Para técnicos, regiões metropolitanas dependem de gestão integrada

Nesta terça-feira (11/11/2003), segundo dia do Seminário Legislativo "Regiões Metropolitanas", promovido pela Assembl...

30/01/2004 - 16:45
 

Para técnicos, regiões metropolitanas dependem de gestão integrada

Nesta terça-feira (11/11/2003), segundo dia do Seminário Legislativo "Regiões Metropolitanas", promovido pela Assembléia de Minas para debater, com especialistas, a criação dessas novas formas de organização, a abordagem foi sobre aspectos físicos, sociais e econômicos das regiões metropolitanas. "O caos urbano se relaciona rigorosamente à desordem ambiental, que não pode ser separada dos outros problemas. Para encaminhar soluções, é preciso uma gestão integrada, que não pare nas divisões políticas dos municípios", afirmou o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho, com quem concordaram os demais expositores. O coordenador do debate foi o autor do requerimento pelo seminário, deputado Fábio Avelar (PTB).

De acordo com o secretário, é impossível analisar os problemas ambientais que afetam regiões metropolitanas e conurbadas (quando os limites administrativos não são perceptíveis) sem considerar o processo de urbanização do Brasil, único em todo o mundo por ter sido extremamente acelerado. "Nos anos 60, o País era praticamente rural. A inversão tão rápida dessa lógica provocou a expansão descontrolada das áreas urbanas e a desigual distribuição dos problemas ambientais, que se concentraram em periferias e bairros pobres. Não vemos lixões ou esgoto a céu aberto em bairros de classe média", analisou.

Entre esses problemas, José Carlos Carvalho listou os dois que mais contribuem para degradar a qualidade de vida das cidades brasileiras: o lixo e o lançamento de esgoto in natura nos rios. "Quase todos os rios que atravessam regiões urbanas estão mortos", atestou. Para ele, o problema na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) tem ainda outro agravante, causado pela topografia, que são os assentamentos urbanos em fundos de vales inundáveis e com risco geológico. "São bairros inteiros que ocupam áreas inadequadas, com ou sem autorização do poder público", salientou.

O secretário criticou a verticalização ao federalismo brasileiro, imposta pela Constituição. Para ele, essa verticalização prejudica a criação de mecanismos de cooperação entre os municípios, dando aos problemas características apenas municipal, estadual ou federal. Um avanço na gestão dos problemas, para ele, é a nova legislação de recursos hídricos, que permite a integração de políticas públicas em torno de uma bacia hidrográfica. Já quanto ao lixo, ele alerta: "É desnecessário que os municípios tenham cada um seu aterro sanitário. Juntos, eles podem diminuir gastos, se tornando mais eficazes. As empresas estão cumprindo seu papel e tratando os rejeitos. Já o poder público, não".

Saneamento ambiental tem falhas

Para o assessor da Diretoria de Operação Metropolitana da Copasa, Rômulo Thomaz Perilli, as dívidas dos poderes públicos com saneamento (antes tratado como básico e, agora, como ambiental) têm sido reduzidas pelas companhias de saneamento. Em sua fala, o consultor destacou os esforços da Copasa para melhorar o saneamento, citando exemplos positivos das experiências na região da Mutuca e na reserva de 17 mil hectares na RMBH.

"Ainda há um grave passivo ambiental quanto ao esgoto", assumiu Perilli, lembrando exemplos que a Copasa procura não repetir, como a Lagoa da Pampulha, que há 20 anos era um importante manancial, e a Várzea das Flores, entre Betim e Contagem. O consultor também defendeu uma gestão compartilhada, com programas microrregionais, para o saneamento. Um exemplo é Ipatinga, que oferece saneamento a 100% da população, mas fica na jusante (sentido do curso d'água) de Coronel Fabriciano e Timóteo: "Se houvesse integração, o Rio Piracicaba poderia ser recuperado".

Geologia - O geólogo Edézio Teixeira de Carvalho, que é membro da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental - Núcleo MG, destacou a importância da atuação dessa ciência na sustentabilidade das regiões, como na análise dos espaços intraurbanos, que pode ser feita por meio de fotos aéreas seqüenciais. "Não há rio vivo em terra morta. O solo purifica a água porque toma dela a poluição, o que é mais barato que qualquer processo tecnológico", afirmou. O geólogo ainda fez outro alerta: em cidades isoladas, os problemas podem ser resolvidos um a um. Já em aglomerados metropolitanos, não há distância suficiente para atenuar os impactos.

Especialista busca alternativas para transporte

O transporte coletivo também é um importante entrave para a gestão das regiões metropolitanas, conforme explicou o coordenador do Curso de Pós-Graduação em Transporte e Trânsito da Fumec, Osias Baptista Neto, a começar pela complexidade de definir as competências do Estado e dos municípios que se conglomeram. "Não existe solução definitiva em nenhuma cidade do Brasil. Não basta a técnica, é preciso vontade política", afirmou. Para ele, perguntas necessárias à reflexão são definições sobre onde acaba o interesse local e começa o comum; quem é o passageiro metropolitano; e se há concorrência entre os sistemas metropolitanos e municipais.

Osias Baptista Neto lembrou o exemplo do transporte coletivo na RMBH, onde cada município age sozinho e o Estado cuida das ligações intermunicipais, o que provoca alta competitividade pelos passageiros e dificuldade de integração física. Isso gera medidas defensivas por parte dos municípios, que passam a restringir as linhas e fazem do transporte instrumento de pressão política. "A única vantagem clara é a estabilidade contratual dos operadores de transporte", disse. Por outro lado, para ele, a delegação ao Estado para cuidar de todo o sistema, como já ocorreu em BH, torna o interesse local inoperante e anula a avaliação do serviço pelo voto da população.

Outro modelo também inadequado, na opinião do professor da Fumec, é o que funciona na Região Metropolitana de Curitiba, onde o Estado delegou àquela cidade-pólo o sistema intermunicipal. "O cidadão não pode cobrar do prefeito da sua cidade, perdendo a possibilidade de pressão política", analisou. Já a associação por consórcios, para ele, é instável tanto do ponto de vista da definição de competência, quanto da conjuntura (pode não se manter nas eleições seguintes). A proposta mais válida, de acordo com Osias, é a participação efetiva dos municípios na gestão do Estado, desde que eles abdiquem da autonomia completa em relação aos transportes.

Professor defendeu avaliação de critérios para RMs

A indefinição institucional das regiões metropolitanas e a questão habitacional foram os dois eixos centrais da exposição feita pelo coordenador nacional da Rede Habitare e professor da UFRJ, Adauto Lúcio Cardoso. Segundo o professor, os critérios constitucionais para a definição de uma região metropolitana não são observados. "Temos no Brasil regiões inconsistentes, como a de Maringá, no Paraná. Em outras regiões, seria necessária a incorporação de municípios, como o caso de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Existem ainda regiões onde se percebe um inchaço. Os critérios passam a ser mais políticos que institucionais", afirmou. Adauto Cardoso disse ainda que é preciso retomar as definições do IBGE sobre o que é região metropolitana e o que é aglomeração urbana. "Não existem mecanismos que facilitem a integração entre Estado e municípios e ainda há conflito de competências", acrescentou.

Moradia - O déficit habitacional no Brasil, que em 2000 foi de 6,6 milhões de unidades, foi outro ponto abordado pelo expositor. Segundo ele, esse índice é maior nos centros urbanos, chegando a 81%, sendo 30% nas regiões metropolitanas. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a defasagem habitacional é de 150 mil unidades, com 87% entre as famílias com renda de até três salários mínimos. Cardoso informou que o déficit na RMBH aumentou em 50 mil unidades só na década de 90. "É preciso que a problemática habitacional metropolitana tenha um tratamento globalizado. O cidadão que produz a riqueza de Belo Horizonte, consome a pobreza da periferia, pois é lá que ele mora", afirmou.

O professor defendeu também políticas preventivas para que o déficit habitacional não provoque a ocupação de áreas de risco. "Nas administrações municipais temos percebido irresponsabilidade em relação aos assuntos metropolitanos. Se não forem implementadas políticas de oferta planejada de moradia, em áreas adequadas, esses problemas tendem a se agravar", ressaltou. Adauto Cardoso condenou ainda a política de distribuição de recursos para a área habitacional que privilegia, segundo ele, os municípios com maiores condições financeiras e técnicas, em detrimento dos mais empobrecidos. O professor parabenizou a Assembléia pelo seminário e disse que o debate sobre as regiões metropolitanas, embora de fundamental importância, não tem sido tratado como prioridade pelo Ministério das Cidades e nem sido alvo de muitos debates pelo Brasil.

O deputado Gustavo Valadares (PFL), que é o relator dos oito projetos que prevêem a criação de regiões metropolitanas no Estado, coordenou a fase de debates do seminário. Ele lembrou que a tramitação dos projetos está suspensa na Casa, por acordo feito com os autores das matérias. "Decidimos paralisar a tramitação para aguardar as conclusões do seminário. Precisamos avaliar a viabilidade da criação de novas regiões metropolitanas, assim como alternativas para as dificuldades existentes nas regiões já criadas, que são a RMBH e a Região Metropolitana do Vale do Aço (Amevale)", afirmou.

Secretário rejeita municipalização da segurança pública

O secretário adjunto de Defesa Social, Luís Flávio Sapori, durante sua exposição no seminário legislativo, defendeu que o problema da criminalidade é menos institucional e mais de gestão. "Não defendo a municipalização da segurança pública. Não acredito que esse modelo seja o adequado. Um atendimento municipalizado do preso não é solução", enfatizou. O secretário acredita ainda que as políticas prisionais em regiões metropolitanas não podem ter o foco municipal. "Belo Horizonte e Contagem, por exemplo, têm grande similaridade em relação à incidência criminal", afirmou.

Para Sapori, o grande conflito é que o Estado tem as prerrogativas, mas não os recursos, que estão nas mãos da União. "Os municípios são essenciais no custeio das polícias, por exemplo, mas isso é pouco para se pensar na participação deles no arranjo institucional. Podemos pensar, no entanto, em planos municipais de pequeno e médio prazos voltados para a segurança pública", disse o secretário. Segundo Sapori, a gestão metropolitana da segurança pública já está acontecendo em algumas regiões do Brasil. "A gestão, não a institucionalização", concluiu.

 

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