presidente da Associação Comercial e Industrial de
Montes Claros. "As novas obras previstas e contratadas serão
iniciadas, porque as empresas estão obrigadas a começá-las, mas
dentro de três meses serão paralisadas se o Governo não pagar,
porque o contrato permite isso".
Brasil poderia ingressar na Opep
O deputado Eliseu Resende disse que o governo não
está gastando recursos da Cide nem para pagar a contrapartida em
financiamentos internacionais como a da rodovia Fernão Dias. E
apresentou novo argumento em defesa da recuperação rodoviária.
Segundo ele, o mau estado das rodovias não só causa mortes, onera a
produção e aumenta o preço dos fretes, como também aumenta o consumo
de combustíveis. Ele estima que o consumo aumente em 35% para
caminhões e 25% para automóveis.
"Como o Brasil é praticamente auto-suficiente em
petróleo, se as estradas estivessem nas melhores condições,
poderíamos exportar excedentes de petróleo e seus derivados, e
ingressar na Opep", afirmou. Resende opinou também sobre os
pedágios, que ele considera uma questão de doutrina, e só recomenda
sua utilização para a conservação de rodovias já construídas. "Com
exceção da Argentina, o Brasil é o país com maior extensão de
rodovias pedagiadas do mundo", informou, dizendo preferir o
pedágio indireto, que é o imposto incidente sobre o
combustível.
Superfaturamento - Ao
final da reunião, os deputados Elmiro Nascimento e Laudelino Augusto
(PT) polemizaram sobre a responsabilidade do governo Lula na questão
das rodovias. Laudelino argumentou que a deterioração das estradas é
um processo que começou há 15 anos. Nascimento disse que evitaria as
críticas, mas quer que o governo repasse sem mais atraso os recursos
da Cide previstos em lei.
Laudelino acusou de má gestão os governos
anteriores, citando como exemplo a rodovia Fernão Dias. "Nestes dez
anos que está em duplicação, a Fernão Dias consumiu US$ 52 milhões
na remoção de solo mole que ninguém sabe onde foi colocado. As
rodovias de Cristina e Maria da Fé, e da Serra do Cipó a Conceição
do Mato Dentro, feitas pelo governo Itamar Franco, não duraram nem
dois anos e foram superfaturadíssimas", acusou o deputado.
Requerimentos - A comissão
também se reuniu à tarde e aprovou cinco requerimentos. Um, do
deputado Laudelino Augusto (PT), solicita realização de audiência
pública para analisar soluções mais viáveis para a conclusão das
obras da MG-10 no trecho da Serra do Cipó a Conceição do Mato
Dentro. Outro, do deputado Célio Moreira (PL), pede a formulação de
um apelo ao governador Aécio Neves, ao secretário de Estado de
Transportes e Obras Públicas, Agostinho Patrus e ao diretor-geral do
DER, Renato César Nascimento para que o trecho da MG -20, entre
Corinto e Monjolos, seja incluído no programa de asfaltamento do
governo. Outros três requerimentos aprovados dispensam apreciação do
Plenário da Assembléia.
Presenças - Participaram
da reunião da manhã os deputados Célio Moreira (PL), presidente; Gil
Pereira (PP), Laudelino Augusto (PT), Doutor Viana (PFL), Sebastião
Navarro Vieira (PFL), Elmiro Nascimento (PFL), Adalclever Lopes
(PMDB), Gustavo Valadares (PFL), Alberto Pinto Coelho (PP), Dalmo
Ribeiro Silva (PSDB), Paulo Cesar (PFL), Leonídio Bouças (PTB),
Domingos Sávio (PSDB) e José Milton (PSDB). Participaram da reunião
da tarde os deputados Célio Moreira (PL); Laudelino Augusto (PT) e a
deputada Maria Olívia (PSDB).
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