Comissão convoca diretor de presídio para apurar morte de preso

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia de Minas vai convocar o diretor da Penitenciária de Governador Valadares...

04/12/2003 - 19:32
 

Comissão convoca diretor de presídio para apurar morte de preso

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia de Minas vai convocar o diretor da Penitenciária de Governador Valadares, major Jacob Rodrigues Filho, para prestar depoimento sobre as circunstâncias da morte do preso Fabrício Martins Rodrigues naquela unidade. Aprovado na audiência pública desta quinta-feira (4/12/2003), na Câmara Municipal de Valadares, o requerimento dos deputados Durval Ângelo (PT) e Roberto Ramos (PL) pela convocação do diretor-geral da Penitenciária Francisco Floriano de Paula foi motivado pelo não-comparecimento dele à reunião.

Para apurar as denúncias de tortura que teriam sido praticadas contra o detento, a comissão ouviu familiares do preso, vereadores de Valadares, representantes da Polícia Civil e da Promotoria e outros envolvidos com a questão. Na reunião, vários cidadãos empunhavam cartazes e faixas exigindo a apuração dos fatos e justiça. Segundo documentos da Câmara Municipal, Fabrício Martins teria sido espancado na penitenciária, após o início de uma rebelião no dia 2 de outubro. Com ferimentos no couro cabeludo, traumatismo craniano, perna quebrada e marcas de perfuração debaixo das unhas, ele foi levado em estado grave ao Hospital Municipal, na noite da rebelião. Foi internado no CTI em coma, vindo a falecer em 10 de outubro.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos e do Consumidor da Câmara, vereador Pedro Zacarias de Magalhães, disse que esse é um dos mais violentos casos que a comissão apurou. Ele relatou outras denúncias de torturas, espancamento e violações aos direitos humanos - cometidas, em sua maioria, por policiais civis e militares. O deputado Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos Humanos, pediu que a Câmara lhe entregasse a documentação das denúncias. Foi, então, aprovado um requerimento pedindo da Assembléia as providências necessárias para conclusão das apurações de violação de direitos humanos apresentadas pela Câmara.

Delegado diz que presos não denunciam por temerem retaliações

O delegado de Polícia de Governador Valadares, Elder Chantal de Almeida, disse que a Polícia Civil está empenhada na apuração do assassinato, mas que "é difícil chegar à autoria material do fato". Isso ocorre, segundo ele, porque os detentos não se dispõem a falar o nome dos policiais envolvidos, com medo de retaliações. "Não temos como garantir que os presos que denunciarem serão transferidos". Já o promotor de Justiça da Comarca, Marco Antônio da Silva Vieira, apelou aos deputados que cobrassem do Poder Executivo estadual o cumprimento das leis relativas ao sistema penitenciário. "Estamos tratando hoje de tortura, mas esquecemos que a superlotação das unidades prisionais já é uma agressão aos direitos humanos", enfatizou. De acordo com Vieira, a penitenciária de Valadares, com capacidade para 250 presos, está hoje com 420.

A mãe do preso, Rosa Maria Martins, disse que ela e a família só ficaram sabendo que Fabrício estava no hospital pela televisão, através de uma reportagem do MGTV sobre a rebelião. Imediatamente, ligou para a penitenciária e um agente penitenciário informou que não tinha ocorrido nada e nem havia feridos. Segundo ela, apesar de seu filho estar em estado grave, ele teria sido levado ao hospital somente quatro horas depois dos agentes feridos na rebelião.

Outros requerimentos aprovados

* Do deputado Durval Ângelo (PT), os seguintes:

- solicitando ao promotor Antônio de Pádova a formação de um mutirão de promotores de Justiça para apurar as denúncias de violação de direitos humanos na penitenciária de Governador Valadares;

- convidando para depor na comissão o médico que atendeu a detenta Maria Aparecida Porto, em 3 de dezembro, no Hospital Odilon Behrens, os detetives que a escoltaram, o policial "Ratinho", que presta serviço no hospital, e os responsáveis pela unidade presentes na hora do atendimento;

- visita às 15 horas, em 4 de dezembro, à Penitenciária Estevão Pinto para ouvir Maria Aparecida Porto;

- audiência pública em 9 de dezembro, às 15 horas, com os moradores do Morro das Pedras, para apurar denúncias de violência e violação de direitos humanos.

* Dos deputados Bonifácio Mourão (PSDB), Roberto Ramos (PL) e Jayro Lessa (PL):

- solicitando convite ao senador Hélio Costa (PMDB/MG) e ao deputado federal João Magno (PT/MG) para participarem de reunião da comissão que abordará a situação dos brasileiros presos por tentativa de entrar ilegalmente nos Estados Unidos;

* Do deputado Roberto Ramos:

- solicitando que seja protocolada representação junto ao Ministério Público contra ato da titular da Delegacia Especializada de Vigilância Geral/DI, Margaret de Freitas Assis Rocha, durante visita da comissão ao local, em 3 de dezembro, acompanhando as apurações de denúncias de tortura à detenta Maria Aparecida Porto.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Roberto Ramos (PL), Bonifácio Mourão (PSDB) e Jayro Lessa (PL). Além dos convidados citados, participaram também os vereadores de Valadares Maurício Morais, Elisa Costa e Reginaldo Gaião; o secretário municipal de governo, Silvano Gomes; o tio e a esposa do preso morto, Rogério Martins e Sílvia Helena Rodrigues; o delegado regional de Governador Valadares, Astrogildo Antônio Soares Valério.

 

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