Tevês legislativas são uma opção a mais de cidadania

Os canais legislativos são um ponto de vista a mais para o cidadão. Eles não competem com a tevê privada e também não...

26/04/2004 - 00:00
 

Tevês legislativas são uma opção a mais de cidadania

Os canais legislativos são um ponto de vista a mais para o cidadão. Eles não competem com a tevê privada e também não podem ser chamados de canais públicos, já que pertencem aos legislativos. Essas foram algumas das conclusões apresentadas pela professora e jornalista Letícia Renault, no "Pensando em Minas", apresentado na Escola do Legislativo nesta segunda-feira (26/4/04). O programa mensal da Escola foi transmitido por meio de videoconferência para as Assembléias Legislativas de São Paulo, Alagoas, Paraná, Mato Grosso e Goiás. O tema da palestra da professora resultou de sua tese de mestrado pela UFMG, que será editada no livro "Comunicação e Política nos Canais de Televisão do Poder Legislativo".

Letícia Renault usou como material de pesquisa transmissões ao vivo da TV Assembléia e da TV Senado e suas principais conclusões foram: as tevês legislativas deixaram de ser dos parlamentares, para ser dos cidadãos. A principal conseqüência dessa apropriação, que ela chama de acesso eletrônico, foi a mudança de comportamento dos parlamentares, a mudança dos discursos. "A câmera de tevê levou para fora do Plenário o discurso do parlamentar, com perda de controle possibilitada pela transmissão ao vivo. Por isso, o parlamentar teve de se adaptar, mudando sua postura e seu discurso", enfatizou.

Outra conseqüência, segundo a professora, foi a familiarização do telespectador com as regras do processo legislativo, possibilitando maior domínio do público ao fazer político. Ela destacou, ainda, a maior vigilância do público sobre as ações dos parlamentares e o aumento da interlocução entre o parlamento e o cidadão, "porque o eleitor virou telespectador".

Ela discorreu sobre a criação dos canais legislativos, a partir da Lei 8.977/95, da cabodifusão, lembrando que a TV Assembléia foi a primeira a ser criada no País, em 30 de novembro de 1995. A TV Assembléia está hoje em 170 cidades, com sinal aberto, apesar de a regulamentação das emissoras públicas estar prevista no sistema de televisão a cabo. "A tevê legislativa entrou no parlamento do Brasil, com acompanhamento em tempo real, que expõe uma cena nova, com tempo e formatos diferentes. Ela não passa pelos processos usuais de edição, já que privilegia a transmissão ao vivo", afirmou a jornalista.

Além dos 50 segundos

Para o diretor de Comunicação Institucional da Assembléia, jornalista Ramiro Batista de Abreu, autor do prefácio do livro de Letícia Renault e um dos componentes da mesa da videoconferência, o trabalho da jornalista responde um anseio que ele próprio sempre teve: " a forma superficial e até leviana com que a mídia trata a cobertura do legislativo". Ele concorda com a professora quanto à mudança de comportamento dos parlamentares, motivada pela tevê legislativa. E destaca que sempre se angustiou, também, com o tratamento de completo desprezo dado pela grande imprensa à criação desses canais.

Sob o título de Além dos 50 segundos, o prefácio de Ramiro Batista de Abreu lembra que o livro de Letícia Renault é a primeira sistematização do que se percebe do fenômeno tevê legislativa, "em que cotejam opiniões de especialistas, dos atores em cena e, evidentemente, do público que paga a conta. Dele sai um relato esclarecedor sobre as claras diferenças de interesse entre esfera pública e privada, um aprendizado de como se constrói a opinião na cabeça do telespectador".

Também integrando a mesa da apresentação, o gerente-geral de Rádio e Televisão da Assembléia, Rodrigo Lucena tratou da implantação dos canais legislativos, mais como uma pressão da sociedade que de uma "concessão" do Poder Legislativo. Para ele, a tevê legislativa não se expandiu, dentro da legislação, no modo de sinal aberto, porque não há uma mobilização da sociedade nesse sentido. "O sinal da TV Assembléia é de cabodifusão, o que, de certa forma, reduz a audiência, já que nem todos têm acesso à televisão a cabo". Para Ramiro Batista, as tevês legislativas nunca serão canais de audiência e terão sempre um público segmentado.

Rodrigo Lucena discutiu, ainda, a implantação da tevê digital, que segundo ele, está seguindo o mesmo modelo de monopólio que norteou a implantação da televisão comercial no Brasil. "As discussões estão sendo levadas todas pelo grupo que representa a tevê privada, e as públicas estão ficando de fora". Ele chamou a atenção para a necessidade de se ampliar o debate sobre qual o modelo técnico a ser implantado para a televisão digital.

Graduada em Jornalismo, mestre em Comunicação Social pela UFMG e professora da Universidade Fumec, Letícia Renault lembrou que a idéia da pesquisa sobre os canais legislativos foi resultado da experiência adquirida na cobertura jornalística do dia-a-dia na Assembléia Legislativa, no Palácio da Liberdade e em campanhas eleitorais. O debate do "Pensando em Minas" foi coordenado pela responsável pelo Programa de Educação para Cidadania da Escola do Legislativo, a servidora Eugênia Kelles.

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715