Comissão da Santa Casa apresenta relatório final

A Comissão Especial da Santa Casa de Belo Horizonte, instalada em 4 de setembro último em meio a uma greve dos funcio...

03/12/2003 - 18:20
 

Comissão da Santa Casa apresenta relatório final

A Comissão Especial da Santa Casa de Belo Horizonte, instalada em 4 de setembro último em meio a uma greve dos funcionários que durou 17 dias naquela instituição, concluiu seus trabalhos nesta quarta-feira (03/12/2003), durante outra greve que já dura onze dias. Essa síndrome de crise continuada fez com que a presidente da Comissão, deputada Jô Moraes (PCdoB), anunciasse que a conclusão das apurações não significa que os deputados vão se afastar do problema: "Continuaremos em nosso compromisso de buscar soluções para que a Santa Casa volte a funcionar plenamente e sem tropeços".

Jô Moraes defendeu que as soluções definitivas só podem surgir de uma pactuação dos três níveis do SUS para gerir a instituição, e da criação de um Conselho de Saúde, do qual participem os usuários, os gestores, os funcionários e os médicos, com papel fiscalizador dentro da instituição. O presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde, Roberto Verônica, participou da reunião para relatar o estágio atual da greve. Segundo ele, "uma parceria com o sindicato estará condicionada à caça dos responsáveis pela dívida de R$ 200 milhões que sufoca a Santa Casa".

No mesmo sentido se pronunciou o relator, deputado Roberto Carvalho (PT). "A dívida e o passivo precisam de nova auditoria. O passado deve ser olhado sim. Temos que ser muito mais que solidários. Todos os atores têm que trabalhar numa mesma direção, e construir juntos a solução", disse Carvalho. Ele também revelou que, na noite de terça, esteve com o secretário municipal de Saúde, Helvécio Miranda Magalhães Júnior, que estaria adiantando nova parcela dos repasses do SUS para aliviar a situação dos grevistas.

Deputados querem participar da fiscalização

No início da reunião final, o deputado Neider Moreira (PPS) - que durante os trabalhos elaborou cálculos e análises que o deixavam pessimista sobre a capacidade de superação dos problemas da Santa Casa, nas condições atuais e com a atual tabela do SUS - fez uma série de ponderações e recomendações que o relator, Roberto Carvalho (PT), considerou que já estavam contempladas no relatório final. Carvalho incluiu nas recomendações do relatório a realização de nova e detalhada auditoria que mostre a evolução da dívida. Outras recomendações listadas, além desta e da criação do Conselho de Saúde, são as seguintes:

1. Esforços da Frente Parlamentar em Defesa da Saúde para o reajuste da Tabela de Procedimentos do SUS.

2. Que as obras do Cardiominas sejam redirecionadas para a oferta de serviços de oftalmologia, otorrinolaringologia e exames de média e alta complexidade de nível ambulatorial.

3. Que um grupo de trabalho composto por parlamentares acompanhe e fiscalize a implementação do novo plano de gestão da Santa Casa.

Os deputados não se contrapuseram à proposta de reestruturação do novo grupo gestor, baseada em três aspectos: renegociação para alongar o perfil da dívida; profissionalização da gestão e participação dos funcionários no pacto de reconstrução. Os atuais administradores querem ampliar o número de convênios, o número de leitos oferecidos e montar um pacote de serviços que mescle procedimentos bem remunerados e outros mal remunerados pela tabela do SUS para garantir a sustentabilidade da instituição.

Administradores, médicos e gestores traçaram

quadro preciso das dificuldades da Santa Casa

A estratégia da Comissão Especial da Santa Casa foi ouvir, em primeiro lugar, os administradores. No dia 17/9, foram ouvidos o diretor-geral Porfírio Marcos Rocha Andrade e os demais diretores. Participou também Orlando Euler de Castro, do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (IDG), que teria realizado um trabalho de saneamento muito elogiado pelo deputado Roberto Carvalho, na Santa Casa de Porto Alegre. Entre os motivos para o déficit, eles listaram a baixa tabela do SUS, o aumento do preço dos insumos e dos equipamentos comprados em moeda estrangeira e a atualização dos salários, o que levou a administração a buscar recursos no mercado financeiro.

A segunda reunião, em 15/10, foi com os médicos e suas entidades, e com os funcionários e seu sindicato. Apurou-se que o corpo clínico tinha sido afastado das decisões, e que a falta de suprimentos tinha comprometido a função social da Santa Casa. No dia 5/11 foram ouvidos os gestores Helvécio Miranda Magalhães Júnior, da PBH, e José Maria Borges, da SES. Helvécio Magalhães denunciou que haveria um movimento para transferir as áreas lucrativas da Santa Casa para a Fundação e excluir o Hospital Central, deficitário.

Dados gerais sobre a Santa Casa

A Santa Casa de Belo Horizonte foi criada em 21 de maio de 1899. É o maior complexo hospitalar de Minas e o terceiro do Brasil, funcionando como hospital-escola das duas faculdades de Medicina da Capital. A esse complexo pertencem várias unidades: Hospital São Lucas, Hospital Emídio Germano, Maternidade Hilda Brandão, Instituto de Geriatria Afonso Pena, Hospital Imaculada Conceição (antigo Cardiominas) e o Serviço Funerário. A instituição tem ao todo 3.300 servidores, 817 médicos, 1.187 leitos no hospital central e realiza mais de 3 mil procedimentos por dia. Em 2002, 77% de sua clientela era proveniente do SUS.

 

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