Ciclo de debates vai discutir 40 anos do golpe militar

31 de março de 1964. Partindo de Juiz de Fora, o comandante da 4a Região Militar, general Olímpio Mourão Filho, march...

29/03/2004 - 00:03
 

Ciclo de debates vai discutir 40 anos do golpe militar

31 de março de 1964. Partindo de Juiz de Fora, o comandante da 4a Região Militar, general Olímpio Mourão Filho, marcha rumo ao Rio de Janeiro, esperando entrar em confronto com as tropas do 1o Exército, que defenderiam o presidente João Goulart. Em São Paulo, o comandante do 2o Exército, general Amaury Kruel, mobiliza suas tropas para partir para o Rio no dia seguinte, decidido a agir para "neutralizar a ação comunista infiltrada no país". Estava deflagrado o golpe de 1964. Quarenta anos depois, a Assembléia Legislativa discute o significado do golpe militar para a sociedade brasileira, no ciclo de debates "Resistir sempre - 64 nunca mais".

Durante todo o dia 31 de março de 2004, parlamentares, ex-presos políticos, jornalistas e estudiosos vão discutir no Plenário da Assembléia as implicações políticas do golpe que instalou a ditadura militar. O objetivo é transmitir às novas gerações o que a ditadura representou na vida de todos os brasileiros, com a suspensão dos direitos políticos, a perseguição aos opositores do regime e a resistência contra o autoritarismo. O evento integra uma série de atividades que estão sendo promovidas por órgãos públicos, universidades e movimentos sociais para relembrar os 40 anos do golpe de 1964.

PROGRAMAÇÃO

8h30 - Abertura

deputado Mauri Torres (PSDB) - presidente da Assembléia Legislativa

vereador Betinho Duarte (PMDB) - presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte

deputada Jô Moraes (PCdoB) - representando os parlamentares perseguidos pela ditadura

9 horas - O contexto sociopolítico e o significado do golpe de 64

Tilden Santiago - embaixador do Brasil em Cuba

Hélio Bicudo - vice-prefeito de São Paulo

José Maria Rabelo - diretor do jornal Binômio, fechado em 1964

João Quartim de Moraes - professor do Departamento de Filosofia da Unicamp

Suzana Lisboa - representante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos

Raimundo Pereira - editor da revista Reportagem

10h30 - Debate coordenado pelo deputado Durval Ângelo (PT)

12 horas - Intervalo

13h30 - Conhecimento e memória: as cassações no Legislativo mineiro

Michel Le Ven - professor de Ciência Política, autor do livro "Dazinho, um cristão nas Minas", sobre o operário e deputado cassado José Gomes Pimenta

Lucília Neves - professora de História e do mestrado em Ciências Sociais da PUC Minas, autora de estudo sobre o deputado cassado Sinval Bambirra

Clodesmidt Riani - ex-líder sindical e deputado estadual cassado em 1964

15 horas - Debate coordenado pelo deputado Antônio Júlio (PMDB)

15h30 - Testemunhos da resistência

Ignácio Hernandez - liderança sindical em Contagem no período da ditadura

José Luiz Guedes - presidente da União Nacional dos Estudantes na clandestinidade

Gilse Cosenza - militante do movimento estudantil durante a ditadura

Luiz Paixão - dramaturgo, autor de peça censurada pelos militares

17 horas - Debate coordenado pela deputada Marília Campos (PT)

17h30 - Encerramento

HOMENAGEM A HELENA GRECO

À tarde, os participantes do ciclo de debates farão uma homenagem a Helena Greco, por sua atuação em defesa dos direitos humanos e da anistia para todos os perseguidos pelo regime militar. Aos 88 anos, Helena Greco tem a vida marcada pela luta contra qualquer tipo de repressão e discriminação. Fundadora do Movimento Tortura Nunca Mais e do Movimento Feminino pela Anistia em Minas Gerais, também idealizou a Coordenadoria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de Belo Horizonte, de onde esteve à frente de 1993 a 1996. Também teve participação ativa na criação do Partido dos Trabalhadores (PT): foi uma das primeiras assinantes do manifesto de fundação do partido, em 1980, e integrou a primeira executiva nacional, o primeiro diretório nacional, a primeira executiva estadual e o primeiro diretório estadual do partido. Foi pelo PT que Helena Greco elegeu-se vereadora em Belo Horizonte por duas vezes, em 1985 e 1988.

SAIBA MAIS SOBRE OS PARTICIPANTES DO CICLO DE DEBATES

Tilden Santiago

Atual embaixador do Brasil em Cuba, foi operário, padre, filósofo e professor. Como jornalista, trabalhou no Diário do Comércio, Jornal de Casa e no alternativo Opinião. Elegeu-se deputado federal pelo PT por três mandatos (1991-95, 1995-99 e 1999-2003). Foi secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável no governo Itamar Franco (1999-2000).

Hélio Bicudo

Advogado e jornalista, é vice-prefeito de São Paulo, presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e delegado para o Brasil da Organização Mundial contra a Tortura. Já foi deputado federal pelo PT-SP (1991-94 e 1995-98) e ministro interino da Fazenda durante o governo João Goulart (1963). Em 1969 e 1970, investigou as atividades do esquadrão da morte em São Paulo.

José Maria Rabelo

Jornalista, criador do jornal Binômio, que fez forte oposição a Juscelino Kubitschek à frente do governo de Minas. O jornal começou a circular em 1952 e só fechou em 1964, logo após o golpe militar. Rabelo exilou-se no Chile, na França e na Bolívia, onde, em 1979, participou da fundação do PDT, juntamente com Darcy Ribeiro e Doutel de Andrade. No mesmo ano, voltou ao Brasil, quando a anistia pôs fim à perseguição aos opositores do regime.

João Quartim de Moraes

Cientista político e professor de Filosofia Política na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Já dirigiu o Núcleo de Estudos Estratégicos dessa universidade. Autor de vários livros, entre eles "A esquerda militar no Brasil".

Suzana Lisboa

Representante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos. Essa comissão do Ministério da Justiça foi criada por lei de 1995 que julga a responsabilidade do Estado e o pagamento de indenizações a parentes de pessoas mortas e desaparecidas durante a ditadura militar. Foi militante da Ação Libertadora Nacional juntamente com seu marido Luiz Eurico Tejera Lisboa, que apareceu morto na carceragem do 5o Distrito Policial de São Paulo em 1972.

Raimundo Pereira

Jornalista, dirige a Oficina da Informação, projeto que surgiu em 1997 com o lançamento de um site de notícias e desde 2001 edita a revista Reportagem. Integrou a equipe que lançou a revista Veja e trabalhou em diversas grandes redações, como as revistas Senhor, Realidade e IstoÉ e o Jornal da Tarde. Também dirigiu os jornais alternativos Movimento e Opinião.

Os deputados Sinval Bambirra, José Gomes Pimenta e Clodesmidt Riani foram presos logo após o golpe por supostas ligações com comunistas. Em reunião secreta realizada no dia 8 de março de 1964, a Assembléia aprovou a cassação de seus mandatos e a suspensão de seus direitos políticos. Em 1994, a Assembléia reconheceu que as cassações tiveram motivos exclusivamente políticos e declarou a reabilitação dos ex-deputados, que passaram a receber pensão especial. Clodesmidt Riani, que já havia presidido o sindicato dos eletricitários de Juiz de Fora, foi o primeiro operário a eleger-se deputado estadual em Minas Gerais em 1954, sendo reeleito em 1962. Voltou à militância política após a anistia e elegeu-se deputado mais uma vez em 1982. Já José Gomes Pimenta, o Dazinho, eleito em 1962, foi presidente do sindicato dos mineiros de Nova Lima e da Juventude Operária Católica. Sinval Bambirra, também eleito em 1962, foi presidente do sindicato dos tecelões de Belo Horizonte. Exilado, morou no México e na Alemanha Oriental, onde formou-se jornalista e trabalhou na Rádio de Berlim.

Michel Le Ven

Professor de Ciência Política , escreveu o livro "Dazinho, um cristão nas Minas", sobre o ex-deputado cassado José Gomes Pimenta. Nascido na França, Michel Le Ven participou da organização de greves em Betim e ofereceu refúgio a estudantes perseguidos pelos militares.

Lucília Neves

Professora de História e do mestrado em Ciências Sociais da PUC Minas, autora de um estudo sobre o ex-deputado cassado Sinval Bambirra.

Ignácio Hernandez

Nascido na Espanha, chegou ao Brasil em 1957, como padre jesuíta. Trabalhou como metalúrgico em Contagem entre 1968 e 1979. Em 1968, participou de uma das primeiras greves realizadas durante o regime militar: a dos operários da Belgo-Mineira e da Mannesmann. Voltou a apoiar o movimento grevista dos metalúrgicos em 1979, quando começavam a pipocar inúmeras greves em todo o país. Escreveu os livros "Memória operária" e "Estação Eldorado".

José Luiz Guedes

Foi o primeiro presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) na clandestinidade, eleito em 1966. O 28o Congresso da UNE foi realizado clandestinamente em Belo Horizonte no dia 28 de julho de 1966, já que o presidente Castelo Branco havia determinado o fechamento da entidade em 1964. Perseguido pelos militares por sua ligação com o PCdoB, José Luís Guedes foi para a clandestinidade. Após a anistia, elegeu-se deputado federal pelo PMDB em 1982. Médico formado pela UFMG, hoje é filiado ao PT.

Gilse Cosenza

Iniciou sua militância no movimento estudantil aos 16 anos, no início da década de 60. Estudante de Serviço Social da PUC Minas, foi vice- presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) daquela universidade. Integrante da Ação Popular, entrou para a clandestinidade em 1968, quando sua prisão preventiva foi decretada. Foi presa em 1969 e, em liberdade no ano seguinte, novamente passou para a clandestinidade, situação que durou até a lei da anistia em 1979. Foi a primeira presidente do PCdoB na legalidade (1985-91) e também presidiu a União Brasileira das Mulheres. Atualmente, é presidente da comissão de anistiados e do diretório do PCdoB em Belo Horizonte.

Luiz Paixão

Teatrólogo, autor da peça "Grande general tupiniquim", totalmente censurada pelos militares em 1982. Dois anos depois, outro texto seu foi parcialmente censurado - "Diretas: Onde já civil?". Em 1978, participou da "Semana do Proibido", manifestação de artistas, estudantes e intelectuais que organizaram a exibição de filmes, músicas e obras literárias censuradas na sede do DCE-UFMG.

EXPOSIÇÃO 1964-1985: A SUBVERSÃO DO ESQUECIMENTO

Fotos históricas, documentos secretos, discos de vinil, jornais e revistas antigos: esses e outros objetos que retratam as duas décadas de ditadura militar no Brasil poderão ser vistos na exposição "1964-1985: A subversão do esquecimento", que integra a programação de eventos para rememorar os 40 anos de golpe de 1964. A exposição será aberta no dia 31 de março, logo após o término do ciclo de debates "Resistir sempre - 64 nunca mais". A mostra, que vai até o dia 16 de abril na galeria de arte da Assembléia, poderá ser vista de segunda a sexta, das 9 às 19 horas. As escolas podem agendar visitas orientadas pelos telefones (31) 3290-7804 e 3290-7805.

O objetivo da exposição é explicar às novas gerações o que os 20 anos de ditadura militar representaram para os brasileiros. Ela é dividida em quatro ambientes, que retratam fases distintas: início dos anos 60 (o contexto político dos fatos que antecederam o golpe); 1964-1968 (o golpe militar e os primeiros anos de ditadura); 1969-1974 (o recrudescimento da repressão aos opositores do regime); e 1975-1985 (a distensão e os anos finais da ditadura).

Textos explicam os principais acontecimentos políticos do regime militar, que são ilustrados por fotos históricas e objetos diversos. Entre os documentos raros que compõem a mostra, está a ata da reunião secreta de Plenário em que os deputados decidiram pela cassação dos colegas Dazinho, Clodesmidt Riani e Sinval Bambirra. A exposição também retrata a efervescência cultural do período, com referências às principais manifestações artísticas da época no teatro, na música e no cinema.

"Memória e poder" - Durante a exposição, serão exibidos no Teatro da Assembléia vídeos com depoimentos de personalidades importantes do período, como os jornalistas José Mendonça, Villas Bôas Corrêa e Guy de Almeida e os ex-ministros Jarbas Passarinho e Oscar Dias Corrêa. Além deles, artistas como Pedro Paulo Cava, Carlos Heitor Cony, Álvaro Apocalypse, Fernando Brant e Helvécio Ratton falam sobre política e cultura durante o período militar. Todas as entrevistas foram gravadas para o programa "Memória e poder" da TV Assembléia, que está exibindo a série especial sobre a ditadura militar até o final desta semana. Os programas inéditos vão ao ar nesta segunda (29) e terça (30), às 23 horas. A partir de quarta (31), os programas serão reprisados em horários diferentes: 21 horas (quarta-feira), meio-dia (quinta-feira), 22 horas (sábado) e 15h30 (domingo).

 

 

 

 

 

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - 31 - 3290 7715