Dhesc Brasil apresenta relatório sobre atendimento em
maternidades
O relatório das inspeções feitas pela Plataforma
Brasileira de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais
(Dhesc Brasil) nas maternidades Odete Valadares e Sofia Feldman e na
casa de parto David Capistrano na segunda-feira (22) concluiu que o
atendimento às mulheres na hora do parto e na seqüência ao
procedimento do aborto provocado é excelente, dentro das limitações
vividas em cada unidade. As informações foram apresentadas pela
relatora de saúde da Dhesc Brasil, Eleonora Menicucci de Oliveira, à
Comissão de Administração Pública da Assembléia, nesta terça-feira
(23/3/2004). A reunião foi solicitada pela deputada Jô Moraes
(PCdoB) que destacou, na abertura da reunião, a importância da
participação das instituições internacionais na formulação e
fiscalização das políticas públicas, como uma questão de governo e
não de segmentos.
Segundo Eleonora Menicucci, no entanto, algumas
falhas foram identificadas durante as visitas aos hospitais de Belo
Horizonte. "Embora ambos façam o aborto legal - em casos de estupro
ou de risco de vida da mãe - não divulgam o serviço", lamentou. A
relatora de saúde da Dhesc Brasil pediu o apoio dos deputados para
exigirem das maternidades a institucionalização e a publicidade do
serviço. Eleonora afirmou ainda que é preciso informar às pacientes
o direito ao atestado médico em caso de aborto. "As mulheres ficam
constrangidas, muitas vezes, de receberem um atestado informando que
fizeram um aborto", alegou. Para ela, o atestado deveria informar
apenas que a mulher se submeteu a uma curetagem, sem especificar se
houve um aborto espontâneo ou provocado.
O relatório da missão da Dhesc apontou ainda outros
obstáculos para um melhor atendimento das mulheres com gravidez de
alto risco, vítimas de violência sexual e em situação de aborto
provocado, como a implantação do CTI para a mulher na Maternidade
Odete Valadares, que é uma unidade de referência no Estado para a
gestante de alto risco. "Sendo a única maternidade pública, não pode
deixar de ter importante setor de tratamento, indispensável para
evitar a morte das mulheres no momento do parto, por exemplo",
completou Eleonora. A necessidade de autonomia para o gestor da
mesma maternidade definir estratégias administrativas que possam
evitar a falta de material, e a compra de medicamentos sem
qualidade, além do custeio para o funcionamento dos quatro leitos do
CTI adulto na Maternidade Sofia Feldman, também foram mencionadas no
relatório.
Relatório será encaminhado à Comissão de Saúde
A deputada Jô Moraes considerou o depoimento de
Eleonora sugestivo e intrigante, por trazer o drama cotidiano das
mulheres para dentro do parlamento mineiro. Ela afirmou que o
relatório da missão da Dhesc Brasil, em Minas, será encaminhado à
Comissão de Saúde da Assembléia. O deputado Fábio Avelar (PTB)
destacou o papel da entidade. "Apesar de todas as dificuldades
encontradas na área da saúde, ainda temos instituições que prestam
serviços relevantes no intuito de minimizar a crise da saúde no
Brasil", afirmou. O presidente da Comissão de Administração Pública,
deputado Domingos Sávio (PSDB), acredita que as injustiças sociais
estão no centro dos grandes problemas da sociedade brasileira. Já o
deputado Paulo Piau (PP) manifestou sua preocupação com a educação
do País que, segundo ele, apresenta os piores índices qualitativos
da América Latina. "A educação perpassa todos os problemas sociais,
inclusive os da saúde", defendeu.
Gestão dos recursos - A
assessora da relatoria de Direitos Humanos da Plataforma Dhesc
Brasil, Lúcia Maria Xavier, lembrou a importância do mandato
parlamentar na fiscalização dos gastos públicos e também no
acompanhamento do resultado dos serviços prestados. "Quando se fala
em saúde, não se fala somente em bem individual, mas em bem
coletivo. É preciso a consciência de como aplicar os recursos e dos
resultados que serão obtidos", concluiu.
Dhesc Brasil apura denúncias in loco
A Dhesc Brasil, rede de entidades da sociedade
civil em parceria com a Secretaria Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República, e com o Programa da Organização das Nações
Unidas para o Voluntariado, foi criada em 2000. O objetivo da rede é
recolher denúncias de violação dos direitos humanos através de
missões. Após elaborar relatórios sobre os temas pesquisados, envia
sugestões para os órgãos competentes solucionarem os problemas
detectados.
A rede trabalha com seis relatorias e somente a de
saúde é ocupada por uma mulher. Os relatores são voluntários
indicados por organizações e selecionados por currículo. Eleonora
Menicucci, que teve seu mandato prorrogado até novembro deste ano,
informou que duas missões foram realizadas em 2003. Uma delas,
verificou a contaminação de 848 trabalhadores da Shell e 260
moradores de Paulínia, nas proximidades da empresa que produzia
drins para a fabricação de inseticidas. Segundo Eleonora, os
contaminados estão com câncer e não recebem assistência médica da
Shell.
A outra denúncia apurada no ano passado refere-se à
morte de seis mulheres em um mês no município de Barreiros, na Zona
da Mata de Pernambuco. A clínica onde foram atendidas em trabalho de
parto não teria feito o atendimento adequado, encaminhando os casos
para outro hospital público. Foi verificado que todas as mulheres
haviam feito o pré-natal, ao contrário do que alegaram os
responsáveis pela clínica.
Eleonora informou ainda que a relatoria de saúde
está atuando agora com dois caminhos de investigação - o atendimento
pelo SUS dos casos de abortos provocados e de casos de Lesão por
Esforço Repetitivo (LER). "Escolhemos essas linhas de pesquisa
porque essas doenças atingem todas as classes sociais, raças e
qualquer ramo de produção", explicou. Ela acrescentou que, nesta
terça-feira, a Dhesc Brasil realizará uma reunião com o Sindicato
das Trabalhadoras Domésticas, em Belo Horizonte, para verificar os
casos de LER entre elas. "Escolhemos as trabalhadoras domésticas por
um compromisso histórico com essas mulheres que têm dupla jornada",
afirmou.
Presidente recebe Eleonora Menicucci
Após a reunião, o presidente da Assembléia,
deputado Mauri Torres (PSDB), recebeu no Salão Nobre a deputada Jô
Moraes que acompanhou Eleonora Menicucci e Lúcia Maria Xavier na
visita. A relatora de saúde da Dhesc Brasil entregou ao presidente
cópia do relatório da visita às maternidades da capital mineira e
recebeu das mãos dele um exemplar da cartilha "Mulher na política:
essa luta é sua". A deputada Jô Moraes destacou a participação do
presidente, com a bancada feminina da Assembléia, no ato de
lançamento da cartilha, no dia 8 de março, Dia Internacional da
Mulher, na Praça Sete. Eleonora pediu que o presidente acompanhasse,
juntamente com os outros deputados, o encaminhamento do
relatório.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Domingos Sávio (PSDB), presidente; Paulo
Piau (PP), vice; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Fábio Avelar (PTB),
Ricardo Duarte (PT) e a deputada Jô Moraes (PCdoB).
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