Representantes da Saúde pedem aumento de verbas para o setor

Na reunião desta quinta-feira (18/3/04), destinada a debater a assistência à saúde pública em Minas, a Comissão de Sa...

18/03/2004 - 00:02
 

Representantes da Saúde pedem aumento de verbas para o setor

Na reunião desta quinta-feira (18/3/04), destinada a debater a assistência à saúde pública em Minas, a Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa recebeu apelos de diversos representantes do setor no Estado para que ajude no sentido de que as verbas para a área sejam aumentadas. Logo na abertura da audiência pública, o autor do requerimento pela sua realização, deputado Fahim Sawan (PSDB), vice presidente da comissão, apontou problemas que estariam agravando a situação da saúde: o valor per capita para a saúde em Minas mais baixo que o recebido por outros Estados; a defasagem da tabela do SUS; e a falta de regulamentação da Emenda Constitucional 29, que prevê o percentual a ser gasto na saúde.

O presidente da Associação dos Hospitais de Minas, Carlos Eduardo Ferreira, pediu aos deputados que negociassem com os Ministérios da Saúde e da Fazenda o aumento dos repasses para a saúde. "Os prestadores de serviços de saúde passam por uma dificuldade extrema", reclamou ele, ao apresentar um estudo do Ministério da Saúde mostrando que a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) remunera os procedimentos abaixo do custo, com exceção dos transplantes. O documento mostra que os recursos para o setor vêm caindo nos últimos anos. Em 2003, o ministério investiu R$ 17,5 bilhões na saúde, o que perfaz um valor de R$ 92 anuais para cada brasileiro (menos de R$ 8 por mês). Minas ficou com R$ 1,713 bilhão (9,7% do total).

"Os hospitais estão tendo só prejuízos de dez anos para cá", lamentou Ferreira, para quem o endividamento hospitalar compromete até 12 meses de faturamento. Isso seria causado pelos aumentos nos salários dos funcionários - cerca de 50% dos custos - e nos preços dos medicamentos, equipamentos e insumos. Para agravar o quadro, o nível de exigência dos gestores da saúde aumenta cada vez mais, de acordo com Ferreira. Para remediar essa situação, ele reivindicou a abertura de uma linha de crédito emergencial para atender os estabelecimentos de saúde.

O deputado Fahim Sawan (PSDB) apoiou a reivindicação do representante dos hospitais de empréstimos para o setor. Ele e o deputado Neider Moreira (PPS) defenderam também o reajuste da tabela de procedimentos. Sawan sugeriu até que o SUS passasse a adotar a Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), já utilizada no Espírito Santo. Na opinião dele e do presidente da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Castinaldo Bastos Santos, a CBHPM é um documento idôneo, elaborado pela classe médica para remunerar adequadamente os procedimentos médicos.

Hospitais não têm infra-estrutura para atendimento

O presidente da AMMG disse que a infra-estrutura é precária na maior parte dos hospitais. "Muitos municípios pagam até R$ 10 mil (por mês) para médicos trabalharem no local, mas não oferecem nenhuma estrutura". Castinaldo Santos afirmou que não faltam médicos em Minas, mas sua distribuição no Estado é inadequada. Segundo ele, 240 municípios de Minas não têm um médico sequer, levando a um grande desnível entre a capital, com 200 pessoas por médico, e no restante do Estado, com 600 pessoas/médico.

Para o diretor do Conselho Regional de Medicina de Minas, Paulo Eduardo Behrens, o sucateamento da saúde tem como uma de suas conseqüências o aumento de processos contra profissionais (de 2002 para 2003, foi de 15%). Os médicos são obrigados a atender em hospitais sem os equipamentos necessários. Outro problema são os baixos salários, na opinião de Behrens: "O aviltamento da remuneração leva os médicos a terem três, quatro empregos, atendendo mais de cem pacientes por dia; dessa forma, é humanamente impossível atender bem".

Frente da Saúde quer regulamentação da Emenda 29

O presidente da Frente Parlamentar da Saúde, deputado federal Rafael Guerra (PSDB/MG), defendeu a regulamentação da Emenda Constitucional 29, de 2000, que prevê o percentual de gastos do Orçamento na Saúde Pública. Ele acha importante a nova lei definir com clareza as ações de saúde, para que só as despesas diretas do setor sejam lançadas como gastos na saúde. Guerra acredita que a emenda será regulamentada em breve, pois ela própria prevê o prazo até 2004 para tal. O deputado federal reivindicou também o aumento de repasses para a área em Minas, Estado com o 3º maior número de usuários da saúde do Brasil, que não recebe o correspondente em verbas. Os deputados Neider Moreira e Fahim Sawan fizeram apelo a Rafael Guerra para que a Frente encabeçasse a luta pelo aumento do repasse a Minas e pela regulamentação da Emenda 29.

Rafael Guerra leu ainda uma carta da Frente Parlamentar da Saúde em que pede que o setor de saúde fique de fora do aumento no recolhimento da Cofins e de sua cobrança na importação de equipamentos e insumos que não tenham similares nacionais. Em dezembro de 2003, segundo Guerra, na votação da Medida Provisória sobre o fim da cumulatividade da Cofins, o governo federal havia se comprometido a deixar de fora os serviços essenciais. Mas parte do setor da saúde, principalmente os pequenos prestadores de serviço, não foi contemplada com a exclusão no texto do projeto.

Diferentemente dos outros deputados, Adelmo Carneiro Leão (PT) alegou que a regulamentação da Emenda 29, apesar de importante, não era pré-requisito para que o Estado aplicasse mais recursos na saúde. "Minas Gerais historicamente aplica poucos recursos na saúde". Ele criticou a inclusão, a seu ver indevida, de investimentos em saneamento básico e outros gastos não diretamente ligados à saúde como aplicação de recursos do governo do Estado na saúde. Adelmo defendeu também a atuação sintonizada das Frentes Nacional e Estadual da Saúde, de modo a garantir sua isenção e impedir a defesa de interesses de governos ou partidos dentro desses fóruns.

Mortalidade infantil - Tratando da política estadual para o setor, o subsecretário de Inovação e Logística da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Marcelo Teixeira, declarou que a principal meta do órgão é reduzir a mortalidade infantil em 25%, a partir de dois eixos: a regionalização e a atenção básica. O objetivo para 2004 é dotar as 75 microrregiões do Estado de atendimento de baixa e média complexidade, através do fortalecimento e melhoria da qualidade dos hospitais. Outra meta é fazer com que as 13 macrorregiões tenham atendimento de alta complexidade. Até agora, de acordo com Teixeira, sete macrorregiões foram contempladas. No Programa Saúde em Casa, o Estado está criando um incentivo que varia de R$ 1.000 a R$ 2.000 para os municípios que aderirem.

Saúde da Família - A secretária adjunta da Saúde de Belo Horizonte, Maria do Carmo, disse que, enquanto a Emenda 29 prevê que municípios apliquem 15% dos recursos na saúde, a capital aplicou 19,3% em 2003. Ela enfatizou que o Estado deve cumprir a emenda para que Belo Horizonte receba mais recursos. Maria do Carmo informou que, hoje, o sistema de saúde do município tem 200 unidades, sendo 135 centros de saúde, nas quais são feitas 20 mil internações por mês. Além disso, Maria do Carmo afirmou que a secretaria realiza o maior Programa de Saúde da Família do Brasil e conseguiu reduzir a mortalidade infantil de 30 pessoas por mil para 13 por mil.

Comissão vai pedir providências a órgãos da Saúde

Para sanar os problemas levantados na reunião, os deputados propuseram várias ações da Comissão de Saúde, encaminhadas através dos seguintes requerimentos, a serem aprovados na próxima reunião: envio de ofícios à Frente de Saúde, solicitando estudos para viabilizar financiamentos para os prestadores de serviços da área privada, para quitar débitos de tributos; ao Ministério da Saúde, pedindo que acolha as propostas da frente na regulamentação da Emenda 29; ao Ministério da Saúde solicitando que constitua uma comissão permanente para acompanhar a fiscalização dos preços de insumos hospitalares (segundo o deputado Neider Moreira, muitos deles, por serem importados, acompanham a valorização do dólar, tornando-se muito caros).

Serão encaminhados também ofícios à Secretaria de Estado e ao Ministério da Saúde, pedindo informações sobre a implantação do cartão-SUS (atendendo a pedido do deputado Neider Moreira, que havia afirmado que o cartão estava demorando a ser implantado); ao ministro da Saúde, fazendo veemente apelo pela revisão e reajuste dos valores da tabela de procedimentos; e ao Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems) e à SES requerendo informações sobre a possibilidade de atualização dos investimentos per capita realizados pela Programação Pactuada Integrada (PPI) em Minas. Outro requerimento pede que seja realizada audiência conjunta da comissão com a de Administração Pública para discutir o plano de carreira dos servidores da saúde no Estado.

Requerimentos aprovados - Do deputado Ricardo Duarte (PT), pedindo audiência pública com o secretário de Estado da Saúde, para que sejam divulgadas as ações da secretaria para toda a sociedade, cumprindo a Lei Federal 8.689, de 1993; do deputado Célio Moreira (PL), requerendo envio de ofício ao Ministério Público solicitando a reavaliação, por profissionais desvinculados da Mineração Morro Velho, dos ex-empregados com suspeita de silicose.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Fahim Sawan (PSDB), vice-presidente, que dirigiu os trabalhos; Neider Moreira (PPS), Carlos Pimenta (PDT), Célio Moreira (PL) e Adelmo Carneiro Leão (PT).

 

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