Comissão proporá força-tarefa para atender silicóticos da Morro Velho

A Comissão de Saúde da Assembléia vai solicitar do Ministério do Trabalho e do governo do Estado a criação de uma for...

11/03/2004 - 00:00
 

Comissão proporá força-tarefa para atender silicóticos da Morro Velho

A Comissão de Saúde da Assembléia vai solicitar do Ministério do Trabalho e do governo do Estado a criação de uma força-tarefa para desenvolver ações em favor das vítimas da silicose da Mina de Morro Velho, em Nova Lima. A silicose é uma doença crônica e incurável causada por inalação de poeiras contendo partículas de sílica. Ao final da audiência pública nesta quinta-feira (11/3/2004), o presidente da comissão, deputado Ricardo Duarte (PT) leu o requerimento com esse teor, além de outros quatro, e anunciou que eles serão aprovados na próxima reunião da comissão. Representantes dos trabalhadores, Secretaria Estadual e outros órgãos da Saúde, Ministério Público, Delegacia Regional do Trabalho e silicóticos participaram da reunião que lotou o Teatro da Assembléia e se estendeu por quatro horas.

Pelo requerimento, assinado pelo presidente da comissão e pela deputada Jô Moraes (PCdoB), a força-tarefa, constituída pelo Fundacentro/MG, Ministério Público, Secretaria Estadual e Ministério da Saúde, Assembléia Legislativa e INSS, terá 90 dias para realizar as seguintes ações: fiscalizar o controle das doenças profissionais dos trabalhadores ativos da mina, a situação das ações dos mineiros na Justiça comum e o cumprimento do acordo firmado entre as partes em 1991; e ainda planejar ações para garantir os exames médicos periciais dos que têm ações indenizatórias na Justiça.

Audiência em Nova Lima - Outro requerimento dos dois parlamentares solicita que a comissão realize em junho deste ano uma nova audiência, em Nova Lima, para avaliar o trabalho da força-tarefa, principalmente na questão dos processos sobre doenças profissionais. O deputado Célio Moreira (PL) requereu o envio de ofício ao MP solicitando a reavaliação, por profissionais desvinculados da Mineração Morro Velho, dos ex-empregados com suspeita de silicose.

Através de outro requerimento de Ricardo Duarte, a comissão vai também pedir informações à superintendência estadual do INSS sobre: quantidade e situação de processos de perícias médicas para benefício de mineiros; sobre o tempo previsto para conclusão dos processos e realização de novas perícias, e quanto ao número de Comunicações de Acidentes de Trabalho (CAT) expedidas pela Anglo Gold até fevereiro de 2004. O último requerimento, da deputada Jô Moraes, pede ao Conselho Regional de Medicina informações sobre a instauração e a tramitação de processo sobre a atuação do médico Sílvio Musmam. Segundo o presidente do Sindicato dos Mineiros de Nova Lima e Região, Marcelino Edwirges, o médico teria feito laudos divergentes para um só trabalhador - um, diagnosticando silicose, e outro, após sua contratação pela empresa, não mais acusando a doença.

Número de ações contra Anglo Gold chega a 15 mil

O sindicalista Marcelo Edwirges informou que há cerca de 7500 ações de silicóticos contra a Anglo Gold e o número deles deve ultrapassar 15 mil. Ele disse que o sindicato apresenta laudos acusando a silicose, mas a empresa não aceita, exigindo outros exames para, no final, apresentar outro laudo, desta vez sem diagnosticar a doença. "Nós não confiamos nos laudos da Mineração Morro Velho", disparou. Ele disse ainda que depois que a empresa passou a fazer os laudos, a cada dez, nove são negados, enquanto que antes, entre dez laudos, oito apresentavam silicose.

Empresa já teria pago R$ 37 milhões em indenizações

O diretor administrativo da Anglo Gold, Marcelo Wagner Pereira Lopes, contrapôs-se ao diretor do sindicato, apresentando outros números. De acordo com ele, até agora a Mineração recebeu 5.474 casos, com 2.564 constatações de silicose e 2.910 resultados negativos. Uma vez confirmada a doença, o trabalhador, caso faça o acordo (que seria opcional, segundo Lopes), recebe uma indenização de cerca de R$14 mil. Se o laudo da empresa for negativo, o processo continua tramitando na Justiça comum, segundo informou o executivo.

Marcelo Lopes registrou ainda que a Anglo Gold gastou até agora, quase R$ 37 milhões com indenizações, sendo R$ 1 milhão referentes a honorários advocatícios. Além disso, a empresa tem prestado assistência às vítimas e suas famílias de Nova Lima, Raposos e Rio Acima, através do Centro de Referência em Pneumologia, obra que custou R$ 570 mil. Os programas desenvolvidos no centro já absorveram R$ 500 mil, gastos com medicamentos, consultas e exames, tudo gratuito, de acordo com Lopes. Ainda segundo ele, a Mineração tem adotado várias medidas preventivas nas áreas de segurança, saúde e higiene no trabalho.

Vereador reclama da lentidão da Justiça em Nova Lima

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Nova Lima, vereador Otávio Freitas, reclamou da lentidão da Justiça na cidade, devido a falta de investimentos. Hoje, segundo ele, há milhares de processos sem julgamento, prejudicando os trabalhadores. Para agravar ainda mais o quadro, disse Freitas, o Tribunal de Justiça teria declinado do poder de julgar essas ações, transferindo-as para a Justiça do Trabalho. Para lidar com essa questão, foi proposto pela comissão, através de requerimento, a discussão com a Justiça de Minas da melhor forma de encaminhar os exames médicos periciais com pedido de justiça gratuita.

O delegado Regional do Trabalho de Minas-Capital, Carlos Calazans, questionou "por que uma multinacional, que tem boa parte de seus trabalhadores envelhecidos precocemente, não pode pagar uma indenização melhor?". "Infelizmente, esses companheiros deram muito mais que receberam, produzindo um bem precioso: o ouro", lamentou ele. Para chegar a uma solução, Calazans propôs o diálogo com a Mineração, com as instâncias judiciais e se preciso, levar o problema ao Superior Tribunal de Justiça e à Câmara dos Deputados.

A coordenadora de Atenção ao Trabalhador da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Jandira Maciel, lembrou que, há dois anos, a SES foi acionada para realizar exames médicos periciais para a Justiça. Após esclarecer que essa obrigação não é do Estado, Jandira sugeriu que a secretaria, o Ministério da Saúde e o INSS fizessem um planejamento para realizar exames dos mineiros da Morro Velho. Representando o Conselho Estadual de Saúde, Nicodemus Arimathéia lamentou que doenças geradas pela atividade da empresa sejam bancadas por toda a sociedade. Mas a promotora de Defesa da Saúde, Josely Ramos Pontes, rebateu: "silicose não é problema de saúde pública, e sim da empresa que causou a doença".

Fundacentro preocupa-se com veracidade dos laudos

A chefe do Centro Regional do Fundacentro/MG, Marta de Freitas, mostrou preocupação com a veracidade dos laudos. "Será que os exames estão sendo feitos de modo correto?", perguntou, constatando que se estiverem incorretos, não se pode saber se os trabalhadores terão ou não silicose. Ela informou ainda que o Fundacentro está desenvolvendo um Programa Nacional de Erradicação de Silicose no Brasil, mas que a entidade não consegue fazer tudo sozinha e precisa de parceiros.

Drama - Na fase de debates, vários trabalhadores com silicose relataram as agruras de que são vítimas devido à doença entre ele Teonídio Carvalho. Ele relatou que não dorme, não anda, não fala e nem se alimenta direito. E reclamou que a empresa dá a ele e a seus colegas migalhas, fornecendo apenas parte dos remédios de que precisam, não fornecendo sequer uma cesta básica.

Presenças - Deputados Ricardo Duarte (PT), presidente da comissão; Carlos Pimenta (PDT), Célio Moreira (PL), Jô Moraes (PCdoB); Doutor Viana (PFL); Fábio Avelar (PTB).

 

 

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