Exploração da mina de Capão Xavier pode ser objeto de CPI

A exploração da mina de Capão Xavier, em Nova Lima, pela empresa Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), foi discutida...

31/03/2004 - 00:01
 

Exploração da mina de Capão Xavier pode ser objeto de CPI

A exploração da mina de Capão Xavier, em Nova Lima, pela empresa Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), foi discutida durante quase quatro horas na reunião da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais desta quarta-feira (31/3/04). Foram ouvidos representantes do poder público, da empresa e dos moradores, que lutam na Justiça para barrar o empreendimento. A presidente da comissão, deputada Maria José Haueisen (PT), considerou a reunião proveitosa, mas lamentou que o assunto não tenha sido exaustivamente debatido antes de a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) dar a Licença de Instalação do empreendimento à MBR.

O deputado Adalclever Lopes (PMDB) - um dos autores da ação que resultou em liminar concedida na última semana pela 17ª Vara da Justiça Federal, interrompendo as atividades da empresa em Capão Xavier - não ficou satisfeito com as explicações da MBR e dos técnicos da Feam. Ele informou que pretende colher assinaturas de outros deputados para formalizar um pedido de CPI que deverá investigar o assunto. O deputado Leonardo Quintão (PMDB) voltou a questionar o fato de o licencimento feito pela Feam ter como base um estudo feito pela empresa espanhola Frasa Engenharia, cujo responsável não tem licença de atuação profissional no Brasil.

O advogado Ricardo Santiago, autor das primeiras denúncias de que a mina afetaria o abastecimento de água de Belo Horizonte, leu trechos de estudos da própria MBR onde está escrito que haverá redução da vazão dos córregos da região. O vereador de Nova Lima Otávio Freitas também se valeu dos vários estudos feitos sobre o assunto - pela Frasa e também pela Botura, empresa contratada pela Prefeitura de Belo Horizonte - para tentar provar que córregos como Mutuca e Feixos poderão secar, no futuro, por causa do rebaixamento do lençol freático, durante a exploração da mina. "Infelizmente, o laudo da Botura foi esquecido, engavetado", lamentou.

Empresa se defende - A MBR esteve representada na reunião pelo gerente de Meio Ambiente, Leandro Amorim, e pelo advogado Ricardo Carneiro. Amorim fez um histórico da exploração minerária na região de Nova Lima e afirmou que, se comparado a outros empreendimentos, Capão Xavier será uma mina de baixo impacto ambiental. "Lá não haverá barragem de rejeitos nem depósito de material, pois serão utilizadas a barragem e o depósito da mina de mutuca, já desativada", afirmou o gerente. Ele admitiu que qualquer atividade minerária traz algum impacto ambiental que não pode ser reparado, mas garantiu que para isso existem os sistemas de compensação ambiental, preocupação constante da MBR.

Leandro Amorim voltou a afirmar que nenhuma obra de mineração no Brasil teve estudos tão longos e detalhados como Capão Xavier. "O abastecimento de água de Belo Horizonte não será afetado, nem em quantidade, nem em qualidade", garantiu. Ele rebateu as críticas do Ministério Público e dos deputados Adalclever Lopes e Leonardo Quintão, dizendo que o processo é complexo e que ninguém pode querer entendê-lo em duas ou três semanas.

O deputado Fábio Avelar (PTB) criticou o que ele chamou de "guerra contra a MBR". Segundo o deputado, a posição de órgãos públicos como a Feam deve ser respeitada. "Não podemos deixar que esses órgãos caiam em descrédito. Respeito muito os técnicos que lá trabalham, sei que eles não dariam um laudo favorável sem antes estudarem atentamente o assunto", concluiu. A mesma posição foi assumida pelo deputado Sidinho do Ferrotaco (PSDB). Ele pediu que o debate sobre Capão Xavier não se transforme em um embate, com posicionamentos apaixonados e radicais.

Promotor questiona postura dos órgãos ambientais

O promotor de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, Fernando Antônio Galvão da Rocha, foi enfático ao afirmar que os questionamentos feitos à Feam pelo Ministério Público, sobre Capão Xavier, não foram respondidos satisfatoriamente. O promotor leu o parecer enviado pela fundação, e disse que considera o laudo "sem qualquer embasamento jurídico". Na opinião dele, a Feam concedeu as licenças de instalação e de operação da mina sem de fato enfrentar a questão jurídica que seria o desrespeito à Lei Estadual 10.793, de 1992, que protege os mananciais destinados ao abastecimento público de água.

As representantes da Feam abriram mão dos 30 minutos que lhes foram concedidos para explicações sobre o tema, falando durante quatro minutos apenas. A bióloga Adriane Pena disse que as manifestações da Copasa e do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), favoráveis ao empreendimento, não deixam dúvidas sobre o respeito à legislação estadual. Para ela, todos os pressupostos legais foram cumpridos pela empresa.

Caução ambiental - O promotor Fernando Antônio Galvão da Rocha defendeu a criação de um fundo com recursos da empresa, que seriam utilizados em caso de dano ao meio ambiente, uma espécie de "caução ambiental". Segundo ele, "o Estado não pode continuar arcando com os prejuízos causados por acidentes ambientais, a exemplo do que aconteceu em Cataguases no ano passado". O representante do Ministério Público afirmou, ainda, que o fato de os estudos de impacto ambiental estarem sendo feitos ao mesmo tempo que as obras no local fere a Constituição Federal. Segundo ele, o princípio da precaução foi totalmente desrespeitado. "Parece que os órgãos ambientais não estão fazendo a defesa da sociedade como deveriam", afirmou.

Requerimentos aprovados - A comissão aprovou requerimento do deputado Adalclever Lopes, para que sejam enviadas as notas taquigráficas da reunião desta terça-feira para o juiz da 17ª Vara de Justiça Federal, Carlos Geraldo Teixeira. Outro requerimento, do deputado Leonardo Quintão, pede que seja solicitada à Feam cópia de todo o processo de licenciamento da mina de Mutuca, também da MBR e, ainda, que sejam fornecidas cópias de todos os autos de infração sofridos pela empresa, em Minas Gerais.

O deputado Leonardo Quintão (PT) teve requerimento aprovado, pedindo a realização de audiência pública da Comissão de Meio Ambiente para discutir o Projeto de Lei (PL) 651/2003, do deputado Biel Rocha (PT), que trata de implantação de programa de redução de resíduos no Estado. A comissão também aprovou requerimento da presidente, deputada Maria José Haueisen (PT), para realização de audiência pública para apurar denúncias de crime ambiental em Inconfidentes, feitas por um vereador daquela cidade.

Outro requerimento aprovado foi do deputado Doutor Ronaldo (PDT) solicitando visita técnica da comissão ao município de Cataguases, para verificar a situação das obras de recuperação ambiental dos danos causados pelo rompimento da barragem de rejeitos de indústria ali localizada.

Presenças - Participaram da reunião a deputada Maria José Haueisen (PT), presidente; e os deputados Doutor Ronaldo (PDT), vice-presidente; Fábio Avelar (PTB), José Milton (PSDB), Leonardo Quintão (PMDB), Chico Rafael (PMDB), Adalclever Lopes (PMDB), Antônio Júlio (PMDB), Doutor Viana (PFL), Ivair Nogueira (PMDB) e Irani Barbosa (PL).

 

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