Direito de exploração de jazidas de pedra-sabão é debatido na Assembléia

Uma reunião entre a comissão dos artesãos de pedra-sabão e representantes do Departamento Nacional de Produção Minera...

16/12/2003 - 20:08
 

Direito de exploração de jazidas de pedra-sabão é debatido na Assembléia

Uma reunião entre a comissão dos artesãos de pedra-sabão e representantes do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) será realizada nesta sexta-feira (19/12/2003), em Cachoeira do Brumado, distrito de Mariana/MG. Um segundo encontro deve ocorrer na primeira semana de fevereiro de 2004, entre a comissão dos artesãos e representantes do poder público e das empresas que exploram pedra-sabão na região do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Esses foram os resultados obtidos durante a audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa de Minas, nesta terça-feira (16), para debater a situação de falta de matéria-prima dos artesãos que trabalham com pedra-sabão em Cachoeira do Brumado. Realizada a requerimento do deputado Padre João (PT), a reunião foi palco de discussão entre os artesãos e representante de empresa sobre os direitos de exploração da pedra-sabão.

De acordo com o integrante da Associação dos Artesãos de Pedra-Sabão Newton Bessante, o artesanato em pedra-sabão e a produção de panelas é tradição de Cachoeira do Brumado há mais de 200 anos e representa o principal meio de geração de renda local. Para ele, a atividade dos artesãos está sendo ameaçada pelas empresas que exploram a matéria-prima, alegando que a extração artesanal consome uma jazida em 40 anos e, industrialmente, o tempo é reduzido de seis a três meses. Bessante afirmou que, atualmente, existem cerca de 2.500 artesãos no distrito.

O deputado Padre João lembrou que duas pedreiras fontes de pedra-sabão foram inundadas para a construção das usinas hidrelétricas de Fumaça e Furquim, em Marina e Diogo de Vasconcelos, reduzindo ainda mais o meio de exploração artesanal da matéria-prima. Ele disse também que a maior parte da pedra-sabão, que é retirada pelas indústrias, é exportada para a Europa sem valor agregado e vendida por um preço muito mais elevado do que aquele pago no Brasil pela produção artesanal. Também manifestou sua preocupação com o futuro dos artesãos de Cachoeira do Brumado o deputado Laudelino Augusto (PT), que afirmou que o direito de exploração das jazidas pelas indústrias não pode ferir o dos artesãos e vice-versa.

Empresa se defende das acusações

O diretor da Ouro Preto Pedra-Sabão (OPPS), Flávio Orsini, defendeu a empresa das acusações alegando que nunca havia sido procurado por qualquer artesão para discutir o assunto do direito de exploração da matéria-prima. Segundo ele, a OPPS existe há 33 anos e trabalha de acordo com a legislação dos órgãos ambientais e que a exploração que é feita por ela em sete jazidas são permitidas por licença. Ele declarou também que é realizado um trabalho de responsabilidade social, viabilizando inclusive a exportação de produtos artesanais em containers sem lucros para a empresa; e possibilitando a exploração artesanal de jazidas sob a égide da empresa, evitando que a legislação ambiental não fosse ferida.

Em relação aos contratos com antigos proprietários de terrenos onde hoje são exploradas jazidas de pedra-sabão, Orsini esclareceu que todos os contratos foram celebrados com pagamento de indenização e repartição de royalties para os ex-moradores. Ele declarou, ainda, que a pedra utilizada pela OPPS é mais dura e não serve para o trabalho artesanal, sendo a parte mais flexível doada aos artesãos. Contestando as considerações de Flávio Orsini, o integrante da Associação dos Artesãos de Pedra-sabão, Newton Bessante afirmou que o que é destinado aos produtores é apenas "resto".

Autoridades sugerem soluções

Algumas soluções para o impasse sobre os direitos de exploração das jazidas de pedra-sabão de Cachoeira do Brumado foram propostas pelos representantes da Prefeitura de Mariana e do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). De acordo com o chefe do 3º Distrito do DNPM, Emanuel Martins Simões Coelho, o melhor caminho seria que os artesãos se organizassem em cooperativa e tivessem o auxílio de técnicos que ficassem responsáveis pelo acompanhamento de processos nos órgãos ambientais, que segundo ele, são complexos e demorados e requerem um acompanhamento permanente. Coelho contou que trabalhos nesse sentindo já foram estruturados com os extratores de argila da região de Monte Carmelo. Ele sugeriu, ainda, além da realização das reuniões já citadas, o estudo da viabilidade de se transformar a pedra-sabão em patrimônio cultural de Minas Gerais, preservando, assim a atividade artesanal.

Já o assessor do DNPM, José Carlos do Vale, chamou atenção para os artesãos da importância de se organizarem, o que possibilitaria que concorressem, por meio de requerimento ao Departamento, a uma licença de exploração de jazida. Outra proposta apresentada por Vale foi a de que geólogos da Universidade Federal de Ouro Preto retribuíssem o investimento público na sua formação com pesquisas no Quadrilátero Ferrífero para busca de novas áreas para exploração da matéria-prima.

A contribuição da Prefeitura de Mariana seria a ampliação da capacitação dos artesãos, de acordo com o procurador-adjunto da Prefeitura, Rogério Moreira de Souza. Ele informou que a prefeitura já havia oferecido neste ano 13 cursos de associativismo e cooperativismo aos artesãos da localidade, sendo que três deles foram ministrados aos produtores de Cachoeira do Brumado. Defendendo a conscientização dos artesãos, Souza afirmou que a prefeitura irá criar mais cursos.

Deputados aprovam requerimentos

A Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social aprovou requerimentos da deputada Marília Campos (PT) e do deputado Célio Moreira (PL). O primeiro requer que seja solicitado à Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais informações sobre as mudanças implementadas na Diretoria de Ações Descentralizadas de Saúde (DADS-BH) referente aos critérios de substituição de servidores, bem como dados sobre as relações mantidas entre a diretora da entidade, Ninon de Miranda Fortes, e os seus funcionários. Já o outro requerimento solicita que seja encaminhado ofício ao Secretário de Estado de Governo, requerendo que o valor da bolsa proveniente do convênio entre a Loteria Mineira e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Esportes para alunos de escolas especiais seja elevado, uma vez que a média das mensalidades escolares praticadas em Belo Horizonte é de R$ 600,00.

Presenças - Compareceram à reunião os deputados Alberto Bejani (PTB), presidente; Marília Campos (PT), vice-presidente; Padre João (PT), que pediu a reunião e a presidiu; Laudelino Augusto (PT); André Quintão (PT) e Elmiro Nascimento (PFL). Além dos deputados, também participaram da audiência pública os convidados citados na matéria.

 

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