Falta de planejamento da RMBH é criticada em Santa Luzia

A falta de participação do governo do Estado à Assembléia da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Ambel), a omissã...

30/01/2004 - 16:17
 

Falta de planejamento da RMBH é criticada em Santa Luzia

A falta de participação do governo do Estado à Assembléia da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Ambel), a omissão das prefeituras das grandes cidades que compõem a RMBH, a necessidade de revitalização da Ambel e de planejamento integrado das funções públicas de interesse comum por meio da elaboração do Plano Diretor Metropolitano foram os pontos que nortearam os debates no encontro regional do Seminário Legislativo "Regiões Metropolitanas".

A reunião, que aconteceu nesta quarta-feira (22/10/2003) em Santa Luzia, reuniu cerca de 150 participantes, sendo11 prefeitos, vários vereadores e representantes de entidades da sociedade civil, interessados em discutir os problemas da região metropolitana e apontar alternativas para sua solução. A reunião foi presidida pelo deputado Fábio Avelar (PTB), que representou o presidente Mauri Torres (PSDB) e coordenou os trabalhos na parte da tarde. O deputado leu uma mensagem do presidente Mauri Torres, mencionando a necessidade de avaliação da RMBH e apontando para a importância de se discutir um parâmetro para o desenvolvimento regional integrado.

O deputado Fábio Avelar lamentou a ausência da Prefeitura de Belo Horizonte nas discussões sobre a Região Metropolitana. Segundo ele, com a realização do Seminário Legislativo, a tramitação dos sete projetos que tratam do assunto ficou suspensa na Assembléia, com o consentimento de seus autores, aguardando as conclusões do evento. "É oportuno esse debate justamente no momento em que a Ambel procura se revitalizar", afirmou.

Ambel nunca funcionou - O prefeito de Santa Luzia e presidente da Ambel, Carlos Alberto Parrillo Calixto, afirmou que, desde a sua criação, há 10 anos, a Assembléia Metropolitana nunca funcionou. Segundo ele, há pelo menos sete anos, não acontece um encontro da Prefeitura de Belo Horizonte com os prefeitos dos municípios da RMBH. Calixto apresentou dados de que cerca de 50% das pessoas que trabalham em Belo Horizonte são moradores da região metropolitana. "É preciso que haja diálogo entre as cidades da região metropolitana para a gestão dos problemas que afetam todas elas, como segurança e transporte público", enfatizou.

Para o prefeito, saneamento básico e meio ambiente também são questões essenciais de interesse comum, que precisariam ser tratadas pela assembléia metropolitana, assim como o uso do solo. "Se um município usa mal o solo, prejudica o planejamento feito por outro", exemplificou. Ele informou ainda que a RMBH foi a primeira a realizar a Conferência das Cidades. O prefeito passou às mãos do deputado Fábio Avelar o documento contendo as conclusões da conferência.

Desinteresse - O desinteresse do governo estadual foi denunciado pelo prefeito de Vespasiano e presidente do Comitê Executivo da Ambel, Carlos Murta. Ele disse, no entanto, acreditar que o governador Aécio Neves reverterá essa situação, pois assumiu um compromisso com a Assembléia Metropolitana no dia da posse de sua diretoria. Carlos Murta ressaltou também que considera o Plano Diretor o único instrumento capaz de fazer funcionar a região metropolitana. Ele acrescentou que o governo estadual tem oferecido, hoje, as condições necessárias para a elaboração do plano.

O superintendente de Assuntos Metropolitanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (Sedru), Fernando de Castro, também concordou com a opinião de que os governos anteriores nunca manifestaram interesse pelo funcionamento da Ambel. Mas, para ele, a própria criação da Superintendência de Assuntos Metropolitanos seria um recado do governador Aécio Neves de que há um interesse do Executivo em retomar a Assembléia Metropolitana em um processo de gestão compartilhada com os municípios.

Ele informou ainda que, a pedido do governador, foi feito contato com o Banco Mundial solicitando ajuda técnica e financeira para iniciar a elaboração do Plano Diretor. "Nossa intenção é realizar um trabalho conjunto para minimizar os problemas da RMBH", afirmou. Fernando de Castro ressaltou ainda a importância do seminário. "A Assembléia Legislativa, com este seminário, apresenta a maior oportunidade que a RMBH já teve, até o momento, de discutir as questões ligadas às funções públicas de interesse comum metropolitano", concluiu.

Expositores mostram processo de criação da RMBH

O processo de criação da Região Metropolitana de Belo Horizonte, instituída pela Lei Complementar 14, de 1973, passando pelo seu período mais favorável de gestão na década de 70, com o Plambel, até a erosão do modelo nacional de gestão metropolitana em 1980, foram abordados pelo diretor de Programas e Projetos Metropolitanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, Gustavo Gomes Machado. O diretor mencionou ainda as características do modelo de gestão centralizada pelo Estado, em 1970, e a passagem para um modelo descentralizado, controlado pelos municípios, existente hoje.

Gustavo Machado afirmou que o desinteresse do Estado e dos grandes municípios - Belo Horizonte, Betim e Contagem - em participar da Ambel até 2002, além da ausência de recursos do Fundo de Desenvolvimento Metropolitano, são fatores que contribuíram para que a gestão da RMBH fracassasse. "Belo Horizonte, Betim e Contagem concentram 87% do PIB e 90% da arrecadação da região e se recusavam a participar das discussões da Ambel", afirmou. Para o expositor, o resultado da inexistência de uma gestão metropolitana é, por exemplo, o transporte público caro e insustentável, além da falta de controle da expansão da região metropolitana, com o aparecimento de loteamentos irregulares, e ainda a queda na qualidade de vida da população nos últimos 15 anos.

Planejamento - O integrante da Comissão das Cidades do Instituto dos Arquitetos do Brasil, Hailton Curi, apresentou três pontos que considera essenciais para a gestão metropolitana, que seriam a definição de um modelo hierárquico de decisão; a necessidade de planejamento, aprovado pelas instâncias legais cabíveis; e o acompanhamento da execução desse planejamento. O expositor apresentou um estudo feito pelo Núcleo de Estudos Urbanos da Unicamp, pelo Ipea e pelo IBGE sobre a caracterização e tendências da rede urbana no Brasil. O documento mostra que existem no País duas metrópoles globais, sete nacionais e quatro regionais. "As outras não são regiões metropolitanas. Nem mesmo a Região do Vale do Aço é considerada nesse estudo", concluiu.

Hailton Curi colocou aos participantes do encontro duas perguntas: "Vale a pena criar regiões metropolitanas sem avaliar as duas que temos? Vale a pena adotar os padrões da RMBH em outras regiões a serem criadas?". Segundo ele, a criação de outras regiões metropolitanas em Minas Gerais poderia banalizar inclusive os conceitos existentes sobre o assunto. O deputado Roberto Ramos (PL), que coordenou os trabalhos na parte da manhã, criticou a falta de critérios para a incorporação de municípios na RMBH. "Alguns querem fazer parte da região metropolitana sem nem saberem ao certo o que isso significa, em busca apenas de compensações", concluiu.

O expositor sugeriu ainda a adaptação das câmaras técnicas setoriais da Ambel ao Estatuto das Cidades. Essas câmaras técnicas tratam de assuntos como meio ambiente, saneamento básico e segurança pública.

Grupos de Trabalho - Dois grupos de trabalho se reuniram para discutir as propostas elaboradas pelas comissões técnicas interinstitucionais durante a fase de preparação para o seminário. O Grupo 1, sob a coordenação de Gustavo Gomes Machado, discutiu a conceituação e criação de regiões metropolitanas, sua gestão e o Plano Diretor. O Grupo 2, coordenado pelo diretor de Assuntos Metropolitanos da Sedru, Solano Bicalho, analisou os aspectos físicos, sociais e econômicos de regiões metropolitanas. Os participantes apresentaram propostas para problemas ligados à saúde, saneamento básico e transporte da RMBH, e sua relevância junto ao Plano Diretor.

 

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