Deputados e produtores querem instalação de CPI do Café

Mais de cem agricultores e produtores rurais de vários municípios, a maioria do Sul de Minas, participaram da reunião...

27/04/2004 - 00:01
 

Deputados e produtores querem instalação de CPI do Café

Mais de cem agricultores e produtores rurais de vários municípios, a maioria do Sul de Minas, participaram da reunião da Comissão de Segurança Pública, nesta terça-feira (27/4/04), que debateu casos de roubo e desaparecimento de milhares de sacas de café. A tônica da reunião foi baseada em pedidos de deputados e produtores para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o assunto. "É fato que existe uma ação criminosa naquela região e esse é o único instrumento com a agilidade necessária. Com a CPI, podemos criar uma força-tarefa com Ministério Público, Receitas Estadual e Federal e Polícias Militar, Civil e Militar, além de romper sigilo telefônico, bancário e evolução patrimonial dos envolvidos", enfatizou o presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT). Após a reunião, os integrantes da comissão e representantes dos produtores foram recebidos pelo presidente da Casa, deputado Mauri Torres (PSDB), que anunciou que na próxima semana espera dar uma posição favorável à instalação da CPI.

De acordo com o deputado Rogério Correia (PT), a comissão já tomou conhecimento, até agora, de ações criminosas nos municípios de Conceição da Aparecida, Carmo do Rio Claro, Lavras, Espera Feliz, Poços de Caldas, Muzambinho, Poço Fundo, Guapé, Nova Resende e Guaxupé, entre outros. "Mais de 500 mil sacas de café foram lesadas, o que causou aos produtores prejuízo da ordem de R$ 1 bilhão, fora o que o erário público deixou de arrecadar. É preciso identificar os casos em cada cidade e pressionar pela instalação da CPI", disse. O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) também reforçou a necessidade de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os casos e de sensibilizar a Presidência da Assembléia nesse sentido. Também os deputados Laudelino Augusto (PT) e Alberto Bejani (PTB) manifestaram-se favoráveis à criação da CPI.

"Os crimes noticiados são de competência da Justiça Estadual, mas a Polícia Federal não pode se afastar dessa apuração, pois a proporção das fraudes afeta os interesses da União, além da possibilidade de existência de crime organizado", afirmou o superintendente regional em exercício da Polícia Federal em Minas, Geraldo Antônio Dias. Segundo ele, a Polícia Federal estará à disposição para atuar em conjunto com a CPI, se ela for criada. O chefe do setor de Inteligência da Polícia Federal em Minas, José Maria Fonseca, afirmou que o trabalho de investigação não pode ter um tempo limitado, pois depende de "tenacidade da busca e comprovação dos fatos", mas ressaltou que a CPI tem a agilidade de atuação que a polícia perdeu - agora é sempre preciso recorrer ao Judiciário, conforme o delegado salientou.

Foram convidados e não compareceram à reunião representantes da Secretaria de Estado da Defesa Social, do Centro de Apoio Operacional de Combate ao Crime Organizado e de Investigação Criminal, da Receita Estadual e da Associação dos Sindicato do Sul de Minas.

Produtores pedem apoio

Durante a reunião, cerca de 15 produtores relataram casos de desaparecimento ou roubo de café envolvendo cooperativas e armazéns da região Sul do Estado. As principais reclamações dizem respeito a gestões fraudulentas desses estabelecimentos. "A cooperativa preparou um golpe para decretar falência. Fiquei sabendo e fui tirar meus lotes, mas não tinha ninguém para tirar as notas. Quando percebemos, sumiram mais de 15 mil sacas de café. Fizemos denúncia ao promotor e ao delegado, mas tudo ficou engavetado", contou o cafeicultor Eleí Ribeiro de Carvalho, da cidade de Conceição da Aparecida. Segundo ele, o termo de ajustamento de conduta proposto pelo promotor dava prejuízos aos produtores, beneficiando os responsáveis pela cooperativa.

A advogada Adriana Ribeiro Carvalho, representando os produtores de Conceição da Aparecida e de Carmo do Rio Claro, afirmou que entrará com uma representação na Procuradoria- Geral de Justiça contra o representante do Ministério Público, pedindo seu afastamento. O deputado Rogério Correia pediu à Presidência da Comissão de Segurança Pública que leve o caso ao procurador com urgência.

O presidente da cooperativa de Guapé, Nilson Alves Lara, que assumiu o cargo também após o desaparecimento de cerca de 30 mil sacas de café, fez um apelo pedindo o apoio dos deputados. "80% dos prejudicados são pequenos produtores. Como vamos pagar os financiamentos feitos se nossa produção foi roubada? Se os diretores não roubaram, foram omissos e hoje estão vivendo normalmente", contestou. A situação é a mesma em Poços de Caldas, como relatou o cafeicultor Paulo Marinaro: "Na passagem da gestão do exercício de 2001 para 2002, constava um estoque aferido de 84 mil sacas na cooperativa. Três meses depois, na véspera de uma assembléia, isso virou dívida dos produtores para com a cooperativa, em função de ações de ressarcimento na Justiça. Ele continua: "Tinha 161 sacas e agora estou devedor e expulso da cooperativa, já que fui à Justiça". Também usaram a palavra para relatar problemas semelhantes produtores de Muzambinho, Alterosa, Lavras, Nova Resende e Poços de Caldas. "Daqui a pouco não vamos ter onde guardar o que colhermos", resumiu, preocupado, o vereador e produtor de Alterosa, Hermes Souza Silva.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Alberto Bejani (PTB), vice; Rogério Correia (PT), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e Laudelino Augusto (PT).

 

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