Criação do Conselho de Comunicação é debatido com especialistas

A regulamentação do Conselho Estadual de Comunicação, como instrumento fundamental para a democratização da comunicaç...

25/03/2004 - 00:00
 

Criação do Conselho de Comunicação é debatido com especialistas

A regulamentação do Conselho Estadual de Comunicação, como instrumento fundamental para a democratização da comunicação, foi tema de audiência pública da Comissão de Participação Popular da Assembléia nesta quinta-feira (25/3/04). Tramita hoje na Assembléia a PEC 62/03, do deputado Rogério Correia (PT), que determina que a Assembléia Legislativa instituirá, como órgão auxiliar do legislativo, o Conselho de Comunicação Social do Estado de Minas Gerais. A proposta altera o artigo 230 da Constituição do Estado. O deputado André Quintão (PT), presidente da Comissão de Participação Popular e relator da PEC na Comissão Especial, abriu a reunião falando da importância do debate para colher sugestões que possam subsidiar seu parecer.

Na reunião, foi debatida também a Proposta de Ação Legislativa 6/2003, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, que contém anteprojeto de lei para criação do Conselho Estadual de Comunicação Social, uma reivindicação antiga do movimento social pela democratização da informação. Pelo anteprojeto, o conselho seria composto por representantes da sociedade civil, do Executivo e do Legislativo para normatizar e democratizar a comunicação no País.

O deputado André Quintão apresentou um breve histórico da tentativa de criação do conselho, esclarecendo que sua instituição está prevista no artigo 230 da Constituição do Estado. A Lei 10.827, de 1992, previa a criação de um colegiado de comunicação. Já a Lei 11.406, de 1994, nos seus artigos 65 a 68, criou o Conselho Estadual voltado para a política de comunicação social do governo. Lei Delegada do governador Aécio Neves manteve o conselho vinculado à Secretaria de Governo. "O Sindicato dos Jornalistas quer um conselho estadual com atribuições que extrapolem o âmbito das ações do governo para a área", afirmou o deputado.

Sindicato quer conselho com ampla participação social

O presidente do Sindicato dos Jornalistas explicou que a maior parte da legislação sobre comunicação é de competência da União. "A concessão de rádios e TVs, por exemplo. No entanto, os conselhos estaduais podem emitir pareceres para a renovação das concessões, pode criar instrumentos de participação e de manifestação da sociedade", acrescentou. Aloísio Lopes disse ainda que os conselhos editoriais e as comissões de redação para os veículos de comunicação social da administração direta e indireta do Estado, obrigatórios pelo artigo 229 da Constituição do Estado não existem hoje. O deputado André Quintão afirmou que a PEC precisará ser revista. "O artigo 229 terá que ser regulamentado e o 230, alterado", explicou.

A participação dos conselhos na emissão de pareceres para a renovação das concessões de canais de TV e rádio também foi defendida pelo coordenador do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Celso Augusto Schröder. Segundo ele, o fórum trabalha com quatro eixos - capacitação da sociedade para a comunicação, reorganização do mercado da comunicação no Brasil, incidência dos meios de comunicação social na cultura e dimensão pública da ação política, que seria a criação de mecanismos de fiscalização e participação da sociedade.

Conselho nacional - O Conselho de Comunicação Social, em âmbito federal, criado pela Lei 8.389, de 1991, apresenta dificuldades operacionais, como sua representatividade e a pouca freqüência das reuniões. As informações foram apresentadas pelo conselheiro Ricardo Moretzsohn, para quem o conselho acaba representando mais os empresários da comunicação. O deputado Gustavo Valadares (PFL) sugeriu que, para que o problema não se repita no Conselho Estadual, fosse apresentada uma proposição com critérios claros de composição e representação, com participação dos três poderes, inclusive.

Expositores discutem capacitação da sociedade para o debate

Moretzsohn acredita que falta capacitação da sociedade para discutir o tema tecnicamente. "Seria importante capacitar as representações para participarem do conselho. Os movimentos populares também deveriam participar e se preparar para uma intervenção qualificada", defendeu. O jornalista Luiz Carlos Bernardes lembrou que a criação do conselho nacional foi resultado de uma proposta popular e que 6 mil das 30 mil assinaturas colhidas em todo o Brasil foram de Minas Gerais.

A participação da sociedade nos debates para a criação do conselho estadual foi defendida pelo assessor da Subsecretaria de Comunicação Social da Secretaria de Estado de Governo, Antônio Aquiles. Ele concordou com o despreparo da sociedade civil em relação à comunicação e disse que os conselhos dão muita ênfase à participação dos profissionais da comunicação. "Temos que abrir a discussão porque não vai ser fácil colocar em prática esse conselho. Não é simples administrar as demandas da sociedade em relação ao que se pode fazer na área de comunicação", concluiu.

O representante da Secretaria Executiva da Frente de Defesa da Criança e do Adolescente, Antônio Coquito, discordou dos expositores. Para ele, a sociedade está preparada e tem dado sua contribuição. O presidente do Sindicato dos Jornalistas acrescentou que a capacitação da população deve constar entre as atribuições do Conselho Estadual. "Não se deve esperar que a sociedade se prepare para então criar o conselho", acrescentou.

Coquito disse divergir também do formato e da metodologia do Conselho de Comunicação Social porque não se abre para a participação da sociedade. "O conselho deveria buscar alternativas para sair do seu caráter consultivo para ser deliberativo e propositivo", afirmou. Ele criticou ainda os equívocos na cobertura jornalística da criança e do adolescente e o que chamou de olhar preconceituoso em relação ao adolescente infrator. "As matérias não aprofundam. Cadê o compromisso social?", questionou.

Meios comunitários - O coordenador da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), José Guilherme Castro, fez críticas aos critérios adotados pelo governo federal para a concessão de rádios e TVs e ao tratamento dado aos meios comunitários de comunicação. "Imprensa no Brasil sempre foi sinônimo de violência e censura", afirmou. Segundo ele, em muitas cidades brasileiras são instaladas antenas repetidoras ou retransmissoras de canais comerciais sem o conhecimento do Ministério das Comunicações ou da Anatel. "As antenas comunitárias são fichinha perto disso aí", argumentou.

José Guilherme destacou ainda a prestação de serviços pelas rádios comunitárias e fez um cálculo aproximado do número de empregos que poderiam ser gerados com a regulamentação dessas rádios: 250 mil, segundo ele. O deputado Mauro Lobo (PSB) manifestou sua preocupação com a complexidade e amplitude do tema "democratização da comunicação". Para ele isso se explica, entre outras coisas, porque é preciso levar em consideração os dois lados do processo comunicativo - emissor e receptor. "A dificuldade é porque esse tema mexe com a percepção e com os valores das pessoas", concluiu.

Presenças - Participaram da reunião os deputados André Quintão (PT), presidente; Gustavo Valadares (PFL), vice; Mauro Lobo (PSB), Biel Rocha (PT) e Dinis Pinheiro (PL).

 

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