Ex-militantes apresentam testemunhos da resistência
O ponto alto do último painel do ciclo de debates
"Resistir sempre - 64 nunca mais", realizado nesta quarta-feira
(31/3/2004) no Plenário da Assembléia Legislativa, foi a homenagem
prestada a Helena Greco, veterana militante dos direitos humanos e
da luta pela anistia, que está sendo indicada para o Prêmio Nobel da
Paz. Aos 88 anos, Helena Greco chegou amparada por dois de seus
filhos, Dirceu e Heloísa. Foi exibido no telão do Plenário um
comovente vídeo preparado pela TV Assembléia sobre sua trajetória,
desde sua mudança de Abaeté para Belo Horizonte e seu casamento com
o médico José Bartolomeu Greco.
A coordenadora do painel foi a deputada Marília
Campos (PT), que informou que este ano mil mulheres em todo o mundo
serão indicadas ao Nobel, sendo 39 do Brasil. O deputado Durval
Ângelo acrescentou que Dona Helena será a única indicada pela
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia.
Em 1973, Helena Greco começou a juntar outras
senhoras para sair às ruas e acampar na porta das delegacias e dos
quartéis para exigir a libertação de estudantes amigos de seus
filhos, de professores e operários. Corajosa, gritava com os
militares e conseguia pelo menos fazer chegar cobertores e roupas
aos presos políticos. Fundou o Movimento Feminino pela Anistia e
integrou-se ao Tortura Nunca Mais. Aos 67 anos, elegeu-se vereadora
em Belo Horizonte e exerceu dois mandados sucessivos.
Quatro convidados deram testemunhos sobre a
resistência à ditadura. O ex-dirigente sindical de Contagem Ignacio
Hernandez saudou a bravura de Helena Greco, e disse que todos
sofriam muito medo, mas era uma época de grande calor humano, em que
as pessoas eram muito unidas e solidárias. As greves que seu
sindicato promovia incluíam entre as reivindicações o fim da
ditadura, e por isso foram qualificadas como greves políticas, o que
de fato eram. Hernandez trouxe ainda um recado do ex-deputado José
Gomes Dazinho Pimenta: "Diga a todos que a luta tem que continuar,
enquanto vivermos sob a ditadura da dívida, da injustiça, da
exploração".
José Luiz Guedes, presidente da União Nacional dos
Estudantes (UNE) na clandestinidade em 1966, declarou "amor filial"
a Dona Helena. Em sua visão, "o golpe anticomunista procurou dividir
o povo brasileiro entre os que se assumiam comunistas e os que, sem
se assumirem, também lutavam pela justiça e pela democracia.
Ex-militante homenageia mulheres
Gilse Cosenza, ex-militante do movimento
estudantil, homenageou todas as mulheres que participaram da luta
contra a ditadura, numa época em que a moça tinha que ser submissa
ao pai, não devia ir à faculdade, mas procurar um marido e então ser
submissa a ele. "A mulher mostrou sua força contra a ditadura,
lutando de igual para igual com os homens. A juventude brasileira
não ficou devendo nada aos jovens revolucionários de todo o mundo",
assegurou Cosenza.
A ex-militante não quer dar a ditadura por vencida.
"Percebo uma tentativa na mídia de hoje de desestabilizar a
normalidade democrática. Mas nós, que não estacionamos durante a
ditadura, não vamos estacionar jamais até a plena conquista do
socialismo", exclamou, sendo apoiada da platéia por jovens que
gritavam o slogan: "Aqui está presente a juventude do
Araguaia".
Por último, falou o teatrólogo Luiz Paixão, que
traçou um quadro das dificuldades do meio artístico com a censura.
"Muitas peças foram mutiladas a ponto de ficarem irreconhecíveis, e
de os artistas desistirem de encená-las. Tivemos exemplos tristes de
artistas como Don e Ravel, que foram cooptados diretamente para
trabalharem para a ditadura. Presenciamos também o escapismo da
pornochanchada, que retrata uma juventude feliz, nas praias, fazendo
sexo", lembra ele.
Outra lembrança de resistência da classe artística
em Belo Horizonte foi, segundo Paixão, a Semana do Proibido, em que
foram encenadas peças, exibidos filmes, fotografias e poemas
censurados pela ditadura. "Realizamos a Semana com a polícia
cercando o Centro Cultural do DCE, na rua Gonçalves Dias, onde hoje
estão os cinemas Belas Artes", recordou o teatrólogo.
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