Portadores de mucoviscidose temem ficar sem remédios

Os portadores de mucoviscidose reclamaram, durante reunião da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa desta quint...

04/03/2004 - 15:57
 

Portadores de mucoviscidose temem ficar sem remédios

Os portadores de mucoviscidose reclamaram, durante reunião da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa desta quinta-feira (4/3/04), que temem ficar sem os medicamentos necessários para o tratamento da doença. Segundo o presidente da Associação Mineira de Assistência à Mucoviscidose (Amam), Wagner de Lima Vaz, alguns medicamentos solicitados à Secretaria de Estado da Saúde (SES) em setembro do ano passado ainda não foram comprados. Nos estoques da SES, de acordo com ele, já falta um medicamento de uso em infecções agudas provocadas pela doença. "O atraso na compra dos remédios pode gerar desabastecimento, o que põe em risco a vida dos pacientes. Há um medo generalizado de que alguns portadores da doença tenham que ser internados por falta de medicamentos de uso contínuo", reclamou Wagner.

Há três anos a Amam vem cobrando do Estado o fornecimento ininterrupto dos medicamentos essenciais aos portadores de mucoviscidose. Durante o governo Itamar Franco, a distribuição desses remédios chegou a ser suspensa. O Ministério Público moveu uma ação civil pública contra o Estado e, em outubro de 2002, saiu a sentença determinando o fornecimento dos remédios. Como a decisão judicial não foi cumprida, o MP chegou a pedir intervenção federal em Minas. O impasse foi resolvido em maio do ano passado, quando a SES se comprometeu a fornecer todos os medicamentos sem interrupções. Também foi criado um ambulatório específico para os pacientes de mucoviscidose no Centro Geral de Pediatria, na capital, e, dois meses depois, teve início um programa de triagem neonatal, para detectar doenças raras em recém-nascidos.

O representante da SES, Benedito Scaranci, negou que o Estado venha sendo negligente com os portadores de mucoviscidose. "Em nenhum momento houve falta de vontade para alocar os recursos necessários para a compra desses remédios, apesar de a legislação dificultar as coisas. Alguns processos de licitação podem demorar até um ano", disse. O trabalho da SES recebeu apoio da representante do MP, promotora Joseli Pontes Ramos. "O Estado tem cumprido o seu papel", disse. Segundo a promotora, o único remédio para tratamento de mucoviscidose em falta no estoque da SES é utilizado apenas em casos de emergência.

Doença é rara e pode levar à morte

A mucoviscidose, também chamada de fibrose cística ou mucoviscosidade, é uma doença genética rara, que acomete principalmente pessoas de pele branca. A doença não tem cura e pode levar à morte por complicações respiratórias e infecções provocadas no organismo debilitado, já que o mau funcionamento do pâncreas acaba deixando o paciente desnutrido. A doença é difícil de ser diagnosticada, já que os bebês aparentam ser absolutamente saudáveis.

Em Minas, existem 240 portadores da doença, diagnosticados pelo Núcleo de Apoio ao Diagnóstico da UFMG (Nupad). Estima-se que em todo o Brasil existam cerca de 2 mil pacientes, número que pode estar subestimado, segundo o médico do Nupad Francisco José Caldeira Reis. "Nem todos os médicos conseguem diagnosticar a mucoviscidose no primeiro ano de vida do recém-nascido, e muitas pessoas morrem sem saber que são portadoras da doença", explica.

Mudança na legislação - O deputado Neider Moreira (PPS), que pediu a realização da reunião, elogiou o trabalho da Amam e defendeu mudanças na lei das licitações, para agilizar a compra de medicamentos pelo Estado. Já o deputado Domingos Sávio (PSDB) pediu apoio para o Projeto de Lei 913/03, de sua autoria, que determina a distribuição gratuita de medicamentos para mucoviscidose pela SES. Já o presidente da comissão, deputado Ricardo Duarte (PT), disse que o fornecimento de remédios para pacientes de doenças raras vai ser amplamente discutido em um fórum de debates a ser promovido pela Assembléia. Os deputados aprovaram cinco requerimentos durante a reunião.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente; Fahim Sawan (PSDB), vice; Carlos Pimenta (PDT), Célio Moreira (PL), Neider Moreira (PPS) e Domingos Sávio (PSDB). Também estiveram presentes o diretor do Nupad, Jocé Nério Januário; a fisioterapeuta do CGP Shirley Lima Campos; a representante da Secretaria Municipal de Saúde, Maria das Graças de Oliveira; e o diretor do Hospital das Clínicas da UFMG, Ricardo Castanheira.

 

 

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