Falta de conhecimento contribui para aumento da Aids no
Estado
O aumento da incidência de Aids em Minas Gerais foi
debatido, nesta quinta-feira (4/12/2003), pela Comissão de Saúde da
Assembléia Legislativa, a requerimento do deputado Chico Simões
(PT). Para o deputado, há uma certa dificuldade de fazer as pessoas
usarem os medicamentos controladores da doença, pois ao tomarem
esses remédios, elas sentem um bem-estar e param o tratamento. "O
nosso objetivo é conscientizar e garantir a medicação aos portadores
da Aids", afirmou Chico Simões.
A coordenadora de DST/Aids da Secretaria de Estado
da Saúde, Maria Tereza da Costa Oliveira, falou sobre a assistência
que Minas Gerais vem dando aos infectados pela doença. Os principais
hospitais para tratamento da doença em Belo Horizonte são o da
Baleia e o Júlia Kubitschek. Segundo ela, a incidência de Aids
aumentou no interior. "Em dezembro de 2002, 514 municípios
apresentavam a doença, hoje, esse número aumentou para mais de 560.
Precisamos levar ajuda para o interior", destacou Maria Tereza.
Segundo a coordenadora de DST/Aids da Secretaria
Municipal de Saúde, Carmem Teresinha Mazzilli, existem hoje, no
Brasil, 277.153 casos de Aids e em Belo Horizonte, 5.076 casos,
sendo 78% homens e 22% mulheres. Ela ressaltou o aumento da epidemia
entre jovens, mulheres e heterossexuais. 250 mil preservativos são
distribuídos por mês em Belo Horizonte. Carmem Teresinha criticou as
campanhas de distribuição de preservativos. "Queremos que o
preservativo entre na vida das pessoas naturalmente. Ele não pode
ser distribuído em campanhas, pois as pessoas acham que estão
ganhando um brinde", ressaltou.
Convidados destacam uso de preservativo
Já o vice-presidente do Grupo de Apoio à Prevenção
à Aids (Gapa/MG), Roberto Chateaubriand Domingues, o que falta aos
adolescentes não é informação, mas sim conhecimento. Roberto
Domingues considera importante o treinamento de pessoas para
trabalhar com os infectados, mas deixou claro que quantidade não
garante qualidade. Ele destacou, ainda, que o poder público está
calado em relação à Igreja Católica. "A igreja diz que o
preservativo não garante proteção e a população tem isso como uma
lei", ressaltou.
A presidente do conselho administrativo do Grupo
Vhiver, Kátia Maria Prates, concordou com Roberto em relação à
propaganda que a Igreja faz contra o preservativo e falou sobre sua
preocupação com o crescimento da doença entre os heterossexuais.
"Falta o uso de camisinha nas relações entre homem e mulher",
afirmou Kátia Prates. Segundo ela, o número de mortes de mulheres
com Aids é maior do que o de homens, porque quando a mulher se
descobre infectada junto com o marido, prefere cuidar do
companheiro.
A psicóloga e coordenadora de projetos da ONG Musa,
Patrícia Aparecida Soares e Souza, destacou a fragilidade da mulher
em relação ao homem. "Precisamos construir uma cultura igualitária",
afirmou a psicóloga. Falou ainda sobre o uso errado da camisinha,
que, segundo ela, não é usada como um preventivo de doenças, mas
para evitar a gravidez.
O representante do Gapa de Ipatinga, Dalgreis
Pereira Lage, ressaltou a necessidade de que os pais e as escolas
eduquem as crianças sobre hábitos sexuais saudáveis desde cedo.
Segundo ele, pesquisa realizada com quase 10 mil estudantes do Vale
do Aço indica que 39% dos alunos nunca fizeram exame para detectar a
doença nem pretendem fazê-lo. "Muitas escolas particulares se
recusaram a permitir que a pesquisa fosse feita, apesar de terem a
maior quantidade de jovens envolvidos com drogas", reclamou.
Atendimento ainda é centralizado
Os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente da
comissão, e Neider Moreira (PPS) ressaltaram a necessidade de
interiorizar o atendimento aos portadores do vírus HIV. "A política
de saúde foi, nas últimas décadas, centralizada na Região
Metropolitana de Belo Horizonte, e só agora está sendo ampliada",
analisou o deputado Neider Moreira. Segundo ele, é importante que
cada microrregião ofereça pelo menos o atendimento básico à doença,
além de promover a notificação dos casos detectados. "As
estatísticas no Brasil são uma ficção, não indicam os números
reais", disse. Também para o deputado Ricardo Duarte, há necessidade
urgente de interiorizar o tratamento da doença, apesar de já terem
sido obtidos muitos avanços.
O deputado Fahim Sawan (PSDB) reforçou a idéia de
banalização do preservativo. "O adolescente guarda o preservativo na
carteira só para mostrar aos outros que tem relações sexuais". Outro
ponto destacado por Fahim Sawan foi a discriminação sofrida pelas
pessoas com Aids. Para o deputado Carlos Pimenta (PDT), um dos
fatores que contribuem para a incidência da doença é a desinformação
dos adolescentes sobre a prevenção. "É preciso que o Estado amplie
suas ações. As pessoas não sabem que as campanhas existem", destacou
Carlos Pimenta.
Analisado projeto sobre controle sanitário
A Comissão de Saúde aprovou parecer favorável ao
Projeto de Lei (PL) 1.200/2003, do governador, que muda o artigo 85
da Lei 13.317, de 1999, que contém o Código de Saúde do Estado. O
artigo determina que os estabelecimentos sujeitos ao controle e à
fiscalização sanitária tenham o alvará sanitário expedido pela
autoridade sanitária competente. Pela lei, a autorização vale por um
ano e é renovável por períodos iguais e sucessivos, sendo requerida
a renovação nos primeiros 120 dias de cada exercício. O objetivo do
projeto é estabelecer a validade do alvará para um ano, contando da
data de sua emissão, e determinar que a renovação seja requerida com
antecedência mínima de 120 dias do término da vigência.
Segundo o relator, o deputado Ricardo Duarte, é
fundamental que o controle sanitário seja feito por meio da aferição
da qualidade dos produtos e da verificação das condições de
funcionamento dos estabelecimentos. Nesse sentido, de acordo com
ele, o projeto aprimora o processo de emissão do alvará, evitando
que ele expire com o término do ano civil, desconsiderando a data em
que foi concedido. "O projeto ajusta o dispositivo legal às normas
do direito administrativo", afirmou, no parecer, que é pela
aprovação do texto na forma original.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Ricardo Duarte (PT), presidente; Fahim Sawan
(PSDB), vice; Carlos Pimenta (PDT); Célio Moreira (PL); Neider
Moreira (PPS); e Chico Simões (PT).
|