Expulsão de famílias em Santa Luzia é criticada em Comissão

A expulsão de várias entra as mais de 200 famílias que ocupam, há 22 anos, o bairro Boa Esperança, em Santa Luzia, fo...

17/12/2003 - 21:32
 

Expulsão de famílias em Santa Luzia é criticada em Comissão

A expulsão de várias entra as mais de 200 famílias que ocupam, há 22 anos, o bairro Boa Esperança, em Santa Luzia, foi criticada na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, nesta quarta-feira (17/12/2003). Convidado a participar da reunião, o prefeito de Santa Luzia, Carlos Alberto Parrilo Calixto, não compareceu nem enviou representante, o que motivou criticas de vários dos presentes à reunião como o subsecretário de Estado de Direitos Humanos, João Batista de Oliveira, e os deputados Durval Ângelo (PT) e Roberto Ramos (PL).

Moradores disseram que várias casas foram destruídas por tratores cedidos pela Prefeitura local. A representante dos moradores do bairro, Maria José de Souza, fez um histórico do loteamento, registrando que, inicialmente, ele foi invadido por garimpeiros que, depois de anos trabalhando no local, conseguiram a posse da terra. Há 10 anos, segundo ela, outras pessoas passaram a ocupar o terreno, e no ano 2000, a Prefeitura procurou os moradores, pediu nome e endereço de todos e afirmou que iria transferi-los para casas populares, mas a promessa não se cumpriu. Depois disso, os moradores procuraram a Prefeitura para que intermediasse uma solução, "mas disseram que não podiam se envolver nisso", declarou Maria José. "É um sofrimento viver debaixo de lona, em situação de calamidade, sem água e luz; nós somos dignos e queremos um teto para morar", desabafou a moradora.

A secretária executiva do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Conedh), Caroline Bastos, informou que há outras situações em Santa Luzia parecidas com a do bairro Boa Esperança. Ela defendeu que a Justiça, em vez de julgar com considerar apenas os direitos de propriedade, como fez nesse caso, deve reconhecer o que já está constituído na prática: "o terreno é dessas pessoas, que lá moram há 22 anos, as quais deve ser assegurado o direito fundamental à moradia". Outro problema levantado foi a falta de assistência jurídica, uma vez que, em Santa Luzia não há defensores públicos. "As famílias foram prejudicadas; é preciso designar um defensor para atendê-las", defendeu.

Cinco famílias moram sob linhas de transmissão

O diretor da Cemig, Carlos Alberto de Souza, relatou que a Cemig solicitou a cinco famílias que estão morando debaixo de linhas de transmissão de alta tensão, que desocupem o local, uma vez que estariam correndo riscos. Além disso, segundo Souza, há muitos moradores fazendo ligações irregulares - os "gatos" - "o que não se pode permitir". Essas pessoas foram orientadas pelo diretor a procurarem a Cemig para fazer a ligação, quando tiverem o padrão de luz. Se não tiverem, podem solicitar a extensão de rede, mas ele ressalvou que essa opção só está disponível para terrenos regularizados. Contrapondo-se ao diretor da empresa, moradores disseram que as linhas de transmissão no terreno estão desativadas.

Ida a Santa Luzia - Lamentando a postura da Cemig, o subsecretário João Batista de Oliveira afirmou que a empresa está encarando a questão só do ponto de vista econômico e não do social. "A Cemig deve rever essa posição e ligar os postes de luz no bairro, transformando-os em consumidores e recolhedores de impostos como todos os cidadãos", defendeu ele. Oliveira também criticou a ausência do prefeito de Santa Luzia, dizendo que "não se consegue avançar na questão habitacional se o Município não assume sua parte". O subsecretário propôs que uma comissão com membros da Assembléia, Subsecretaria e Conselho estaduais de Direitos Humanos fosse à cidade tratar do assunto com o prefeito. E acrescentou que a questão, antes de ser jurídica, tem que ser vista sob a ótica dos direitos humanos.

Para encaminhar a questão, o presidende da Comissão de Direitos Humanos, Durval Ângelo, marcou para esta sexta-feira (19), uma reunião na sede da Cemig em Belo Horizonte com representantes da empresa, dos moradores, da comissão, Conselho e Subsecretaria estaduais de Direitos Humanos para tratar da ligação de energia no bairro Boa Esperança. O deputado anunciou também que outra reunião será marcada com a Defensoria Pública Estadual para reivindicar a designação de defensores para Santa Luzia.

Assassinato de morador do Morro das Pedras por PMs é denunciado

Na segunda parte da reunião, três moradores do Morro das Pedras, em Belo Horizonte, entre eles, um encapuzado, denunciaram o assassinato, que teria sido cometido por policiais militares, de José Ronaldo das Graças Santos, também residente no local. Prestaram depoimento à comissão o pedreiro José Cupertino das Graças e seu filho Carlos Alberto das Graças Santos, respectivamente, pai e irmão de José Ronaldo, morto no bairro em 20 de novembro deste ano.

Segundo o depoente não identificado por temer ameaças, o rapaz morto era um trabalhador e pertencia a uma família honesta. Ele reclamou que os moradores convivem com uma verdadeira tragédia, com os policiais não respeitando ninguém: "eles entram em 30, 40 casas, chegam quebrando portas, dando tiros". Ele denunciou o coordenador do programa Fica Vivo, tenente Cláudio Alves da Silva, conhecido como "Peladeira", como o líder das ações arbitrárias no local.

Questionado por Durval Ângelo sobre a eficácia desse programa que é uma parceria dos governos estadual e federal, a testemunha disse que não está funcionando. Isso porque as lideranças do bairro não têm ido às reuniões do programa, por estarem sofrendo ameaças de membros da Polícia Militar. De acordo com o encapuzado, os moradores não concordam com algumas determinações da PM que invade casas e pede que eles denunciem traficantes, sem oferecer proteção alguma a quem denunciar.

José Cupertino, pai do jovem morto, disse que seu filho foi morto com covardia, apesar de nunca ter envolvimento com nada de errado. Carlos Alberto reclamou que o laudo sobre a morte de seu irmão que era para sair em 30 dias, agora só sai em 45 dias. O deputado Durval Ângelo disse que, em fevereiro do próximo ano, será realizada uma audiência pública no Morro das Pedras, para tratar dos problemas apresentados, com os envolvidos na questão.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Durval Ângelo (PT) e Roberto Ramos (PL).

 

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