Solenidade homenageia luta operária e consciência
negra
Dois ex-deputados operários, representando os sete
que já tiveram assento na Assembléia Legislativa, foram homenageados
numa sessão solene no Plenário da Assembléia, na noite de
sexta-feira (21/11/2003), dedicada à Luta Operária e ao Dia da
Consciência Negra. São eles Francisco Delfino, o Chico Ferramenta,
hoje prefeito de Ipatinga, e Clodesmidt Riani, ex-líder operário no
Sul de Minas, cassado no início do movimento militar de 1964, e
reabilitado há alguns anos pela Assembléia.
Riani deu um longo e emocionado depoimento da
tribuna, compondo um painel da eferverscência política nos meios
operários durante o governo João Goulart, em que os sindicatos
realizaram nada menos que 10 congressos operários de abrangência
nacional, sendo quatro de metalúrgicos. O ex-deputado disse ter
orgulho do resultado das mobilizações, que resultaram em maiores
conquistas para consolidar a CLT iniciada no tempo de Getúlio
Vargas.
A solenidade foi presidida pela deputada Jô Moraes
(PCdoB), uma das signatárias do requerimento, juntamente com Cecília
Ferramenta e Maria Tereza Lara, ambas do PT. Jô Moraes lembrou a
"heróica atitude de Zumbi, que fundamentou a consciência racial a
partir da celebração dos sentimentos de liberdade e igualdade". No
entanto, a deputada assinalou a dupla discriminação da mulher negra
no mercado de trabalho, apontada pelo Dieese. Quanto à luta
operária, Jô Moraes manifestou suas expectativas de que o governo do
líder metalúrgico Lula seja o ponto alto de uma luta operária que
teve seus momentos trágicos, como o massacre de Ipatinga, ocorrido
há quarenta anos, com um saldo de 33 mortos.
A deputada Cecília Ferramenta, que representa o
Vale do Aço, também falou sobre as mortes de Ipatinga. "O massacre
de trabalhadores, ocorrido em uma das portarias da Usiminas, foi um
triste episódio no desenvolvimento histórico do movimento operário
brasileiro. Mas é bom lembrar que, 21 anos depois, em 1984, surgiu
ali um movimento operário marcante para a história do sindicalismo
nacional", destacou a deputada.
Maria Tereza Lara concentrou-se nas questões de
interesse da população negra, citando o presidente Lula, quando
disse que "a Lei Áurea abriu a porta da senzala mas escondeu a chave
da cidadania". Maria Tereza afirmou que a taxa de analfabetismo da
população negra é o dobro e a renda dos brancos é o dobro da dos
negros. Para reduzir essas desigualdades, ela disse que o presidente
Lula está dando início à titulação das terras dos antigos quilombos,
que são 743 no Brasil.
Durante a solenidade, a orquestra sinfônica
Stradivarius, do Colégio Santo Agostinho, executou várias peças, a
contralto Helena Pena cantou o Hino Nacional a capela e o Canto das
Três Raças. O ator Olavo de Castro fez a leitura dramática de um
poema de Vinicius de Moraes. Maria das Graças Saboya, da Coordenação
Nacional das Entidades Negras, e José Antônio Lacerda, presidente da
CUT, discursaram da tribuna.
Os ex-deputados operários, presentes ou
representados, receberam placas com a inscrição "Há pessoas que, em
nome da liberdade e da justiça social, se dispõem a sacrificar a
própria vida. A Assembléia Legislativa de Minas Gerais as homenageia
pela sua luta em defesa de uma sociedade mais justa, onde os
direitos dos homens e das mulheres sejam uma realidade". Outras
receberam diplomas em reconhecimento por sua luta em defesa dos
direitos dos operários e dos negros, entre eles o cantor Maurício
Tizumba.
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