Gtech jamais recolheu verbas para projetos sociais em Minas

A Gtech do Brasil, empresa que opera todos os jogos on-line da Loteria de Minas Gerais e da Caixa Econômica Federal, ...

09/03/2004 - 00:01
 

Gtech jamais recolheu verbas para projetos sociais em Minas

A Gtech do Brasil, empresa que opera todos os jogos on-line da Loteria de Minas Gerais e da Caixa Econômica Federal, nunca recolheu os 25% do seu faturamento para projetos sociais no Estado, conforme reza o seu contrato. Essa cláusula era ignorada até pelos altos dirigentes que depuseram na reunião da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social nesta terça-feira (9/3/04). O presidente da Comissão, deputado Alberto Bejani (PTB), que está colhendo assinaturas para a instalação de uma CPI, disse que, em vista do descumprimento da cláusula dos 25%, a multa cancelada de R$ 30 milhões seria irrisória. "São bilhões que a Gtech deve ao povo mineiro. Os 25% são o peixe grande. Os R$ 30 milhões são lambari", afirmou o deputado.

Bejani conduziu um acalorado interrogatório a três ex-dirigentes da Loteria Mineira e ao procurador do Estado que emitiu dois pareceres contraditórios sobre o pagamento da multa aplicada à Gtech. Participaram dos questionamentos a deputada Marília Campos (PT), e os deputados André Quintão (PT) e Alencar da Silveira Jr (PDT).

O primeiro a depor foi o ex-presidente da Loteria, Antônio Francisco Patente, que ocupou o cargo de abril a setembro de 2000. Foi ele quem aplicou multa de R$ 29.318.l03 à Gtech por descumprimento de contrato, através da Portaria 044, que deu início a um processo administrativo. A razão alegada foi que, dos mais de 3.000 terminais de apostas on-line previstos na licitação, a Gtech implantou apenas 810, frustrando a expectativa de faturamento da autarquia.

Provocado pela deputada Marília Campos, Patente admitiu que pode ter havido depuração dos participantes da licitação através da magnificação das metas. Isso justificaria dois aditamentos reduzindo pela metade as metas de instalação. O ex-presidente informou ao deputado André Quintão que a Loteria não tinha instrumentos para fiscalizar as operações de jogos on-line, porque o computador instalado na Diretoria de Operações jamais funcionou. Negou que seu pedido de exoneração, após apenas seis meses no cargo, tivesse relação com pressões da multinacional. Disse que desejava se dedicar apenas à advocacia.

Procurador justifica pareceres contraditórios

O presidente que sucedeu Patente no cargo, coronel Genedempsey Bicalho, ficou apenas até o final de 2000. Informou aos deputados que apenas deu prosseguimento ao processo, negando um pedido de cancelamento da multa e rejeitando a defesa da Gtech. Encaminhou o assunto à Procuradoria, onde o procurador Cléber Reis Greco deu novo parecer, opinando pelo cancelamento da multa. Com base nesse parecer, o governador Itamar Franco cancelou a Portaria 044.

Depondo em seguida, Greco apresentou justificativas técnico-jurídicas para voltar atrás em seu parecer. Disse que, de início, o processo continha dados coligidos pela assessoria jurídica da Loteria que justificavam seu parecer. Na segunda remessa, foram acrescentadas informações da defesa da Gtech que lhe deram posicionamento diferente. Greco assegurou aos deputados que não foi pressionado a mudar o parecer. "Pressões políticas sobre o nosso trabalho não são comuns e eu não faria um parecer sob pressão", afirmou.

O último depoente foi Mário Márcio Magalhães, diretor de operações de janeiro de 1999 a abril de 2000. Magalhães disse que, durante sua gestão, o terminal de sua sala funcionou bem, permitindo o acompanhamento em tempo real de todas as apostas nos terminais. Mencionou que a Loteria, apesar de ser autarquia, sempre reportava suas ações ao ex-secretário da Casa Civil, Henrique Hargreaves. O ex-diretor mostrou grande conhecimento dos jogos eletrônicos e da trajetória da empresa Gtech, mas alegou desconhecer a obrigação contratual de aplicação de 25% do faturamento em projetos sociais.

Requerimentos - Os deputados aprovaram vários requerimentos, entre eles um que convida os gestores da Loteria em 1994, 1997 e 1998, anos em que foi assinado o contrato com a Gtech e os dois aditamentos. Querem também cópia do processo da Gtech/Loteria que está no Tribunal de Contas do Estado e reiteraram o convite feito à ex-procuradora Misabel Derzi.

Presenças - Deputado Alberto Bejani (PTB), presidente; deputada Marília Campos (PT), vice; deputados André Quintão (PT) e Alencar da Silveira Jr (PDT), além das autoridades citadas na matéria.

 

 

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