Criação de Reserva Florestal pode prejudicar moradores da região

A ampliação de 20 para 50 mil hectares da área da Reserva Biológica da Mata Escura, no município de Jequitinhonha, en...

03/12/2003 - 20:46
 

Criação de Reserva Florestal pode prejudicar moradores da região

A ampliação de 20 para 50 mil hectares da área da Reserva Biológica da Mata Escura, no município de Jequitinhonha, entre os Vales do Jequitinhonha e Mucuri, pode prejudicar mais de mil famílias assentadas na região. Este foi o principal argumento usado durante a audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais, realizada nesta quarta-feira (3/12/2003), a pedido da deputada Maria José Haueisen (PT). A parlamentar classificou como arbitrária a expansão da área, que, anteriormente, era considerada parque ecológico. "A reserva foi criada por um decreto do presidente Lula e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sem que eles tivessem conhecimento das conseqüências que ele poderia causar. É preciso reconhecer o erro e tentar revogá-lo", afirmou.

A deputada Maria Tereza Lara (PT) também lamentou a expansão da reserva e disse que não irá medir esforços para resolver esta situação, "se não pelo diálogo, recorrendo ao Ministério Público, para que ele impeça a concretização do decreto". Segundo o representante da Comissão Pró-Mata Escura, Frei Pedro José de Assis, cerca de 1100 famílias que vivem na área da reserva, que representam 24 mil habitantes, estão ameaçados de perder "suas raízes e cultura". Segundo ele, a população não foi consultada e precisa de ajuda para reverter o problema.

A ampliação da reserva também foi criticada pela superintendente-executiva da Associação Mineira em Defesa do Meio Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, por "desconsiderar questões sociais". Ela destacou a importância de uma ação conjunta entre as entidades ambientais para agilizar a revogação do decreto que cria a Reserva Mata Escura com maiores dimensões.

Sobrevivência depende da terra

O secretário da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Juracy Moreira Souto, enfatizou que a área da Mata Escura é inferior à região prevista pelo decreto. Segundo ele, há um consenso quanto à necessidade de preservação da mata, mas a população que ali mora não pode ser desconsiderada. Para Juracy Souto, é preciso suspender imediatamente o efeito do decreto e voltar a discutir a extensão original da reserva, que são 20 mil hectares.

O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Vilson Luiz da Silva, destacou que o desenvolvimento sustentável de uma área depende não só da preservação ambiental, mas também das condições sociais e econômicas de seus moradores. Os quilombolas remanescentes, os índios e os agricultores que estão assentados na região precisam da terra para sobreviver", reforçou. Segundo ele, a produção agrícola da região é responsável por 80% do consumo dos municípios de Jequitinhonha e Almenara. "Com a desocupação os municípios ficariam desabastecidos", alertou.

Falta de recursos prejudica trabalho de agricultor

Outro ponto discutido foi a falta de recursos públicos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), uma linha de crédito para o agricultor que, conforme explicou a advogada da Fetaemg, Sonia Mara Prata, está desativada. A advogada sugeriu à comissão que envie um ofício ao Ibama e ao Ministério do Meio Ambiente, solicitando a liberação da linha de crédito. O representante dos atingidos da reserva biológica Mata Escura, Santos Martins Prates, também pediu o apoio dos deputados, pois "mais de 100 famílias estão impedidas de trabalhar por falta de condições". Ele afirmou que, neste ano, quase R$ 200 mil deixarem de ser investidos na região.

O assistente técnico de Meio Ambiente da Polícia Militar, capitão Arley Ferreira, disse que a polícia deve trabalhar de maneira integrada com a sociedade na região, de forma a possibilitar o cumprimento da lei e a colaboração com os interesses comuns. Ele sugeriu que a comissão leve o problema da Mata Escura ao comando da PM na região.

Biodiversidade também deve ser considerada

O coordenador da área de Proteção à Vida Silvestre do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Ronaldo Cézar, estabeleceu um contraponto com a fala dos demais convidados ao apontar os atributos da biodiversidade da Mata Escura que serão preservados com a criação da reserva. Ele considera legítima as reclamações dos assentadas na região, mas alerta para o fato de que muitos não têm licença ambiental para estar ali. Ele apontou a proteção do ecossistema como fator importante e sugeriu que sejam pensadas alternativas para expandir a área a ser preservada sem prejudicar a população.

Requerimentos - Dois requerimentos foram aprovados. O primeiro, da deputada Marília Campos (PT), solicita à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que receba a comissão para discutir os problemas que afetam as famílias que moram na área da Reserva Ecológica da Mata Escura. O outro, do deputado Gil Pereira (PP), pede a realização de audiência pública em Montes Claros, para discutir o Programa de Revitalização da Bacia do Rio Verde Grande.

Projeto sobre transgênicos tem parecer favorável

A comissão analisou pareceres sobre dois Projetos de Lei (PLs). O PL 12/2003, do deputado Ricardo Duarte (PT), recebeu parecer pela aprovação, na forma do substitutivo nº 1, da CCJ, e com três emendas. O projeto estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização no uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiente de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) no Estado.

Segundo destacou a relatora, deputada Maria José Haueisen, o substitutivo ajustou o projeto, eliminando a duplicidade de competências entre a lei federal, a ser editada, e o que deve ser suplementado pelos Estados. "O substitutivo evita a superposição de atribuições para o controle de OGMs, mantendo-se, porém, a articulação com os órgãos e entidades da União e a obrigatoriedade do acompanhamento e fiscalização das atividades e dos projetos relativos ao setor", afirmou. A relatora lembrou que o novo texto proposto pela CCJ mantém, ainda, a necessidade do registro, do cadastro, do licenciamento e da comunicação por parte do empreendedor, além de multa para possíveis infratores.

As emendas apresentadas, segundo Maria José Haueisen, objetivam ampliar os instrumentos estaduais de controle fiscalização de OGM. A de nº 1 inclui, no artigo 1º, a comercialização dos transgênicos como item a ser observado pela futura lei. A de nº 2 acrescenta parágrafo único ao artigo 2º, determinando que compete aos órgãos estaduais de fiscalização e de controle dos OGMs recomendar às autoridades competentes a suspensão e a cassação de autorização ou licenciamento de ações em desacordo com a lei. Já a emenda nº 3 inclui, onde convier, dispositivo para que alimentos e ingredientes destinados ao consumo humano ou animal produzidos com OGMs tragam no rótulo informações sobre essas característica, sem prejuízo da legislação de rotulagem vigente.

Construção de barragens - Já o PL 565/2003, do deputado Fábio Avelar (PTB), recebeu parecer pela aprovação, com a emenda nº 1, da CCJ, e com a emenda nº3, que apresentou, e pela rejeição à emenda nº2, também da CCJ. O projeto cria a Política Estadual de Estímulo à Construção de Barragens e de Desenvolvimento Econômico das Regiões dos Vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do Norte de Minas, com o objetivo de combater os efeitos da seca e melhorar a oferta de água. O relator foi o deputado Leonardo Quintão (PMDB).

A emenda nº 1, da CCJ, sobre a qual a Comissão de Meio Ambiente é favorável, substitui, no artigo 1º, os Vales do Jequitinhonha e do Mucuri pelo Nordeste de Minas. A mudança ajusta o projeto à Lei 14.171, que cria o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (Idene) e considera como Nordeste do Estado também as bacias do Rio Pardo e do São Mateus, regiões igualmente caracterizadas pelos problemas do semi-árido mineiro. Já a emenda nº 2, da CCJ, suprime o artigo 4º sob o argumento de que a matéria já é tratada pela legislação vigente. Mas, segundo o relator, que opinou pela rejeição dessa emenda, "houve excesso de rigor pela CCJ, pois a proposição orienta o poder público na consecução dos objetivos propostos, redirecionando as ações do governo estadual nesse sentido".

Já a emenda nº 3, apresentada pela Comissão de Meio Ambiente, dá ênfase especial à conservação das águas de chuva por meio da construção de microbarragens, acrescentando páragrafo único ao inciso IV do artigo 2º do projeto. A emenda também dá nova denominação às regiões, conforme proposto pela emenda nº 1, da CCJ.

Presenças - Participaram da reunião as deputadas Maria José Haueisen (PT), presidente, Marília Campos (PT) e Maria Tereza Lara (PT) e os deputados Fábio Avelar (PTB), José Milton (PSDB), Leonardo Quintão (PMDB) e Ricardo Duarte (PT), além dos convidados citados na matéria e a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jequitinhonha, Valdete Cerqueira dos Santos; o presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável de Jequitinhonha, Deraldo Leandro Mendes; e o ex-prefeito de Jequitinhonha, José Hertz.

 

 

 

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