Deputados querem maior acesso de pobres e negros à
universidade
Em uma reunião conjunta das comissões de Educação,
Cultura, Ciência e Tecnologia e de Participação Popular, realizada
na tarde desta quinta-feira (20/11/03) dois deputados e três
deputadas debateram com estudantes e docentes universitários os
problemas de acesso de negros e estudantes pobres às universidades
públicas em Minas Gerais. A iniciativa foi da deputada Maria Tereza
Lara (PT).
O deputado André Quintão (PT), que presidiu a
reunião, abriu espaço para manifestação de lideranças negras
presentes na platéia, considerando que o 20 de novembro é o Dia da
Consciência Negra. O professor João Carlos Pio de Souza, do
pré-vestibular Palmares, falou sobre a expansão dos cursos populares
e alternativos para acesso à universidade, que estariam melhorando
os percentuais de negros entre os universitários. "No entanto, a
inclusão do negro não se dará pelas políticas universalistas, mas
pelo sistema de cotas. Os negros são 47% da população brasileira,
mas são apenas 2,9% nas universidades", afirmou.
Maria do Carmo Peixoto, da UFMG, discordou,
trazendo a informação de que, na última matrícula, 24% dos
universitários da UFMG se declararam negros. "Há cursos com 40 a 50%
de negros, e outros com apenas 8%. No curso de Engenharia Mecânica
diurno, 20% dos alunos são provenientes de escolas públicas. No
mesmo curso, oferecido à noite, o percentual sobe para 70%",
acrescentou.
A professora foi questionada também sobre os
recursos captados com a inscrição no exame vestibular, que custa R$
95,00 por pessoa. Cerca de 70 mil candidatos se inscreveram, e 48
mil pediram isenção. Apenas 12 mil foram deferidos. Mesmo assim,
mais de R$ 5,5 milhões serão arrecadados. A professora explicou que
esses recursos são usados para cobrir os custos do exame e o
restante é utilizado pela Fundação Mendes Pimentel para custear
alimentação e moradia para estudantes carentes.
Estudantes acham cara a taxa de R$ 95,00 da
UFMG
Gildásio Alves dos Santos, do Fórum Mineiro dos
Cursos Pré-Vestibulares Populares, protestou, dizendo que R$ 95,00 é
um valor que está fora da realidade dos candidatos carentes, e que
lhes está sendo violado o direito de tentar o vestibular. Santos
criticou também a UEMG, cujas unidades no interior ele considera
universidades privadas.
Leonardo Péricles, da Associação Metropolitana dos
Estudantes Secundaristas (AMES-BH), falou sobre os desafios para o
estudante carente, que começam com o pagamento da taxa do
vestibular, a manutenção na universidade e a luta no mercado de
trabalho. Péricles mencionou vários países onde não há vestibular, e
o grande acesso às universidades oferecido na Argentina e no México.
Para ele, os cursinhos atestam a incapacidade do ensino médio
brasileiro em preparar para as universidades.
O professor Vicente Oliveira disse que os
pré-vestibulares populares alternativos foram criados por Frei Davi,
no Rio, e logo trazidos para Minas pelo ex-reitor da UEMG, Aluísio
Pimenta. Dos nove implantados inicialmente, haveria cinco em pleno
funcionamento. Oliveira destaca o de Ituiutaba, que tem índice de
aprovação de 86,6% e é reconhecido até pela Fundação Ford.
Presenças: Deputados André
Quintão (PT), presidente e Weliton Prado (PT). Deputadas Maria
Tereza Lara (PT), Ana Maria Resende (PSDB) e Marília Campos (PT); a
professora Marília Sidney representou a UEMG.
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