Comissão ouve comunidade sobre violação de direitos em Juiz de Fora

A situação dos adolescentes infratores que estavam cumprindo pena no Centro de Remanejamento de Presos de Juiz de For...

09/12/2003 - 19:48
 

Comissão ouve comunidade sobre violação de direitos em Juiz de Fora

A situação dos adolescentes infratores que estavam cumprindo pena no Centro de Remanejamento de Presos de Juiz de Fora (Ceresp), a atuação da Polícia Militar nas escolas públicas e o falecimento de Wanderley Alves Sobrinho no Hospital João Penido, no ano 2000, foram temas debatidos em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia de Minas, nesta terça-feira (9/12/2003), em Juiz de Fora. A reunião foi realizada em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Juiz de Fora, a requerimento do deputado Biel Rocha (PT). Segundo o deputado, o objetivo é estabelecer um contato mais próximo com as câmaras municipais, desenvolvendo uma ação articulada para o encaminhamento das questões de violação dos direitos humanos.

Segundo o presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), em março será realizado um encontro das Comissões de Direitos Humanos das câmaras, com a presença do secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, visando parcerias mais permanentes para a solução dos problemas ligados aos direitos humanos. O deputado ressaltou que hoje existem estatísticas mensais sobre a criminalidade e sobre a atuação da polícia no combate à violência, mas não há estudos sistemáticos sobre a violação dos direitos humanos.

Morte de paciente não recebeu atenção necessária

Maria Meuri Alves de Oliveira, irmã de Wanderley Alves Sobrinho, morto com 90% do corpo queimado em outubro de 2000, quando estava internado no Hospital João Penido, em Juiz de Fora, cobrou solução para o inquérito que apura a morte do irmão. Ele sofria de psicose esquizofrênica e estava internado para tratar de uma tuberculose. Segundo ela, uma testemunha a teria informado, na época, de que seu irmão foi assassinado. Maria Meuri disse ainda que o caso passou por quatro delegacias e que hoje está parado na Delegacia de Crime contra a Pessoa. Ela acredita que o inquérito aponta para a hipótese de suicídio, o que ela descarta. "Meu irmão chegou bem ao hospital", afirmou.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, vereador Flávio Checker, apresentou aos deputados o histórico do caso que foi acompanhado de perto pela comissão municipal. "A comissão tem a convicção de que esse caso não está recebendo a atenção cabível para a gravidade dos fatos", afirmou. O promotor de Saúde e Direitos Humanos, Ari Brasil, disse que há indícios, embora fracos, de que o paciente teria sido assassinado. "A investigação feita até o momento não permite ao Ministério Público afirmar isso categoricamente. Não podemos dizer que é um caso de homicídio doloso, mas cabe abertura de ação penal de homicídio culposo", afirmou. Segundo o promotor, houve falhas nas investigações. "O local da morte foi desfeito, os funcionários e pacientes do hospital deveriam ter sido listados e ouvidos", informou. Ele disse ainda que um paciente saiu do hospital no dia seguinte à morte de Wanderley e não foi ouvido. Segundo o promotor, não se sabe se ele fugiu do hospital ou se recebeu alta. Ele disse também que o Ministério da Saúde apresentou um laudo informando, entre outras coisas, que os pacientes do hospital teriam fácil acesso a material inflamável. Esses dados são confirmados pelos registros de ocorrências do mesmo hospital.

Delegado especial - O deputado Biel Rocha acredita que o caso deveria ter sido conduzido, desde o início, pelo mesmo delegado, o que agilizaria o processo. Por isso, apresentou um requerimento, que foi aprovado pela comissão, pedindo que seja encaminhado ofício ao delegado da 7ª Delegacia Regional de Juiz de Fora, Antônio Garcia, solicitando a nomeação de um delegado especial, com urgência, para a conclusão do inquérito policial em que se apuram as circunstâncias da morte de Wanderley Alves Sobrinho.

Exposição de alunos em escola pública é criticada

O episódio ocorrido no último dia 19 de novembro na Escola Municipal Quilombo de Palmares, quando mais de 30 alunos de 12 a 16 anos foram obrigados pela Polícia Militar a ficarem nus, a fim de apurar o suposto roubo de um aparelho celular, foi outro assunto discutido na reunião. O diretor de Política Social, Celso Matias, esclareceu que a prefeitura abriu sindicância para apurar a participação da diretora da escola na ação policial. Ela foi afastada do cargo mas, segundo Celso Matias, essa não seria uma medida punitiva. Ele informou que, nos termos do Estatuto do Servidor, poderá ser aberto processo administrativo contra ela caso se verifique que a diretora cometeu alguma falta. Ela ficará afastada até que se conclua a sindicância.

Apoio - André Luiz da Silva, representando a comunidade escolar, apresentou um documento com 239 assinaturas contra o afastamento da diretora. Segundo ele, a diretora teria tentado controlar a situação de forma pedagógica, tendo recorrido à polícia com o aval de toda a escola. "Repudiamos a atitude dos policiais, mas não a da diretora, enfatizou". Para o promotor da Infância e da Juventude, Paulo César Ramalho, se a diretora foi conivente com a ação policial, praticou um crime. Se foi negligente, também errou. "Mas, se ela foi proibida pelos policiais de interferir na ação, é inocente", explicou. O promotor defendeu ainda que o caso seja apurado com cautela, sem alardes, para que a sociedade seja preservada. O deputado Biel Rocha concordou dizendo que a solidariedade da comissão é com as crianças. Ele enfatizou ainda sua preocupação com os índices de violência nas escolas de Juiz de Fora. Só este ano a polícia foi acionada 105 vezes para atender ocorrências desse tipo.

Violência nas escolas - Foi aprovado requerimento do deputado Biel Rocha, solicitando realização de reunião conjunta das Comissões de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia e de Direitos Humanos, para debater as possibilidades de abordagem pedagógica da violência urbana e, ainda, a ação policial nas escolas públicas do Estado. Também foi aprovado requerimento do deputado Roberto Ramos (PL) pedindo que seja encaminhado ofício ao comandante da 4ª Região da Polícia Militar de Juiz de Fora, solicitando a relação dos nomes e patentes dos policiais que atuaram na Escola Municipal Quilombo dos Palmares, no dia 19 de novembro.

A ausência do comandante da 4ª Região da Polícia Militar, Cel. Ciro Rodrigues de Oliveira, na reunião foi criticada pelo deputado Durval Ângelo, que destacou que a polícia nunca se recusa a participar dos debates promovidos pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia.

Entidades defendem medidas de recuperação de infratores

A situação dos adolescentes infratores presos no Ceresp também foi abordada pela comissão. A coordenadora da Pastoral do Menor, Élia de Oliveira Melo, defendeu a necessidade de um local adequado em Juiz de Fora para receber o adolescente infrator e também a adoção das medidas sócio-educativas, previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, na recuperação dos menores. Para o promotor da Infância e da Juventude, Paulo César Ramalho, Juiz de Fora realizava um trabalho bem sucedido na recuperação dos jovens infratores, com um índice de reincidência de apenas 5%, com medidas sócio-educativas em meio aberto. "Por causa da ação do atual juiz da Vara da Criança e do Adolescente, esse trabalho foi perdido", lamentou.

O promotor defendeu a criação de um centro de recuperação dos adolescentes, desde que não seja uma instituição regional. "Não precisamos de mais de 12 vagas. Hoje temos quatro jovens no Instituto Jesus, sete em Sete Lagoas e quatro em outros Estados. Se em 10 anos tivemos 69 adolescentes infratores cumprindo pena, por que vamos abrir 80 vagas, por exemplo?", questionou. Ele disse ainda que os adolescentes foram mantidos no Ceresp com aval do Tribunal de Justiça.

O gerente de Recursos Compartilhados da Prefeitura de Juiz de Fora, Rogério de Freitas, informou que a Prefeitura apresentará no próximo dia 13 o projeto psico-pedagógico para um futuro centro de recuperação. Segundo ele, o Instituto Jesus é hoje um espaço provisório, adaptado pela Prefeitura, para receber os jovens infratores. Ele informou ainda que, a partir de março, a administração municipal irá assumir a liberdade assistida para reduzir o número de internações. Também será lançado um projeto que prevê investimentos em 11 áreas afetadas pela violência escolar.

Juiz denunciado por venda de sentença

Durante a reunião, o deputado Alberto Bejani (PTB) apresentou um relatório da Corregedoria Geral de Justiça que abriu sindicância para apurar possíveis faltas disciplinares e ilícitos legais praticados pelo Juiz de Direito Murilo de Sá Júnior, da 5ª Vara Cível da Comarca de Juiz de Fora. A Corregedoria pediu o afastamento preventivo do juiz e ainda a quebra do sigilo bancário e fiscal. Segundo denúncias, ele estaria cobrando propina pelos vereditos. Foi aprovado requerimento do deputado Durval Ângelo pedindo que seja encaminhado ofício ao presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e ao juiz corregedor-geral de Justiça, solicitando o imediato afastamento do juiz Murilo de Sá Júnior.

Requerimentos - Ao final da reunião foram aprovados outros três requerimentos do deputado Durval Ângelo dando encaminhamento a denúncias feitas pela comunidade durante a reunião.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), vice; Biel Rocha (PT) e Alberto Bejani (PTB). Além dos convidados citados na matéria, também estavam presentes o secretário-geral do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Juiz de Fora, Marcelo Frank; o presidente do Instituto Jesus, Lidércio Bissoli Rocha; além de vários vereadores da Câmara Municipal de Juiz de Fora.

 

 

 

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