Moradores denunciam "clima de terror" no condomínio JK

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa ouviu, nesta quarta-feira (7/4/04), depoimentos de vários mo...

07/04/2004 - 00:04
 

Moradores denunciam "clima de terror" no condomínio JK

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa ouviu, nesta quarta-feira (7/4/04), depoimentos de vários moradores do Edifício JK, de Belo Horizonte, que denunciam a síndica Maria Lima das Graças por inúmeras irregularidades na administração do condomínio, além de perseguição aos moradores, enriquecimento ilícito, envolvimento com tráfico de drogas, prostituição de menores, entre outros crimes. A síndica tem sido apontada como a principal suspeita de ter mandado matar Jair Olímpio Júnior, assassinado no último dia 31 de março, com um tiro na nuca, dentro de seu carro, no estacionamento de um supermercado próximo ao JK. Moradores do prédio, familiares e amigos da vítima levantaram a suspeita.

Jair Olímpío, ex-assessor parlamentar da Assembléia Legislativa de Minas, morava no prédio há um ano, era candidato a síndico e tinha a simpatia de grande parte dos moradores. Maria Lima o teria ameaçado por várias vezes e, segundo depoimentos de pessoas que participaram da reunião, ela tomava esse tipo de atitude sempre que alguém tentava tirá-la do cargo.

O Edifício JK fica na região central de Belo Horizonte e tem 1.159 apartamentos. Maria Lima das Graças é síndica há 20 anos, recebe um salário de R$ 5 mil pela função, além de ser isenta da taxa de condomínio do apartamento onde mora. Todos os que prestaram depoimento à comissão afirmam que também estão sendo ameaçados, e que a maioria dos moradores não fala por medo das retaliações. "Ela contrata gente para espancar, invadir apartamentos, caluniar. Eu moro lá desde 1997 e já fui espancada cinco vezes", afirmou Erudite Nunes Rodrigues, que já esteve na Assembléia Legislativa outras vezes denunciando a situação no JK. Entre os acusados estão porteiros e outros funcionários do prédio, militares que prestam serviços no local, delegados e até uma oficial de justiça.

Formação de quadrilha

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), classificou como "estarrecedor" o quadro narrado pelos moradores. Ele lembrou que as denúncias contra a síndica são antigas e já foram tema de audiências da comissão no passado, mas que, curiosamente, todos os processos são arquivados pela polícia. O deputado não tem dúvida de que há realmente conivência e envolvimento de policiais militares e civis nas supostas ações de Maria Lima das Graças. "A estrutura que existe lá é típica do crime organizado, coisa que só se sustenta com algum braço do Estado", afirmou.

Durval Ângelo disse que vai pedir ao Ministério Público que instrua ação para indiciar a síndica por formação de quadrilha. As notas taquigráficas da reunião desta quarta-feira, segundo o deputado, farão parte do inquérito que investiga a morte de Jair Olímpio Júnior. O deputado acredita que os depoimentos dos moradores contêm elementos que podem ajudar na elucidação do assassinato. A viúva de Jair, Rosana Maia Olímpio, e a irmã dele, Rosana Olímpio Batista, presentes à reunião, pediram aos deputados que não deixem o caso cair no esquecimento.

Ameaças por telefone e recados

Segundo depoimentos dos moradores, a síndica usa os porteiros como "mensageiros" para intimidar aqueles que denunciam seus desmandos. Outro expediente utilizado pela administradora seria identificar familiares que não vivem no prédio e telefonar para eles fazendo ameaças. Tadeu Versiani diz que sua mãe, uma senhora de mais de 70 anos, recebeu várias ligações onde a síndica dizia que "o filho dela ia levar uns tiros qualquer dia". A aposentada Edna Coelho Coutinho, que vive sozinha no JK, contou que ligaram para suas três filhas tentando amedrontá-las, para que tirassem a mãe de lá. "Disseram que ela (a síndica) ia passar como um trator por cima de mim, se eu continuasse falando", afirmou a moradora.

A presidente da Associação dos Moradores do JK (Apic), Delza Maria Sampaio, afirmou que chegou a gravar uma das conversas onde um enviado da síndica dizia que ela podia ser morta a qualquer momento. Delza entregou à comissão documentos falsos produzidos pela síndica, usando assinaturas digitalizadas dos moradores que tentavam fundar a associação em outubro do ano passado. Outra moradora, Nilza André Ferreira, afirma que está sendo ameaçada porque, há dois anos, recebeu uma oferta de emprego para trabalhar no condomínio e não aceitou. O emprego era para "vigiar a oposição" e dar relatórios de tudo para a síndica. "Desde então, várias pessoas me disseram para ficar quieta, porque tenho um filho para criar", disse Nilza Ferreira.

Padre impedido de entrar - Entre tantas irregularidades denunciadas, há também a de que a síndica estaria impedindo o padre Agenor, da Paróquia Santo Agostinho, de celebrar missa no condomínio, por esse ter feito críticas à administração. Agentes do Programa Saúde da Família (PSF), da prefeitura, também estariam sendo barrados na entrada, deixando centenas de pessoas sem assistência domiciliar. Moradores disseram ainda que, por causa da truculência da síndica, idosos morrem e os corpos permanecem nos apartamentos por quatro ou cinco dias.

Requerimentos aprovados - A comissão aprovou vários requerimentos: do deputado Doutor Viana (PFL), que solicita realização de reunião conjunta com a Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, para discutir ações e atos administrativos do Detran-MG; do deputado Doutor Ronaldo (PDT), em que solicita a realização de reunião conjunta com a Comissão de Segurança Pública, para debater a situação dos familiares dos auditores fiscais do trabalho e do Ministério do Trabalho assassinados há dois meses em Unaí, bem como obter informações a respeito das investigações policiais; dos deputados Durval Ângelo, Roberto Ramos (PL), Biel Rocha (PT) e Mauro Lobo (PSB), em que solicitam audiência da comissão para emitir parecer sobre o Projeto de Lei Complementar (PLC) 47/2003, em tramitação na Assembléia.

Foram aprovado também dois requerimentos, elaborados pelos deputados Durval Ângelo, Roberto Ramos e Biel Rocha, em que solicitam a realização de uma visita da comissão à Vara de Execuções Criminais de Contagem; e uma audiência pública para debater a Proposta de Emenda à Constituição Federal 438-A/2001, de autoria do deputado federal Leonardo Monteiro, que estabelece a pena de perda da gleba onde for constatada a exploração de trabalho escravo, revertendo a área para o assentamento dos colonos.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; Biel Rocha (PT); Mauro Lobo (PSB), Adalclever Lopes (PMDB) e Antônio Júlio (PMDB).

 

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