Estagnação da fruticultura mineira preocupa deputados
A fruticultura mineira se encontra estagnada em 2
milhões de toneladas/ano desde 1996, enquanto a produção brasileira
cresceu de 30 para 38 milhões e a mundial saltou de 350 para 580
milhões desde 1990. Embora as condições de solaridade e clima em
Minas sejam excelentes, permitindo colheitas na safra e na
entressafra, dificuldades diferentes afligem os principais pólos
produtores. A falta de crédito, de assistência técnica, de pesquisa
agrícola e de benefícios tributários provocam a fuga de empresas,
como a dos sucos Mais, que foi para o Espírito Santo.
Numa reunião da Comissão de Política Agropecuária e
Agroindustrial, realizada na tarde desta terça-feira (13/4/04),
deputados e representantes do Governo e do agronegócio expuseram os
problemas e discutiram formas de dar alento ao setor, como os
projetos de lei 676 e 677, de autoria do deputado Leonardo Moreira
(PL) e 990, de autoria da deputada Ana Maria Resende (PSDB), todos
de 2003. Esses projetos propõem criar pólos de desenvolvimento da
fruticultura na Zona da Mata, no Sul de Minas e no Norte do
Estado.
Rubem Ramalho Sobrinho, da Emater, disse que Minas
é o maior produtor nacional de abacaxi, laranja e banana, e vem
crescendo no ranking do maracujá e da goiaba. Para ele, é
preciso investir em frutas de excelente qualidade e concorrer com os
Estados que levam os empreendimentos localizados em Minas.
Pierre Santos Vilela, da Faemg, foi contundente em
sua exposição. Revelou que Minas vai perder o primeiro lugar no
abacaxi para a Paraíba ainda este ano. Para ele, a estagnação é mau
sinal, pois a participação pode se tornar decrescente. "A área
plantada com abacaxi no Triângulo diminuiu, perdendo espaço para
Tocantins, que oferece melhores condições. A soja e a cana entraram
no lugar, desempregando o plantador, que foi se tornar bóia-fria ou
favelado em Uberaba e Uberlândia", afirmou. O mesmo pode acontecer
com as 400 empresas processadoras de frutas instaladas no Estado.
Vilela disse não esperar ajuda da Epamig, que estaria sucateada e
perdendo seus técnicos.
Mangas apodrecendo e colonos migrando
João Nelson Gonçalves Rios, do IMA, também defendeu
a produção de frutas em pequenas propriedades como alternativa de
renda no campo. "É preciso alocar recursos, capacitar o produtor,
fazer a defesa sanitária vegetal. Isso é papel do Governo para
viabilizar a fruticultura", afirmou. Rios alertou para o
empobrecimento do agricultor do Sul de Minas, recomendou agricultura
de montanha para a Zona da Mata e sobre o sonho de uma agricultura
desenvolvida no Norte de Minas.
A deputada Ana Maria Resende disse que compartilha
esse sonho e que deseja acrescentar a experiência e o conhecimento
dos técnicos para a realização desse sonho. "Se o Piauí, Mato Grosso
e Tocantins conseguem incentivar a fruticultura, por que não
conseguimos?", indaga. Para ela, a Secretaria da Fazenda coloca
barreiras ao desenvolvimento, ao cobrar responsabilidade fiscal
acima das responsabilidades sociais. "Vejo os colonos abandonando
suas glebas no Jaíba, e as mangas de excelente qualidade apodrecendo
no chão. Não queremos que o homem plante para comer, mas para ter
orgulho de ser produtor rural", desabafou a deputada.
Jefferson Nery Chaves, da Secretaria da Fazenda,
expôs os benefícios fiscais possíveis para os produtores de frutas,
mas considera os projetos de lei inconstitucionais, porque tratam de
renúncia fiscal sem compensação. "A lei complementar 24, que criou o
Confaz, impede o Estado de legislar unilateralmente sobre ICMS. Os
projetos ferem a Constituição e a Lei de Responsabilidade Fiscal",
afirmou.
Os argumentos do técnico fazendário receberam
ataques de vários lados. O deputado Padre João (PT), disse que a
produção de frutas é propósito do Minas Sem Fome, programa do
governo estadual semelhante ao Fome Zero do presidente Lula, e tem
que receber tratamento diferenciado. Pierre Vilela criticou a
isenção de impostos para máquinas e equipamentos comprados em Minas,
dizendo que são fabricados no Estado apenas os caminhões Iveco e os
conjuntos de irrigação Valmet. Todos os demais fabricantes já teriam
migrado para outros Estados, segundo ele.
O deputado Ricardo Duarte (PT) lamentou que seu
projeto de lei 667/03, criando pólo de fruticultura no Triângulo
Mineiro, tenha caído por inconstitucionalidade na CCJ. "Os técnicos
da Emater que nos davam assistência foram trabalhar num projeto do
governo do Rio, no Norte Fluminense. Já que os técnicos tributários
opinaram contra o meu projeto, gostaria de sugerir que o próprio
pessoal do Governo prepare o projeto que considerar adequado". O
presidente da comissão, deputado Gil Pereira (PP), reduziu o tom das
críticas: "O governador Aécio Neves tem mostrado sensibilidade para
essas questões, assim como o secretário Odelmo Leão Carneiro tem
mostrado determinação em promover a agricultura mineira".
Criação de 50 mil empregos sem gastos
públicos
O deputado Carlos Pimenta (PDT) falou sobre os três
projetos de irrigação do Norte de Minas: o Jaíba, o Gorutuba e
Pirapora. "Nova Porteirinha é um exemplo de pleno emprego, ali até
falta mão-de-obra. Os 16 mil hectares do Jaíba II foram vendidos
rapidamente a preços 126% superiores aos previstos. Mas a situação
do Jaíba I é ruim. Metade dos empreendimentos estão paralisados. Os
colonos não têm o título da terra, e por isso não podem tirar
empréstimo nos bancos. Basta regularizar a situação deles e abrir
linhas de crédito que o governo pode criar ali 50 mil empregos sem
fazer maiores gastos, porque os gastos públicos no Jaíba já foram
todos feitos.", afirmou o deputado.
Pimenta prevê que, nos 40 mil hectares do projeto
Jequitaí, seria possível criar 80 mil empregos. "Dinheiro há, é só
pressionar. O MST não ameaçou infernizar o país e o governo federal
não achou R$ 1,79 bilhão para a reforma agrária?", ironizou. Também
fez previsões pessimistas, de que os fruticultores que restaram ali
podem ser levados a plantar mamona para um grande projeto de
biodiesel que demandará 8 a 10 mil hectares.
Essas afirmações foram contestadas pelo deputado
Padre João, para quem o projeto de biodiesel pode ser complementar à
fruticultura, e inclusive seria capaz de baratear a conta de energia
da irrigação. "O que precisa haver é um planejamento agrícola, para
o melhor aproveitamento de cada área, evitando desastres como os da
monocultura". Laudelino Augusto (PT), acrescentou a importância da
agricultura orgânica, cujas frutas alcançam melhores preços.
Soja cria apenas um emprego por 100
hectares
Diversos representantes dos fruticultores foram ao
microfone. Dirceu Colares Moreira, da Abanorte, associação de
bananicultores do Norte de Minas e Sul da Bahia, disse que o
principal problema é a tecnologia. A região já teve 13 mil hectares
de banana-prata, e hoje tem apenas 6 mil. Mas também produz manga,
limão, pinha, atemóia e acerola. "Enquanto 100 hectares de soja
geram um emprego, um único hectare de fruta gera um emprego
permanente, pois exige trato constante", afirmou.
José Vanderlei Médice, da Associação dos
Fruticultores do Vale do Rio Pomba, revelou que a Zona da Mata vem
da monocultura da cana, do café, e da pecuária leiteira. Para ele, o
pólo de fruticultura depende do associativismo. "Nosso problema não
é dinheiro, é apoio técnico. Gostaríamos de abrir nossos pomares
para os estágios dos pesquisadores universitários", ofereceu.
Wagner Oliveira Moreira, do consórcio
intermunicipal que reúne 33 municípios da Zona da Mata e Campos das
Vertentes, disse que não tem nenhum apoio governamental, apenas da
Faemg e do Sebrae, mas que produzem com muito orgulho queijo,
cachaça, frutas, reflorestamento e piscicultura. "É uma pena, mas a
Epamig é um órgão praticamente morto", lamentou Moreira.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Gil Pereira (PP), presidente; Padre João
(PT), vice; Ricardo Duarte (PT), Laudelino Augusto (PT), Carlos
Pimenta (PDT), Biel Rocha (PT), Doutor Viana (PFL) e a deputada Ana
Maria Resende (PSDB).
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