Sistema Nacional de Direitos Humanos é prioridade, diz ministro

A implantação do Sistema Nacional de Direitos Humanos é prioritária para o governo federal, segundo anúncio feito pel...

08/03/2004 - 00:00
 

Sistema Nacional de Direitos Humanos é prioridade, diz ministro

A implantação do Sistema Nacional de Direitos Humanos é prioritária para o governo federal, segundo anúncio feito pelo ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, nesta segunda-feira (8/3/04), durante o debate público "O Poder Legislativo e a Defesa dos Direitos Humanos", realizado no Plenário da Assembléia Legislativa. O deputado Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia e coordenador do debate, informou que menos de 50 municípios de Minas têm uma comissão de direitos humanos. "Estamos preparando uma cartilha de orientação para a criação dessas comissões e queremos priorizar a formação de uma rede em defesa dos direitos humanos no Estado", disse.

O deputado Rêmolo Aloise, 1º vice-presidente da Assembléia, abriu o evento falando da importância da parceria entre poder público e sociedade civil nas ações de defesa dos direitos humanos. Ele lembrou as atividades encampadas pela Assembléia na luta contra a violação desses direitos. Durante o debate, onde estavam reunidos ativistas dos direitos humanos de todo o Estado, o ministro informou ainda que será colocado à disposição da população um "Disque-Denúncia" único para todo o Brasil. De acordo com Nilmário, serão contratados advogados para fazerem a triagem das denúncias. "A partir de julho, quando estaremos atendendo 24 horas por dia, devemos receber cerca de 40 mil ligações e teremos que encaminhar alguns casos para as regiões", projetou o ministro. Ele disse que a maior dificuldade é que muitas regiões não têm promotorias ou delegacias especializadas em direitos humanos, nem comissões legislativas para tratar da questão. Nilmário informou ainda que sete Estados não têm sequer defensoria pública.

O ministro entregou ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia de Minas, deputado Durval Ângelo (PT) e ao secretário de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes, João Batista de Oliveira, dois documentos do governo federal - o Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos e o Plano Nacional de Educação dos Direitos Humanos. Segundo Nilmário, é preciso investir na educação para os direitos humanos. Ele lembrou que, em junho, será realizada a conferência nacional de direitos humanos que, pela primeira vez, será deliberativa, com etapas estaduais. Minas Gerais elegerá 24 delegados para o evento. No dia 15 de março, às 15h30, será realizada uma videoconferência preparatória no Auditório da Escola do Legislativo, via Interlegis.

Legislação sobre os direitos humanos precisa ser aplicada

"Toda a gama de direitos humanos está contemplada na Constituição e na legislação infra-constitucional. A dificuldade no Brasil é de implementar esses direitos", afirmou o ministro. Nilmário Miranda afirmou que a Constituição de 1988 é muito avançada e que hoje, o papel das comissões legislativas de direitos humanos, mais que propor novas leis, seria oferecer espaço de manifestação para a população, espaço de debate, de acolhimento e encaminhamento de denúncias e de formação da opinião pública. "Hoje a opinião pública está mudando e grande parte da população, cerca de 70%, repudia atos de tortura e grupos de execução, por exemplo", afirmou.

O deputado federal Orlando Fantazzini, membro da Comissão de Direitos Humanos e presidente do Conselho de Ética da Câmara Federal, também destacou que as comissões legislativas de direitos humanos possibilitaram a participação da sociedade na discussão de políticas públicas de direitos humanos. Além disso, segundo ele, estimulam a criação de comissões nas câmaras municipais. "Os vereadores estão mais próximos da população e têm a possibilidade de catalisar mais prontamente as demandas da população", defendeu.

Contra a baixaria na TV - Orlando Fantazzini criticou ainda a disseminação de preconceitos pelos meios de comunicação. Ele destacou a utilização desrespeitosa da imagem da mulher para vender produtos, o preconceito contra os homossexuais, negros e profissionais de baixa renda em programas humorísticos e a espetacularização dos dramas humanos em programas de auditório. "Sem falar nos programas policialescos, que são os piores. Esses programas nos fazem pensar que a única saída é a pena de morte e a redução da idade penal", lamentou.

O deputado argumentou que, enquanto a qualidade da programação não melhorar, não haverá trabalho dos defensores dos direitos humanos que obtenha êxito. "Continuaremos remando contra a maré", sentenciou. Ele está fazendo um trabalho de divulgação da campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania". Fantazzini disse que os grandes meios de comunicação do Brasil estão concentrados nas mãos de nove famílias. Ele defendeu a democratização desses meios, que são de concessão pública, e a expansão das TVs e rádios comunitárias. "Precisamos assegurar o direito à liberdade de expressão", disse.

O parlamentar petista disse ainda que o governo federal está ensaiando uma espécie de Proer para salvar as emissoras de TV, inclusive a Rede Globo, e que isso enseja a oportunidade para que lhes seja imposta uma melhoria nos padrões de qualidade. Ao mesmo tempo, disse que o diálogo com as emissoras é quase impossível, a não ser que se mexa nos seus bolsos. Revelou que, através do site www.eticanatv.org.br, é elaborado a cada três meses um ranking da baixaria, e que as primeiras edições apontaram o Programa do Ratinho em primeiro lugar, e do Gugu em segundo. Esse ranking teria gerado reações agressivas do Ratinho, motivadas pela perda de anunciantes. Outro esforço do grupo dele é dialogar com as estatais e os governos para não anunciarem em programas desse tipo.

Comissões Municipais - O deputado Renato Simões, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, disse que a luta pelos direitos humanos é uma conquista da democracia, e partiu do Poder Legislativo, com quatro atribuições: 1) aprimoramento institucional dos direitos humanos, estabelecendo um parâmetro para atuação dos outros poderes; 2) fiscalização dos atos de violação perpetrados por agentes públicos; 3) acompanhamento das violações ocorridas dentro do território; 4) articulação com a sociedade civil. "As assembléias têm protagonismo na questão dos direitos humanos e devem trabalhar em sistema de rede legislativa", propôs o deputado.

Simões considerou crítica a criação de comissões de direitos humanos nas câmaras municipais que não sejam meramente figurativas em cidades onde as oligarquias contrárias a esses direitos são dominantes. "Conhecemos casos em que o conselheiro tutelar é impedido de entrar em unidades rebeladas de menores", ilustra o parlamentar, acrescentando que muitas vezes entidades privadas e universidades se articulam para criar conselhos de direitos humanos antes da criação da comissão nas câmaras. "Há uma pauta de direitos civis e políticos a ser conquistada", afirmou.

Nobel para Helena Greco - O ex-deputado João Batista de Oliveira, hoje subsecretário de Direitos Humanos, lembrou sua participação na memorável comissão de direitos humanos da Câmara Municipal de Belo Horizonte, juntamente com D. Helena Greco, que está sendo indicada para o Nobel da Paz. Oliveira informou que 509 municípios mineiros contam com conselhos tutelares e que 213 possuem fundos regulamentados. "É lamentável que a gente esteja perdendo fundos de renúncia fiscal e a mobilização das comunidades, porque cada contato que fazemos é um militante novo na causa das crianças", disse o subsecretário.

Muitos telespectadores que acompanhavam as palestras e os debates pela TV Assembléia enviaram perguntas pelo telefone. Da platéia também vieram manifestações de destaque. Frei Cristóvão, da Comissão de Direitos Humanos dos Franciscanos, acusou a estrutura fundiária de ser a maior agressão contra os direitos fundamentais da pessoa humana. A vereadora Maria Lúcia Scarpelli, de BH, relatou casos recentes de maus-tratos a pessoas em Itabira por parte da segurança da Cia. Vale do Rio Doce. O deputado Durval Ângelo, que presidia a reunião, lembrou que há quatro anos houve outro incidente desse tipo, e que a intervenção das entidades de direitos humanos forçou a demissão dos agressores e a transferência do chefe de segurança da CVRD.

 

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