Comissão debate desapropriação por trabalho escravo

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa promoveu, na tarde desta terça-feira (20/4/04), um debate so...

20/04/2004 - 00:02
 

Comissão debate desapropriação por trabalho escravo

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa promoveu, na tarde desta terça-feira (20/4/04), um debate sobre a Proposta de Emenda à Constituição 438-A, em tramitação no Senado Federal, que pretende permitir a desapropriação de terras onde seja constatada exploração de trabalho escravo. Trata-se de dar nova redação ao artigo 243 da Constituição, que já prevê a desapropriação de terras utilizadas para o plantio de maconha. O presidente da Comissão, deputado Durval Ângelo (PT), defendeu a medida pelos dois aspectos positivos que apresenta: a punição desse tipo de crime e a contribuição para a reforma agrária, porque a terra confiscada poderia ser utilizada para assentar os próprios trabalhadores escravos nela encontrados.

O deputado federal mineiro Leonardo Monteiro (PT), participou da reunião para colher informações e subsídios para a tramitação da proposta. Para Monteiro, a grande dificuldade está em caracterizar o trabalho escravo, quando a pessoa é da mesma região. Com os migrantes torna-se mais fácil.

Luiz Chaves, do Instituo de Terras de Minas Gerais (Iter), descreveu o ataque que a fiscalização trabalhista realizou nos últimos anos contra as carvoeiras do Norte de Minas, para combater o trabalho degradante e nocivo à saúde humana. Considerou que os mecanismos da escravidão podem ser sutis, como o da dívida, que impede o livre deslocamento do trabalhador, e o da cadeia dos subempreiteiros, que dificulta a identificação do beneficiário final.

Crime tipificado no Código Penal

Vários outros convidados também apoiaram a idéia, como Sônia Prata, da Fetaemg, e José Diamantino Neto, do Sindicato dos Agentes de Inspeção do Trabalho. A única voz a defender a propriedade das terras foi do assessor jurídico da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Marcos de Abreu Silva. A Faemg, segundo ele, também combate a tolerância ao trabalho escravo e informal, que seria um ponto fraco no controle que as empresas rurais devem exercer sobre seus processos administrativos e operacionais.

"Pregamos a modernidade, a formalidade e a regularização", disse ele, acrescentando que os próprios deputados Ronaldo Caiado e Kátia Abreu, que representam os proprietários rurais, propuseram que o trabalho escravo seja considerado crime. No entanto, ele critica o que considera falta de "nexo de causalidade" na proposta, e acredita que o trabalho escravo ou degradante não possa ser medido como hectares plantados com maconha. "Tenho certeza de que esta PEC será derrubada na Justiça", afirmou.

O delegado regional do trabalho, Carlos Calazans, lembrou o assassinato dos quatro funcionários da DRT em Unaí, que vai completar três meses sem elucidação. Maria Dolores, auditora fiscal, enumerou os 14 elos da cadeia do trabalho degradante, entre eles a miséria, o analfabetismo, a negação da cidadania, a vigilância armada, até o trabalho infantil. Em seu trabalho de fiscalização, já encontrou até cemitérios clandestinos. Dolores descreveu ainda como age o empreiteiro de mão-de-obra, apelidado "gato", que escolhe os trabalhadores e os escraviza através de dívidas. Acrescentou ainda que o trabalho escravo é crime tipificado no Código Penal desde 2003.

Requerimentos - Foram aprovados requerimentos do deputado Fábio Avelar (PTB), pedindo audiência para investigar violência policial cometida contra torcedores no penúltimo jogo final do Campeonato Mineiro, e três do deputado Durval Ângelo (PT). Um deles quer apurar o caso de um menino que sofre de insuficiência renal crônica e que recebeu promessas de ajuda do apresentador de TV Gugu Liberato. No dia 22 próximo, foi marcada audiência para ouvir vítimas e testemunhas de prática de tortura em Abaeté. A Comissão vai se deslocar para essa cidade no dia 27 de abril, pela manhã, e depois vai para Abaeté.

Presenças - Participaram os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; Biel Rocha (PT) e Fábio Avelar (PTB).

 

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